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O discurso do Papa Bento XVI em Auschwitz foi o mais introspectivo e emocionante de seu pontificado, mas, para alguns, o líder católico não disse tudo o que deveria.

No domingo, concluindo uma viagem de quatro dias à Polônia, o pontífice de 79 anos apresentou uma reflexão sobre o quão difícil era para um alemão visitar o ex-campo de extermínio nazista e sobre como era complicado, para uma pessoa que acredita em Deus, encarar o mal praticado ali.

A corajosa decisão dele de fazer, no famoso campo de extermínio, a pergunta que levou milhões de pessoas a perder a fé depois do Holocausto ganhou as manchetes de muitos jornais da Europa.

- Deus, por que o Senhor ficou em silêncio? - perguntou o Papa segundo o jornal "La Repubblica", em referência ao assassinato de cerca de 1,5 milhão de pessoas, a maior parte delas judeus, no campo de Auschwitz.

O diário alemão "Berliner Zeitung" escolheu outra das perguntas apresentadas pelo pontífice: "Onde estava Deus?".

Mas um número equivalente de comentaristas preferiu concentrar-se no que Bento XVI não disse sobre o anti-semitismo católico e a atuação do Vaticano durante o Holocausto.

Alguns o criticaram por não mencionar claramente o anti-semitismo e outros por afirmar que a Alemanha havia sido dominada por criminosos nos anos 1930, como se Adolf Hitler não tivesse qualquer apoio popular.

John Wilkins, ex-editor da revista católica britânica "The Tablet", elogiou o Papa por seu discurso, mas disse que havia notado a ausência de assuntos delicados, como o tradicional anti-semitismo católico.

Oportunidade perdida

- Esse foi um discurso maravilhoso, mas acho que algumas oportunidades não foram aproveitadas - afirmou à Reuters. - Algo poderia ter sido dito a respeito de como tantos cristãos não agiram na época.

"Simbolicamente é importante que o Papa Bento XVI tenha visitado Auschwitz, mas eu esperava um discurso diferente", afirmou ao jornal italiano "La Stampa" Abraham Foxman, da Liga Antidifamação, observando que o pontífice não condenou expressamente o anti-semitismo.

Comentaristas também se perguntaram sobre o papel do Vaticano durante o Holocausto. O Papa Pio XII, líder da Igreja Católica à época, não veio a público condenar a opressão nazista contra os judeus.

Um ponto polêmico é o fato de o Vaticano não ter aberto a historiadores seus registros da época da guerra. Os pesquisadores desejam saber o que Pio XII sabia, quando tomou conhecimento disso e o que discutiu com seus assessores.

"Apesar de o Papa ter deixado claro em Auschwitz que não desejava fechar o livro a respeito do passado, o Vaticano continua sem abrir seus arquivos", disse o jornal holandês "Algemeen Dablad".

O diário católico "La Croix", da França, afirmou que dar destaque ao que não foi dito pelo Papa é uma atitude que corre o risco de "ignorar a grande profundidade do que ele afirmou" sobre a ausência de Deus e o silêncio diante de tal maldade.

"Leal a seu ofício de professor, Bento XVI fez a pergunta que todos -- acreditem ou não -- fazem".

Na Polônia, onde os meios de comunicação trouxeram algumas críticas em meio a uma cobertura predominantemente positiva a respeito da visita, vários comentaristas deram destaque a aspectos mais sutis que os destacados em outros países.

- O discurso do Papa e a visita pareceram-me bastante judaicos - afirmou Stanislaw Krajewski, do Conselho Polonês de Cristãos e Judeus. - O Papa citou os Salmos, que são parte da tradição judaica, e isso cria uma ligação. Foi emocionante quando ele disse claramente que os nazistas, ao assassinarem a nação judaica, visavam assassinar Deus.

- Relacionar as raízes cristãs com o judaísmo é um forte argumento contra o anti-semitismo - afirmou o sociólogo Jadwiga Staniszkis. - Acho que esse discurso deveria ser lido.

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