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Manifestantes contrários à mudança: para primeiro-ministro, medida evitará uma guerra no Oriente | Thomas Peter / Reuters
Manifestantes contrários à mudança: para primeiro-ministro, medida evitará uma guerra no Oriente| Foto: Thomas Peter / Reuters

A Câmara dos Representantes do Japão aprovou ontem um polêmico pacote de reformas para fortalecer o Exército e permitir que as Forças Armadas possam atuar fora do país, o que invalida a cláusula pacifista da Constituição aprovada após o término da Segunda Guerra Mundial, em 1945.

Impopular

80% dos japoneses são contra a mudança aprovada ontem e dizem que as explicações do governo sobre o projeto são insuficientes. Metade do país considera a reforma inconstitucional. Milhares de pessoas protestaram contra o projeto na frente do parlamento, com cartazes com inscrições como “Fora Abe”, “Sem guerra, sem matança” e “Abandone as leis de guerra”.

A decisão tem apoio dos setores ligados à direta e ao primeiro-ministro Shinzo Abe e sofre forte oposição de setores da sociedade civil. O projeto, aprovado pelos deputados do Partido Liberal Democrata (PLD), de Abe, e aliados da coalizão governista, será enviado à Câmara dos Conselheiros, a câmara alta do parlamento japonês. A tendência é que o texto seja aprovado em definitivo em um prazo de 60 dias, já que o governo tem maioria na Casa.

A reforma, que representa a maior mudança em matéria de defesa feita pelo Japão desde a Segunda Guerra Mundial, gerou tanta revolta que o principal grupo de oposição, liderado pelo Partido Democrático, abandonou o plenário durante a votação. Eles acusam o governo de introduzir as reformas à força, sem que o debate necessário.

O líder da oposição, Katsuya Okada, classificou a votação como “uma mancha na democracia” japonesa. O artigo 9º da Constituição impede que o país recorra ao uso da força para resolver conflitos internacionais e não permite que as tropas auxiliem operações de aliados ou atuem fora do Japão.

As mudanças expandem o campo de ação das Forças Armadas, pois permitem que elas deem apoio logístico a países amigos; relaxam os limites para operações de manutenção da paz; e tornam mais fácil responder a incidentes de uma “zona cinzenta” que se aproxime de uma situação de guerra.

Opositores dizem que as revisões poderão envolver o Japão em conflitos liderados pelos EUA pelo mundo e violam o artigo 9º da Constituição pacifista elaborada pelos americanos após a Segunda Guerra Mundial.

Japoneses em Hong Kong em 1941: país tem histórico expansionistaReprodução

China

O projeto é um duro recado à China, que tem uma política expansionista no Oriente. O país vem construindo ilhas artificiais para servir de base no Mar da China, em áreas reivindicadas por Filipinas, Taiwan e Vietnã, Além disso, Japão e China são rivais históricos e se enfrentaram em duas guerras no século 20 (veja abaixo).

Shinzo Abe disse que a situação de segurança em torno do Japão está se tornando “cada vez mais difícil”. “A situação da segurança ao redor do Japão é cada vez mais grave”, disse Abe após a votação, em uma referência à China. “Estas leis são necessárias para proteger a vida dos japoneses e prevenir uma guerra antes que ela exploda”. Segundo ele, uma posição mais ousada na área da segurança, bem-recebida pelos EUA, é essencial.

A aprovação é uma das principais ambições de Abe, reeleito em dezembro, e faz parte do polêmico processo de reinterpretação da Constituição sancionado pelo governo no ano passado.

Acusado de cometer crimes de guerra na primeira metade do século passado, o Exército japonês só atuou fora do país uma vez desde 1945, com fins humanitários, no sul do Iraque, entre 2004 e 2006.

Expansionismo e crimes de guerra

O Exército Imperial japonês foi formado no século 19 e operou até 1945, quando o país se rendeu na Segunda Guerra Mundial. Confira:

Samurais

Entre os séculos 17 e 19 o Japão viveu sob uma ditadura feudal. Quem mandava eram os membros da família Tokugawa, protegidos por samurais.

Exército Imperial

Em 1868, forças que desejavam a restauração do Império afastam os Tokugawa do poder. Meiji Teinno assume como imperador e fica no poder até 1912. Neste período, cria o Exército Imperial japonês.

Guerra com a China

Em 1894, Japão e China entram em Guerra pelo controle da Coreia. Os japoneses vencem o conflito no ano seguinte. A China cede Taiwan e outros territórios.

Guerra com a Rússia

Japão e Rússia entram em guerra em 1904 pela disputa da Coreia e da Manchúria. Os japoneses saem vitoriosos em 1905 e despontam como potência militar.

militarismo

Na década de 1930, o Japão consolida a posição de potência militar e econômica. O país é altamente militarizado e tem uma polícia secreta.

Pacto com o nazismo

Em 1936, Japão e a Alemanha nazista assinam um pacto para combater o comunismo. Em 1940, um novo pacto alinha os dois países e a Itália fascista.

Novamente a China

Em 1937, Japão e China voltam à guerra. Os japoneses invadem a Manchúria e o território chinês e conquistam Xangai e Nanquim.

Crimes de guerra

O Exército japonês é acusado de cometer diversas atrocidades. Pelo menos 6 milhões de militares e civis chineses, coreanos, filipinos, indonésios e indochineses são assassinados. Os militares também são acusados de tortura, uso de armas químicas, saques e manutenção de escravas sexuais.

2ª Guerra Mundial

Em 7 de dezembro de 1941, a Marinha japonesa ataca a base americana de Pearl Harbor, no Pacífico. Os EUA declaram guerra ao Japão.

A derrota

Após o bombardeio atômico das cidades de Hiroshima e Nagasaki, o Japão se rende aos aliados e a Segunda Guerra Mundial chega ao fim. O país abre mão de manter as Forças Armadas. Em 1950, é criada a Força Terrestre de Autodefesa do Japão, que só pode atuar dentro do país.

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