Montevidéu O dialeto português falado por moradores da fronteira entre Brasil e Uruguai corre sério risco de extinção até 2100, segundo a Academia Nacional de Letras uruguaia. "Por enquanto o português no Uruguai está vivo, mas não acredito que daqui a 100 anos continue existindo", disse na quarta-feira o vice-presidente da Academia Nacional de Letras do Uruguai, Adolfo Elizaincín.
Ele participará de uma palestra sobre o ensino do espanhol no Brasil durante o 4.º Congresso Internacional da Língua, que ocorrerá de 26 a 29 de março na cidade colombiana de Cartagena.
O acadêmico explicou que há 30 anos considerava que havia quatro variedades do português no Uruguai, mas que, atualmente, há um consenso em entender que só existe uma, chamada Dialeto Português do Uruguai (DPU).
O DPU tem "um centro histórico de irradiação", na cidade uruguaia de Rivera, na fronteira com a gaúcha de SantAna do Livramento. "O português usado na região é arcaico e foi sobreposto pelo espanhol para criar o dialeto atual", explicou.
O dialeto é falado por pessoas de nível socioeconômico baixo e a maioria delas é formada por camponeses que vivem nas áreas agrícolas. "Na metade do século 19 as autoridades uruguaias se deram conta do fenômeno e estabeleceram municípios com colonos e escolas com o objetivo de hispanizar, mas não conseguiram", disse o estudioso. "O projeto não teve êxito e a mistura foi acentuada, mas a base continua sendo portuguesa porque é transmitida de geração para geração", acrescentou.
Nunca foi realizado um censo para determinar o número exato de pessoas que falam o DPU, mas Elizaincín calcula que não deve haver mais de 20 mil a 25 mil falantes.
Regionalismo
Na prática, um dos principais problemas enfrentados pelo DPU é ser um dialeto exclusivamente oral. "Embora atualmente haja uma espécie de regionalismo, com cantores e poetas que começam a usá-lo em uma nova busca de identidade, mas é algo bem reduzido", afirmou o catedrático.
Elizaincín considera que o DPU está ameaçado por duas correntes que parecem impossíveis de frear: a universalização do ensino, que é em espanhol; e o crescente êxodo rural. Esse fato fará com que o DPU, que ainda se mantém como língua materna dos moradores da região, enfrente o castelhano.
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