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Lakhdar Brahimi, mediador para a paz na Síria, fala com a imprensa em Genebra, na Suíça | Jamal Saidi/Reuters
Lakhdar Brahimi, mediador para a paz na Síria, fala com a imprensa em Genebra, na Suíça| Foto: Jamal Saidi/Reuters

Entrevista

Primavera Árabe teve como resultado quatro trajetórias diferentes

Agência O Globo

As revoltas que deram origem à Primavera Árabe completaram três anos. O diretor do Centro Nacional de Pesquisas Científicas francês, Jean-François Bayart, fala sobre as consequências dos protestos.

O que se tornou a Primavera Árabe três anos após sua eclosão?

Podemos observar quatro tipos de trajetórias. As respostas conservadoras às revoltas, propostas pelos partidos islâmicos, como na Tunísia ou no Egito, com as vitórias eleitorais do Al-Nahda e da Irmandade Muçulmana. As restaurações autoritárias, como no Egito, numa etapa posterior, com o golpe de Estado militar — e a Tunísia não está livre de um retorno dos partidários do antigo regime. Os processos de modernização conservadora em que monarquias se resignam a tudo mudar para que nada mude, como no Marrocos. E, enfim, guerras civis, como na Líbia e na Síria.

Qual a dificuldade para a democratização?

Diferentemente do que se diz, não há um excepcionalismo árabe, ou muçulmano, em matéria de democratização. Na América Latina, certos países não se democratizaram, como Cuba. A China também não, nem o Vietnã. A Rússia não se tornou uma democracia. Além disso, não se devem subestimar os numerosos movimentos de reivindicação social ou democrática que sacudiram o mundo árabe-muçulmano e que foram reprimidos no derramamento de sangue. Desse ponto de vista, a Primavera Árabe talvez tenha começado na Argélia, em 1988, e foi afogada em sangue, o que explica sem dúvidas por que esse país não sofreu nenhuma verdadeira agitação em 2011. Nada será como antes nos países árabe-muçulmanos. Mas não impede que a resistência dos regimes autoritários se explique também por sua base social. Não é apenas a repressão que os perpetua. É também a redistribuição e a cooptação.

Depois de um dia em que as primeiras negociações frente a frente entre os representantes do governo síria e dos rebeldes que tentam depor o presidente Bashar Assad, em Genebra, previstas para ocorrer ontem, foram canceladas, o mediador internacional para a crise no país árabe, Lakhdar Brahimi, garantiu que as partes se encontrarão "na mesma sala" hoje.

Como tinha feito na véspera, em Montreux, o emissário da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Liga Árabe encontrou-se separadamente com ambos os grupos, com a intenção de facilitar o diálogo. Enquanto a delegação do governo sírio ameaçava abandonar a negociação, os insurgentes reclamavam que os enviados do regime não estavam completamente comprometidos com a agenda das conversas.

No início do dia, os opositores afirmavam que não concordariam em se encontrar com o governo se os representantes de Assad continuassem se recusando a assinar a declaração das grandes potências, feita em 2012, pedindo a instalação de um governo de transição na Síria. A exigência foi rejeitada pelo governo, cujos negociadores ameaçaram abandonar definitivamente o diálogo se "conversas sérias" não começassem em até um dia.

"Vamos nos encontrar amanhã [hoje]. Espero que seja um bom começo e continuemos [a negociação] até o fim da próxima semana. As discussões que tive com as duas partes foram encorajadoras", afirmou Brahimi em uma entrevista coletiva.

Segundo o mediador, as negociações deverão ter como base a declaração de 2012, conhecida como Genebra I. "Existem interpretações diferentes sobre alguns itens. Acho que ambos os lados entendem isso muito bem e aceitam isso", disse Brahimi.

Mediador quer ações práticas no conflito sírio

Agência Estado

O mediador para a paz na Síria, Lakhdar Brahimi, tem indicado que seu objetivo é começar a buscar ações práticas, como tréguas locais, trocas de prisioneiros e acesso à ajuda humanitária internacional – antes de abordar questões políticas. Mas até os objetivos iniciais fracassarão se as delegações deixarem a Suíça em meio às tensões."Estamos satisfeitos com a fala do senhor [mediador Lakhdar] Brahimi e com a aceitação do documento de Genebra I. Nessa base, nos encontraremos com a delegação de Assad. Será uma sessão curta, em que somente Brahimi falará, a ser seguida por outra sessão mais longa durante a tarde", disse Anas al-Abdah, que integra a delegação dos opositores do governo.Passo"O objetivo é que a primeira rodada de conversas dure até a próxima sexta-feira, mas as expectativas estão tão baixas que veremos como as coisas se desenvolverão a cada dia", afirmou um diplomata ocidental sem se identificar. "Cada dia que eles conversarem será um pequeno passo adiante."

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