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Método para o fechamento de Chernobyl foi o do encapsulamento: mais barato e mais grosseiro | Sergei Supinsky/AFP
Método para o fechamento de Chernobyl foi o do encapsulamento: mais barato e mais grosseiro| Foto: Sergei Supinsky/AFP

Perigo

Radiação no mar de Fukushima é 1.250 vezes maior que o normal

A concentração de iodo radioativo na água do mar próxima à usina nuclear de Fukushima é de 1.250 vezes superior ao limite legal. A informação é da Agência de Segurança Nuclear do Japão. O índice atual representa que, se um adulto bebesse meio litro desta água, receberia uma radioatividade de 1 milisievert, o equivalente ao limite anual do que se pode absorver. "É um índice muito alto", disse um porta-voz da agência. O nível registrado anteriormente era de 140 vezes superior ao limite.

Operários dão prosseguimento aos esforços para restabelecer o sistema de resfriamento dos reatores, danificado pelo devastador terremoto e o posterior tsunami que em 11 de março assolaram o nordeste do Japão.

Os altos níveis de radioatividade em água acumulada em vários locais da central fez com que dois operários fossem hospitalizados e impediu a continuação dos trabalhos para ativar as bombas de água.

A empresa operadora da usina planeja como retirar a água contaminada das salas de turbinas de vários reatores. Enquanto isso, continua a injetar água a partir de caminhões para evitar um superaquecimento.

Nas últimas horas, também ontem começou a ser feito o lançamento de água doce sobre as unidades 1 e 3, em vez de água do mar, para evitar que o sal cristalizado bloqueie válvulas e encanamentos. Durante o sábado, o mesmo procedimento foi realizado no reator 2, que deve voltar a ter eletricidade, ao menos parcialmente, em sua sala de controle, algo que já acontece nos reatores 1 e 3. O reator 3 é considerado o mais perigoso, já que é o único que, além de urânio, contém plutônio.

Evitar o pior

Em seu primeiro pronunciamento público nos últimos sete dias, o primeiro-ministro do Japão, Naoto Kan, disse que a situação do vazamento nuclear na usina número 1 de Fukushima ainda está longe de ser resolvido e que o governo permanece vigilante, embora os esforços concentrem-se em "evitar que o problema fique pior".

"Estamos nos esforçando para evitar que a situação piore, mas sinto que não podemos nos tornar complacentes. Precisamos continuar vigilantes", disse Kan. "A situação hoje na usina de Fukushima ainda é muito grave e séria. Não estamos numa posição em que podemos ser otimistas. Devemos tratar cada desdobramento com cuidado extremo", complementou.

Folhapress

Popularizadas nas décadas de 1960 e 1970, as usinas nucleares foram pensadas como uma poderosa fonte de energia e uma alternativa à dependência do combustível fóssil. Pouco se refletiu, porém, sobre o que seriam delas 30 a 40 anos depois, amplitude de sua vida útil. Ago­­ra, o mundo corre para en­­con­­trar soluções seguras para o desmantelamento das unidades. A própria indústria da energia nuclear, sob pressão após o acidente no Japão, precisa primeiro provar que pode dar conta de seu lixo tóxico para depois garantir a continuidade dos negócios.

Em muitos casos, o tempo para desativar completamente uma usina nuclear ultrapassa sua própria vida útil. Segundo a Agência de Usina Nuclear (NEA, na sigla em inglês), o local onde foi instalada uma unidade nuclear pode demorar até cem anos para ser útil para outro empreendimento, caso o nível de radiação na região não retorne aos níveis normais. A Agência Internacional de Energia Atô­­mica (AIEA) recomenda três métodos para o desligamento das usinas.

O primeiro e mais usado é o desmantelamento, em que partes do reator são removidas e descontaminadas logo após o fechamento da usina. O logo após, neste caso, pode durar al­­guns anos – tempo necessário para o resfriamento dos radionuclídeos (átomos que emitem radiação). Os resíduos radiativos são então tratados, embalados e armazenados em um local seguro – às vezes no fundo do mar. Após a descontaminação, os equipamentos e partes do prédio também podem ser removidos.

A segunda opção é chamada de armazenamento seguro, que pode levar até cem anos. A unidade é mantida intacta enquanto os radionuclídeos perdem sua força naturalmente. A terceira opção é o "seputalmento", método utilizado especialmente nas plantas que foram palco de um acidente nuclear, como Chernobyl. Basi­­camente, a usina é encapsulada por uma caixa gigante de concreto e aço. "Quando a usi­­na já está contaminada, é preciso dar um jeito de isolá-la, de modo que daqui a cem anos você continue sem acesso a ela", explica o físico e professor emérito da Unicamp Rogerio Cesar de Cerqueira Leite. "É a solução té­c­­nica mais grosseira e barata, e tem sido a estratégia nas usinas problemáticas."

Segundo ele, algumas partes da usina são reutilizáveis, mas outras precisam ser isoladas e armazenadas em locais seguros. "Depois de 40 anos, os materiais são muito agredidos e estão muito contaminados. Quase tudo se perde."

Custo

O custo do processo de desativação de uma usina é tão alto que nos Estados Unidos a agência responsável por regulamentar o setor de energia nuclear obriga as empresas a guardar dinheiro para o processo pós-vida útil das usinas enquanto elas ainda são rentáveis. A usina de Maine Yankee, nos EUA, por exemplo, custou US$ 231 milhões para ser construída. Para fechar, foi três vezes esse valor. Um instituto americano estima que o custo do fechamento de uma usina que funciona por 40 anos é de 0,2 centavos de dólares para cada kilowatts/hora produzido.

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