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Damasco – O grupo de garotas iraquianas pula no palco do clube al-Rawabi, com seus longos cabelos negros balançando e suas faces cobertas de maquiagem. Perto do palco, uma mulher apelidada de At’outa inicia os seus encontros pagos – homens que pagam US$ 90 por uma noite de companhia e sexo.

O clube fica na região noroeste de Damasco, na Síria, e está no coração de um dos mais preocupantes aspectos da crise de refugiados iraquianos: mulheres e garotas iraquianas que acabam entrando na prostituição para sobreviver em países que concordaram em recebê-las, mas não oferecem oportunidades de emprego para elas nem para seus familiares.

Não existem dados estatísticos confiáveis sobre o número de prostitutas iraquianas na Síria, na Jordânia e em outros países do Oriente Médio. Mas o crescimento no número de mulheres iraquianas vistas nos últimos meses nos clubes noturnos e nas ruas de Damasco, Amã e outras cidades sugere que o problema está crescendo, à medida que milhares de iraquianos fogem da sua terra natal.

Mais preocupante ainda, para alguns grupos de defesa dos direitos humanos, é a possibilidade de que jovens estejam entrando no mercado ilegal da prostituição, ou sendo forçadas a isso pelas suas famílias, desesperadas para ajudar os seus parentes a sobreviver.

Ayman al-Halaqi, um gerente do clube, disse que as dançarinas iraquianas "custam menos" que as sírias. Ainda assim, em Damasco, uma mulher iraquiana pode ganhar dez vezes mais, em apenas um encontro, do que se trabalhar o dia inteiro como diarista. Empregos melhores estão fora de questão porque a Síria e a Jordânia geralmente recusam permissões de trabalho regular aos iraquianos.

No al-Rawabi, os clientes mais comuns são homens sírios e iraquianos. Bassam Abdul-Wahid, um iraquiano de 27 anos que comanda um comércio de importação e exportação em Damasco, é freqüentador habitual do clube. Sarcástico, ele diz que gosta que sua mesa seja "um exemplo da generosidade iraquiana".

Vida difícil

Há mais de um ano, a hoje prostituta At’outa (cujo apelido quer dizer "gatinha") fugiu do Iraque com um filho e duas filhas, depois de seu marido ter sido morto a tiros em Bagdá. At’outa é loira, tem olhos azuis e pouco mais de 35 anos. Ela diz que não tinha outro apoio familiar no Iraque e temia pela vida de seus filhos.

Tentou trabalhar como costureira e diarista, mas nunca conseguia dinheiro suficiente para sustentar a casa. No ano passado, um homem propôs cancelar uma dívida de US$ 250 em troca de sexo. Desde então, ela tem tido regularmente outros encontros no clube al-Rawabi, onde ganha dinheiro suficiente para pagar as contas.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) estima que cerca de 2 milhões de iraquianos fugiram para os países vizinhos desde 2003. Cerca de 50 mil fogem a cada mês, mas o êxodo tem perdido intensidade, à medida que a Síria e a Jordânia têm imposto limites para receber mais iraquianos.

Laurens Jolles, funcionário do Acnur em Damasco, diz que sua agência precisa encontrar um país que receba 20 mil refugiados iraquianos até o final do ano. Em meados de fevereiro, os Estados Unidos, responsáveis pela invasão do Iraque, anunciaram que permitiriam a entrada de somente 7 mil refugiados. Apenas na Síria, vivem 1,5 milhão de iraquianos fugidos da guerra.

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