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Grupo de jovens mexicanos caminha ao longo da fronteira com os EUA, no deserto de Sonora, estado do Arizona | John Morre/AFP
Grupo de jovens mexicanos caminha ao longo da fronteira com os EUA, no deserto de Sonora, estado do Arizona| Foto: John Morre/AFP

Mudanças

Migrantes ficam perto de casa

Novas pesquisas da Universidade da Califórnia em San Diego sugerem que um número maior de migrantes internos está se mudando para áreas mais próximas de casa, ao invés de ir para estados próximos à fronteira ou à capital.

Vinte por cento das pessoas que deixaram o vilarejo de San Miguel Tlacotepec, no norte do país, entre 2001 e 2011, ficaram no estado de Oaxaca, de acordo com a pesquisa da Universidade. No período de 1997 a 2007, apenas dez porcento dos migrantes ficaram no estado.

Mas, como o dinheiro, o padrão migratório das pessoas é fluido e pode mudar rapidamente de direção.

Jovens mexicanos apostam que a educação irá permitir que eles consigam melhores empregos em sua terra natal nos próximos anos. Porém, o demógrafo David Fitzgerald diz que, no momento, "seus sonhos não condizem com as oportunidades".

Economia

Cidadezinha mexicana experimenta revolução

Atzompa, no México, parece ter chegado ao limite. O governador Cue afirma que a urbanização é uma das maiores prioridades do atual governo, que está tendo dificuldades em controlar o crescimento da população. Pouquíssimas ruas de Atzompa são asfaltadas e a principal escola da cidade, construída para abrigar 120 alunos, tem cerca de 700 matriculados. As aulas de educação física acontecem na rua de terra em frente à escola.

A economia de Atzompa também mudou, mas não necessariamente para melhor. Trabalhadores da construção civil afirmam que o aumento da concorrência fez o salário cair de 14 dólares por dia há cinco anos, para 11 dólares atualmente. Já o preço dos terrenos dobrou, para 7.200 dólares em média.

Na marcenaria de Espiritu, o assunto dominante das conversas aponta para alguns dos problemas do futuro. "Com a urbanização, há muito trabalho que precisa ser feito, mas o que vai acontecer quando o serviço acabar?", questionou Sergio Morales, que veio encomendar uma porta para sua casa.

Uma possibilidade otimista, ele disse, seria que o declínio da migração para os Estados Unidos levasse os mexicanos a estudar, trabalhar e, aos poucos, estabelecer empresas no país, ao invés de procurar salários mais altos nos Estados Unidos.

Ao olhar para a cidade, os mais velhos só veem recém-chegados: jovens mexicanos trabalhando na construção civil e forçando os salários para baixo; os filhos dos trabalhadores enchendo as escolas; novas empresas, lojas, restaurantes e clubes de striptease, surgindo em ruas que já foram escuras e silenciosas.

O choque deve ser o mesmo vivido por incontáveis cidades americanas que precisaram lidar com a imigração. Mas esse é o caso de uma aldeia mexicana pré-colonial na região da cidade de Oaxaca, que agora está se en­­chendo de jovens mexicanos vindos de outras regiões. Quando o assunto é a chegada dessa nova população, o número de caretas é igual ao de sorrisos.

"Antes de chegar todo esse povo, era tudo muito tranquilo", afirma Marcelino Juarez, de 61 anos, artesão do mercado de ce­­râmicas do local. "Eles só trazem problemas. Não trazem benefícios."

Em todo México e em boa parte da América Latina, os padrões migratórios estão mudando. Um número maior de cidades e países da região se transformou em destino dos mais inquietos, cri­­ando um conflito entre antigos e novos moradores, aumentado a pressão para a criação de novos postos de trabalho e obrigando os países a reverem suas políticas migratórias, por vezes para encorajar essa tendência.

Os Estados Unidos não são mais um imã, como eram antigamente. Em 2011, as prisões na fronteira dos Estados Unidos che­­ garam aos mesmos níveis de 1972, comprovando que a imigração ilegal, em especial vinda do México, atingiu o ponto que os especialistas descrevem como uma longa pausa ou mesmo o fim de uma era.

Contudo, o que mudou não foi o número de migrantes, mas sua direção. De acordo com os dados do censo mexicano, o nú­­mero de mexicanos que viviam longe de suas cidades natais em 2010 aumentou em cerca de dois milhões, em comparação com a década anterior.

Especialistas afirmam que o número de mi­­grantes na Guate­­mala, em El Salvador, no Peru e em outros países latino-americanos tradicionalmente marcados pela migração também não mudou nos últimos anos.

Os mexicanos, por exemplo, começaram a evitar os Estados Unidos e a região fronteiriça, bem como sua própria capital, e passaram a procurar espaço em cidades menores e mais seguras como Mérida, Cidade de Oaxaca e Queretaro.

Bússola

No sul, a pressão tem aumentado no Chile, na Argentina e no Bra­­sil. Esse novo movimento está mudando os contornos da re­­gião, que, ao invés de ser uma bússola sempre apontando para o norte, se tornou um centro que irradia para diversas direções. Do cultivo de mamão feito pelos bolivianos na Argentina à exploração de trabalhadores ilegais no Chile, passando pelos conflitos contra o governo local no sul do México, a migração inter-regional na América Lati­­na constitui um desafio e uma surpresa para uma parte do mundo que estava acostumada a se preocupar com o número de cidadãos que partiam para os Estados Unidos.

"É como se um rio mudasse seu curso", afirmou Gabino Cue Monteagudo, governador de Oa­­xaca. "Faz parte do processo de desenvolvimento. É algo inevitável."

Para os Estados Unidos, a mu­­dança significa um número menor de migrantes cruzando as fronteiras ilegalmente e, possivelmente, o acirramento do de­­bate sobre a verba destinada ao controle da imigração.

Jovens buscam cidades maiores para estudar

Demógrafos e especialistas afirmam que, enquanto mantêm o movimento de urbanização, os migrantes estão tornando a América Latina um lugar mais integrado e metropolitano. Cer­­ca de 77% dos mexicanos vivem hoje em áreas urbanas. Em 1980, eram 66%.

De acordo com funcionários do governo, isso facilita a existência de serviços e os torna mais baratos, incluindo saúde, água e energia. Para os migrantes, a educação parece ser o mo­­tivo principal. No estado pobre de Oaxaca, escolas que vão além do segundo grau são raras nas cidades das montanhas, e muitos jovens afirmam que vão para cidades maiores para estudar ou porque um parente foi estudar.

Gabriel Hernandez, 21 anos, conta que quatro de seus irmãos se mudaram para estudar dez anos atrás. Alguns se formaram, outros não, mas, há cerca de um ano, a família abriu um pequeno comércio onde vende produtos de sua terra natal, nas montanhas do norte.

Felizes

Hernandez e muitos outros novos moradores de Atzompa, oriundos de Oaxaca, Veracruz, da Cidade do México e de outros lugares, afirmam que estão felizes com o rumo das coisas.

O nível de pobreza em At­­zom­­pa continua muito alto e os mo­­radores mais antigos reclamam do grande número de jo­­vens com valores diferentes dos seus.

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