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Senadores republicanos falam com repórteres após reunião do partido em 31 de julho | CHIP SOMODEVILLA/AFP
Senadores republicanos falam com repórteres após reunião do partido em 31 de julho| Foto: CHIP SOMODEVILLA/AFP

Em 2016, republicanos fizeram alertas contra o governo se envolver no mercado: qualquer interferência criaria injustiças e complicações. Eles eram contra o uso da máquina pública para resolver problemas criados pelo próprio governo. Aparentemente, não é mais esse o caso. 

O jornal The Washington Post relata: 

O Departamento de Agricultura dos EUA planeja anunciar na terça-feira um pacote emergencial de US$ 12 bilhões para ajudar fazendeiros prejudicados com as guerras comerciais do presidente Trump, de acordo com duas pessoas envolvidas no desenvolvimento do plano. Esse é o sinal mais recente de que as tensões crescentes entre os EUA e outros países não vão acabar tão cedo. 

Trump pediu para o Secretário da Agricultura, Sonny Perdue, para preparar diferentes opções há alguns meses, quando começaram a receber reclamações de fazendeiros de que os produtos sofriam com mudanças de tarifas como retaliação da China e outros países. Um novo pacote governamental de fundos para assistência será anunciado na terça-feira e deve entrar em vigência no Dia do Trabalhador.

O pacote é destinado para produtores de soja, leite e carne de porco, entre outros. O governo espera que a medida acalme os fazendeiros, mas o novo plano pode reavivar debates sobre resgates financiados com impostos e até que ponto a estratégia de Trump para o mercado vai prejudicar os cofres do país”. 

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Isso deveria acabar com as noções de que tarifas estão envolvidas apenas com “dinheiro de banco” e que não fazem diferença para os EUA. Na realidade, tarifas são impostos e impostos tão destrutivos para os fazendeiros que se veem na necessidade de diminuir seu mercado, o que causa um dano econômico real. A solução de Trump não é acabar com sua guerra comercial, mas usar mais impostos para remediar a situação dos fazendeiros, que só existe porque ele mesmo colocou em prática uma nova taxa. Esse é o estado da economia republicana. 

O financista Steven Rattner, conselheiro do governo Obama, me disse: “eu achava que os republicanos deveriam ser contrários a gastos desnecessários do governo. Isso é a síntese de um erro espontâneo. E para que o secretário da agricultura chame as tarifas retaliatórias de ilegais quando são as nossas tarifas que são ilegais, quer dizer que entramos pela toca do coelho”. Rattner não é o único que pensa assim. 

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Dan Ikenson, do Instituto Cato, me disse: “o único fator real restringindo a execução da guerra de mercado de Trump é a probabilidade de que os estados republicanos abandonem a causa e se voltem contra ele. Ajudar os fazendeiros diminui essa preocupação”. Mas é pouco provável que esse seja o fim dessa história.

“O próximo passo deve ser um incentivo a indústrias que compram aço e alumínio”, alerta Ikenson, “e haverá pouco para parar Trump na sua guerra”. Ikenson acrescenta ainda que esse “governo inchado” é resultado do protecionismo. Ainda assim, “um governo inchado não é tabu para Trump. Ele não poderia se importar menos. Isso é apenas uma compra de votos populista – ou insegurança quanto a possíveis mudanças de voto”. 

Colocado de maneira mais simples, “você cria uma política terrível que acaba com os fazendeiros, então você cria benefícios para eles, e precisamos pegar dinheiro emprestado de outros países para isso”, disse o senador republicano Bob Corker para repórteres. “É difícil acreditar que não há uma revolta no Congresso ainda”. Bem, não é tão difícil acreditar considerando-se o quão covardes são os colegas de Corker. 

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O Freedom Partners, grupo de mercado livre dos irmãos Koch, me enviou um e-mail sobre a situação. “A administração está pronta para projetar um déficit de US$ 1 trilhão para o ano fiscal de 2019, então esse novo gasto de US$ 12 bilhões viria emprestado da China. Pegar dinheiro emprestado da China para financiar as vítimas da nossa guerra comercial contra a China é uma política contraproducente”. O grupo defende que “em um mercado competitivo, indivíduos e empresas devem guiar as decisões de comércio, não burocratas do governo ou políticos. Medidas punitivas como tarifas e cotas prejudicam principalmente consumidores, trabalhadores e negócios e deveriam ser eliminadas. Subsídios e outras formas de apoio governamental para empresas e indústrias poderosas e conectadas politicamente não geram valor. Eles punem consumidores, isolam empresas da competição de mercado e também devem ser eliminados”. É urgente que “disputas de mercado sejam resolvidas por meio de acordos e organizações internacionais de mercado”. 

Para republicanos que votaram em Trump pelas promessas de redução de impostos, as tarifas são um desafio de coerência (considerando que eles se importam com isso). Tarifas são impostos. São a essência de se escolher vencedores e perdedores. Para ir em frente, Trump está disposto a gastar dinheiro e aumentar o governo. Republicanos se tornaram o que antes criticavam – o partido do ‘governo inchado’, de regulação antimercado e de um grande déficit.

*Jennifer Rubin escreve o blog Right Turn do Washington Post, oferecendo uma opinião de uma perspectiva de centro-direita.
Traduzido por Gisele Eberspächer.
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