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De acordo com reportagem do jornal O Globo deste domingo, há dois anos e meio o governo da Venezuela vem se negando a informar os registros de sua produção e exportação de diamantes. E o motivo, segundo recentes investigações internacionais, é claro: 100% de sua produção vêm sendo contrabandeados, e ela tem saído através do Brasil, basicamente via Roraima. O fato chamou a atenção tanto do FBI, a polícia federal dos EUA, quanto do Departamento do Tesouro americano, que nos últimos meses intensificaram a monitoração das movimentações financeiras da al-Qaeda, o grupo terrorista de Osama bin Laden. Teme-se que parte dos diamantes venezuelanos esteja sendo utilizada junto com os da África para sustentar atividades do terror.

- Recentes informes de inteligência indicaram que a al-Qaeda vem se reestruturando, e há indícios de que tenha voltado a operar no mercado negro de diamantes. Transferências eletrônicas de dinheiro vêm sendo monitoradas por nós há anos, dificultando as transações financeiras de terroristas. Isso justificaria o renovado interesse no contrabando de diamantes, muito mais difícil de coibir - disse ao GLOBO um investigador.

Na lista de terroristas mais procurados pelo FBI há três do grupo de Bin Laden acusados de contrabando de diamantes, com US$ 5 milhões de prêmio pela cabeça de cada um.

Comércio de diamantes movimenta US$ 60 bi por ano

O sinal de alerta sobre a Venezuela foi dado pela Parceria África-Canadá (PAC), entidade formada pela Agência de Desenvolvimento Internacional do Canadá e organizações governamentais desse país e da África, e que desde 1999 monitora o mercado de diamantes, que gera comércio anual de US$ 60 bilhões no varejo.

Os negociantes oficiais do setor, preocupados em garantir que lidam com material adquirido honestamente, costumam afirmar que apenas 1% dos diamantes na praça seria ilegal.

- Ainda assim, isso significaria US$ 600 milhões nas mãos de criminosos, e uma parcela disso em mãos de terroristas. Considerando que Bin Laden gastou menos de US$ 500 mil no 11 de Setembro, trata-se de uma fortuna perigosíssima - disse o agente americano, lembrando que os ataques e cerca de US$ 20 milhões utilizados por Bin Laden em campos de treinamento e armas foram financiados com a venda de diamantes.

Depósitos venezuelanos ficam perto da fronteira brasileira

Segundo a PAC, os depósitos de diamantes da Venezuela estão no estado de Bolívar, que faz fronteira com a Guiana e o Brasil. No início de 2005, o presidente Hugo Chávez pôs o estado sob lei marcial e, desde então, o Exército passou a controlar as fronteiras. Além disso, ele decretou que os mineradores devem se filiar a cooperativas. Esse aparente controle, no entanto, significou exatamente o contrário, pois a Venezuela deixou de informar sobre a sua produção e vendas - dando margem a suspeitas de que Caracas estaria negociando os diamantes no mercado negro. Uma investigação da PAC, porém, descobriu que a maior parte da produção sai por baixo dos panos, enganando o governo.

"Mineradores e funcionários de cooperativas admitem abertamente que escondem do governo a maior parte de sua produção. Inspetores de minas venezuelanas calculam que apenas 10% ou menos da produção de diamantes do país é declarada", diz um trecho do informe mais recente do PAC, acrescentando que o resto dos diamantes vai para a Guiana via Roraima.

Não é à toa que a produção declarada de diamantes da Venezuela nos últimos dez anos tenha caído de 400 mil quilates anuais para meros 25 mil; e, ao mesmo tempo, coincidentemente, a produção da Guiana tenha subido de 50 mil para 400 mil quilates anuais. Ali, os diamantes são "lavados": emitem-se falsos certificados de origem e eles seguem geralmente para Hong Kong, Dubai e Antuérpia.

Em Brasília, a Polícia Federal não sabia das suspeitas. O superintendente da PF em Roraima, Cláudio Lima de Souza, considerou surpreendentes as suspeitas de que Boa Vista estaria se transformando num entreposto do contrabando de diamante produzidos na Venezuela e na Guiana. Segundo ele, a PF não tem nenhuma investigação sobre o comércio ilegal de diamantes na região, mas reconhece que é possível a venda ilegal, principalmente nas áreas de fronteira.

- Aqui é tudo aberto. Nossa fronteira é muito grande e não temos policiais suficientes para fazer a vigilância necessária - disse Lima.

O superintendente reclama, no entanto, da informação chegar primeiro à imprensa. Para ele, as autoridades americanas deveriam repassar os dados à PF.

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