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A decisão da assessora jurídica da Casa Branca, Harriet Miers, de retirar sua nomeação à Suprema Corte poupou o presidente George W. Bush de uma derrota certa no Congresso mas não diminuiu os problemas do líder norte-americano na pior hora de seus quase cinco anos de governo.

Para Bush, que enfrenta a partir de hoje a real possibilidade de ver sua credibilidade e a eficácia de seu governo comprometidas pelo indiciamento criminal de um ou mais de seus assessores mais graduados pelo vazamento da identidade de uma agente do serviço clandestino da CIA, o colapso da candidatura de Miers ao tribunal máximo é uma humilhação pessoal, pois envolve uma advogada escolhida pela única razão de ter sido ao longo dos últimos dez anos uma leal servidora do presidente. É, também, um tropeço político considerável precipitado por uma rebelião da base política de Bush e deixa o presidente diante da difícil tarefa de nomear um novo candidato que possa ser confirmado sem aprofundar ainda mais as divisões nas hostes conservadoras.

Reprovada pelos senadores nos exames escrito e oral que fez, primeiro ao submeter respostas absolutamente simplórias nos formulários sobre suas qualificações para ser juíza da mais alta corte, e depois nas conversas que teve com vários deles, Miers anunciou sua desistência um dia depois de um grupo formado por ideólogos neoconservadores e porta-vozes da ultradireita religiosa investirem publicamente contra sua nomeação com um anúncio de televisão que denunciou sua falta de preparo.

Na carta que enviou a Bush, Miers procurou disfarçar sua embaraçosa decisão numa questão de princípio. Ela escreveu que a entrega de documentos que os senadores pediram sobre seu trabalho na Casa Branca, para melhor avaliar sua qualificações para ocupar uma das nove vagas vitalícias do Supremo, comprometeria o privilégio que protege certos documentos do executivo. Sempre fidelíssima a Bush, ela escreveu que, nessa condições, o processo de confirmação "representa um ônus para a Casa Branca e e para o nosso staff que não é do interesse do país".

Bush disse que aceitou a decisão de sua assessora "relutantemente" e procurou limitar os danos causados pelo episódio. "Nomeei Harriet Miers para a Suprema Corte por causa de sua extraordinária experiência como advogada, seu caráter e sua filosofia jurídica conservadora", disse ele, num comunicado. "Compreendo e compartilho sua preocupação sobre o atual estado do processo de confirmação" no Senado. "Está claro que os senadores não ficariam satisfeitos enquanto não tivessem acesso a documentos internos sobre conselhos (que ela deu) em seu trabalho na Casa Branca, cuja revelação minaria a capacidade do presidente de receber conselhos francos". A afirmação parece afastar da lista de possíveis nomeados o secretário da Justiça, Alberto Gonzalez, que chegou onde está graças à sua associação pessoal e política a Bush.

Num prelúdio da batalha que um Bush politicamente enfraquecido enfrentará para encontar um nome viável para assumir a vaga da juíza Sandra Day O’Connor, que anunciou sua aposentadoria mas esperará pela escolha do sucessor, os democratas acusaram o presidente de ter se rendido aos radicais de sua base. "A direita radical do Partido Republicano matou a nomeação de Harriet Miers", afirmou o líder da minoria oposicionista no Senado, Karry Reid, de Nevada, que a havia recomendado a Bush. Analistas republicanos disseram que o presidente satisfará a ultradireita ao escolher um novo nome para a Suprema Corte. Sem controle de sua bancada, em baixa nas pesquisas e ameaçado de ter seu poder efetivo esvaziado pelo conjunto de problemas que enfrenta, Bush corre, porém, o risco de enfrentar deserções entre os moderados republicanos e não conseguir romper manobras de obstrução parlamentar que os democratas certamente usarão para bloquear candidatos da ultradireita para o Supremo.

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