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Haitianos disputam pacote de água em ponto de distribuição: história sofrida do país atrai a simpatia dos doadores | Jorge Silva / Reuters
Haitianos disputam pacote de água em ponto de distribuição: história sofrida do país atrai a simpatia dos doadores| Foto: Jorge Silva / Reuters

Bush e Clinton se juntam a Obama para atrair ajuda

Folhapress, em São Paulo

O presidente americano, Barack Obama, anunciou ontem, ao lado dos seus antecessores George W. Bush e Bill Clinton, a criação de um site para receber doações em di­­­nheiro dos americanos para as vítimas do terremoto no Haiti. A pedido de Obama, o democrata Clinton e o republicano Bush vão liderar uma campanha nacional para ar­­re­­cadar dinheiro de cidadãos, or­­ganizações e empresas.

"Sei que muita gente quer mandar água, comida. O que o presidente vai fazer é ter certeza que (o dinheiro) vai ser bem gasto", disse Bush.

Clinton, enviado especial das Nações Unidas para o Haiti, disse que conhecia muitos dos mortos na tragédia e inclusive fi­­cou em hotéis que desabaram di­­ante da força do tremor.

"Que­­re­­mos fazer o que fizemos no tsunami (de 2004, na Ásia), queremos um lugar no qual as pessoas saibam que seu dinheiro será bem gasto", disse Clinton.

Obama agradeceu os dois ex-presidentes pelo que disse ser um esforço "extraordinário" e disse que será um enorme desafio distribuir ajuda de maneira rápida e segura aos haitianos.

Contas abertas

Confira abaixo a lista de entidades que estão arrecadando doações para as vítimas do Haiti:

Doações podem ser feitas em contas do BB e Viva Rio:BB / Ag. 1606-3 / cc. 91.000-7BB / Ag. 1769-8 / cc. 5113-6

Campanha SOS Haiti da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB):Bradesco / Ag. 0606 / cc. 70.000-2CEF / Ag. 1041 / cc. 1132-1BB / Ag. 3475-4 / cc. 23.969-0

Cruz Vermelha:www.icrc.org

ONU:www.un.org/en/ (link está no lado direito da página, no tópico In Focus)

Oxfam:www.oxfam.org.uk

International Rescue Committee:www.theirc.org

Médicos Sem Fronteiras:www.msf.org.br

CARE Internacional Brasil:Real-Santander / Ag. 0373 / cc. 5756365-0

Pastoral da Criança:HSBC / Ag. 0058 / cc. 12.345-53BB / Ag. 1244-0 / cc. 23.889-9

Ação Social do Paraná:Caixa Econômica FederalAG. 1633 C/C 207-0CNPJ. 76.712.918/0001-25

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Até o próximo sábado, US$ 0,50 do valor de cada sanduíche Big Mac será doado à causa haitiana. O lanche da rede McDonald’s, antigo símbolo do "imperialismo" norte-americano, se tornou parte da on­­da de solidariedade que se espalha pe­­­lo mundo desde terça-feira, dia da catástrofe no Haiti.

As iniciativas em prol das vítimas são realizadas por diferentes meios, organizações, mídias e pessoas. Desde governos e organismos internacionais até associações de moradores e grupos de amigos, o chamado à solidariedade reflete a comoção pelo drama do país.

As maiores quantias serão doadas por Banco Mundial, Fundo Mo­­ne­­­­tário Inter­­nacional, Estados Uni­­­­dos (US$ 100 milhões cada) e Organização dos Estados Ameri­ca­­nos (US$ 170 milhões). So­­madas às ajudas de outros países e instituições, o fundo de auxílio ao Haiti alcança aproximadamente US$ 600 mi­­lhões. Este valor cobre os US$ 550 milhões estimado pela ONU para atender às necessidades imediatas da população, como comida e água. Porém ainda é insuficiente para pôr em prática qualquer plano de reconstrução do Haiti.

Con­­tribuições individuais e de ONGs lideram a lista de repasses não go­­vernamentais. Em geral, o dinheiro é aglutinado em pequenos fundos, como os comandados por igre­­jas e em­­presas, e reencaminhado para fundos maiores.

Algumas iniciativas chamam a atenção. A modelo brasileira Gi­­se­le Bündchen doou US$ 1,5 mi­­lhão – mais do que a China. O go­­­­­­­­­­­­­­­­verno cu­bano, costumaz crítico dos EUA, autorizou a passagem de aviões americanos por seu espaço aéreo. Até bancos de Wall Street, que há um ano recorriam a aportes bi­­li­­o­ná­­ri­os para não quebrar por causa da crise, in­­­tegraram o esforço hu­­­­­ma­­ni­tário. Morgan Stanley, Bank of Ame­­­­rica e Goldman Sachs doaram US$ 1 milhão cada para a Cruz Ver­­me­­lha norte-americana e os Mé­­di­­cos Sem Fron­tei­ras.

No Brasil, o dinheiro para o Hai­­ti está sendo arrecadado através de contas do Banco do Brasil, da ONG Viva Rio e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. O governo fe­­­deral prometeu uma doação de US$ 15 milhões. No Paraná, entida­­des governamentais, movimentos sociais e instituições da so­­­ciedade civil se uniram para direci­­onar os apelos à conta da Ação So­­­cial do Paraná (veja no box como doar).

A cientista política Maria Lúcia Victor Barbosa, professora aposentada da Universidade Estadual de Londrina, percebe existir um sentimento de solidariedade maior do que o provocado por outras tragédias recentes. "Parece estar havendo uma disputa política para ver quem aparece como o maior benfeitor", entende. No entanto, ela te­­me pelo bom uso desses recursos. "Se não houver uma administração rigorosa e forem definidas as prioridades para este dinheiro, há, inclusive, o risco de desvios."

Esse temor se estende aos doadores, coforme indica análise do Serviço de Rastreamento Finan­­ceiro, banco de dados de doações humanitárias globais mantido pela ONU. Dos 119 grupos que efetivamente repassaram dinheiro ao Haiti, somente os governos da Suí­­ça e da Guiana e o Banco In­­terame­ricano de Desenvol­­vi­­mento o fizeram diretamente ao Estado. Em regra, as emissões são feitas via Na­­­ções Unidas ou agências humanitá­­rias do país doador. Reflexo do al­­­­to índice de corrupção no Hai­­ti, apenas o 168.º no ranking da Trans­pa­rência In­­ternacional.

Maria Lúcia ressalta também a possibilidade de a intensidade das doações diminuir à medida em que a tragédia vai deixando de ser uma novidade. "A tendência é que deva acontecer um esvaziamento", prevê. Os próprios haitianos so­­freram recentemente com esse desinteresse. Para as vítimas do fu­­racão Gustav, que atingiu o país em 2008, foram pedidos US$ 121 milhões e doados US$ 73 milhões – ou 60,5%.

Agora, há dois fatores que tendem a ampliar a on­da de doações, diz Lucia­na Worms, professora de geopolítica do grupo Positivo: a simpatia mundial pelo historicamente vitimizado Haiti e a morte de Zilda Arns, benemérita reconhecida in­­­terna­cionalmente.

"O Haiti tem um dos piores ín­­­dices de desenvolvimento humano do mundo. Há um carinho muito grande por um país que, no sé­­­cu­­lo 19, conseguiu romper com o go­­­verno francês e, no século 20, apostou na democracia e sofreu com uma ditadura cruel. O mundo quer compensar os haitianos por terem sofrido tanto", diz. "Além disso, a morte de Zilda Arns sensibilizou não apenas o Brasil, mas todo o mundo".

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