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Desenvolvimento

Desmatamento insustentável

Desflorestamento da Amazônia gera riquezas no curto prazo, mas nível de desenvolvimento volta a cair após uma década, afirma estudo

Boi em região na Amazônia: pecuária e agricultura em áreas desmatadas não são sustentáveis no longo prazo. Novas áreas abertas na floresta atraem pessoas pobres e sem terra de todo o país, mas em poucos anos o ciclo econômico é interrompido | Alexander Lees/Reuters
Boi em região na Amazônia: pecuária e agricultura em áreas desmatadas não são sustentáveis no longo prazo. Novas áreas abertas na floresta atraem pessoas pobres e sem terra de todo o país, mas em poucos anos o ciclo econômico é interrompido (Foto: Alexander Lees/Reuters)

O desflorestamento da Amazônia visando à agricultura e à pecuária não traz benefícios econômicos e sociais no longo prazo, afirma um novo estudo publicado ontem pela revista Science. A pesquisa desfaz o popular argumento de que o desmatamento – responsável por 20% da emissão de gás estufa no mundo – produz crescimento econômico.

Ambientalistas descobriram que as comunidades se desenvolvem rapidamente em terras recém-desmatadas, mas o nível de crescimento volta a ser abaixo da média nacional assim que os madeireiros vão embora e os recursos locais se esgotam.

"Apesar da ideia generalizada de que o desmatamento é o preço a ser pago pelo desenvolvimento, nós descobrimos que na verdade o desenvolvimento é transitório, não representa uma melhora sustentada do bem-estar das pessoas", disse a principal autora do estudo, Ana Rodrigues.

De um modo ideal, os cientistas teriam estudado a derrubada da Amazônia ao longo do tempo. Em vez disso, eles foram a 286 localidades em estágios variados do ciclo de desmatamento, desenvolvimento e declínio.

Os cientistas monitoraram indicadores-chave de prosperidade – renda, educação e saúde – entre os habitantes das áreas destruídas da Amazônia. "Nós comparamos esses dados em diferentes estágios do ciclo de desmatamento: antes do início, no meio e depois de já ter acabado", disse a pesquisadora.

O processo normalmente funciona assim: primeiro, pessoas pobres e sem terra de todo o Brasil se dirigem a lugares onde o corte inicial de árvores acontece, recebendo uma rápida quantia de dinheiro e obtendo uma melhora na qualidade de vida. O comércio de madeira rapidamente dá lugar à agricultura e à pecuária. No começo, a terra é fértil e produtiva, mas logo entra em declínio. Já sem madeira para vender, os habitantes da região escolhem entre ficar nas terras que ou partir para outra fronteira de desmatamento.

"Nós acreditamos que o impulso que nós vemos, a rápida expansão... na renda, na saúde e na educação, acontece porque as pessoas estão explorando rapidamente recursos naturais que não estavam acessíveis antes", disse Ana Rodrigues.

Mesmo quando a agricultura é implementada, só no início ela é produtiva. "Muitas regiões cultiváveis só são produtivas nos primeiros anos. Uma vez que não são mais, você perde uma das fontes de renda", diz Rob Ewers, do Departamento de Cincia do Imperial College London. O problema se agrava porque a população nessas áreas costuma aumentar muito – pessoas atraídas pelo boom inicial. Com mais gente e menos recursos, a qualidade de vida também volta a cair.

Segundo o estudo, os benefícios do desmatamento duram no máximo entre 12 e 16 anos. Para Adalberto Veríssimo, pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e coautor do estudo, para alterar o padrão de economia baseada no uso predatório dos recursos naturais, o governo precisa arbitrar. "Se deixar por conta do mercado, vai se manter o ‘boom-colapso’, porque alguns ganham no curto prazo."

De acordo com ele, a exploração de madeira rende por cerca de dez anos, e a pecuária em área desmatada, que tem solo pobre, por cinco anos.

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