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Curitiba – Quando George W. Bush anunciou a mudança da política dos EUA para o Oriente Médio, pondo a democracia à frente da estabilidade, os soldados norte-americanos partiram para duas guerras – Afeganistão e Iraque –, carregando uma causa específica: a instauração de governos democráticos. Mas como afirma o jornalista inglês radicado nos EUA Andrew Sullivan, "a democracia não é incompatível com o terror islâmico."

A eleição do primeiro-ministro da Autoridade Palestina (AP), Ismail Haniye, do grupo Hamas, no início deste ano, é um exemplo da chegada ao poder, por voto popular, de uma organização tida como terrorista pelas potências ocidentais e por Israel.

Na última semana, a Faixa de Gaza foi tomada por uma escalada de violência entre o Hamas e o Fatah, partido do presidente da AP, Mahmoud Abbas. Até agora, dezenas de pessoas morreram e centenas ficaram feridas nos confrontos entre as facções.

Desde a eleição de Haniye, os dois grupos têm fracassado na tentativa de formar um governo único. O laico Fatah, fundado no fim dos anos 1950 por jovens estudantes palestinos, dentre eles Yasser Arafat, participou em 1993 do acordo de paz de Oslo, que resultou na criação da Autoridade Palestina e no reconhecimento do Estado judeu pelos palestinos. O Hamas, por outro lado, não aceita a existência de Israel e vê na luta armada a melhor maneira de reaver a terra da Palestina pré-1948. "O Hamas, assim como o Hezbollah, surgiu nos anos 1980, fortemente influenciado pela Revolução Iraniana de 1979 (quando o aiatolá Khomeini transformou o Irã de monarquia autocrática pró-Ocidente em república teocrática islâmica)", afirma o pesquisador da questão árabe-israelense da Universidade de Brasília (UnB), Anderson Batista. "O que acontece é que Arafat e o Fatah sempre tiveram facilidade em controlar os grupos políticos palestinos. Ainda que com alguns problemas, isso vinha funcionando até esse ano, quando o Hamas chegou ao poder", diz Batista.

O presidente Abbas convocou eleições antecipadas, esperançoso de que seu partido saia vitorioso, beneficiado pelo descontentamento da população com a crise. Dependendo fortemente da ajuda internacional, os palestinos vêm sofrendo, desde janeiro, com o embargo imposto pela comunidade internacional após a vitória do Hamas nas eleições legislativas.

O Hamas considera o pedido de Abbas um "golpe" e se recusa a participar das eleições antecipadas.

Para o professor de Direito GV, da Fundação Getúlio Vargas, Salem Nasser, "o braço de ferro em torno das eleições pode ser disputado na arena política se as partes puderem estabelecer um cessar fogo e mantê-lo." Até agora, apesar da relativa vontade política de ambos os lados, o cessar-fogo não encontrou respaldo popular.

Segundo o coordenador do Núcleo de Análises de Conjuntura Internacional da PUC-SP, Paulo-Edgar Almeida Resende, "a paz regional se torna improvável à medida que o radicalismo não está apenas do lado do Hamas". Resende diz que Israel também tem se mostrado intransigente e intervencionista, com ações desmedidas, como na recente invasão do Líbano. Até mesmo a intervenção norte-americana no Iraque, afirma, contribui para reduzir as chances de paz entre os palestinos.

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