• Carregando...
O presidente boliviano, Luis Arce, e o ex-mandatário Evo Morales nas comemorações do aniversário do MAS em um estádio de futebol em Ivirgarzama, em março deste ano
O presidente boliviano, Luis Arce, e o ex-mandatário Evo Morales nas comemorações do aniversário do MAS em um estádio de futebol em Ivirgarzama, em março deste ano| Foto: EFE/Jorge Ábrego

A divisão dentro da esquerda da Bolívia, iniciada no final de 2021, se transformou numa briga literal no último domingo (20).

Partidários do ex-presidente Evo Morales (2006-2019) e do atual mandatário, Luis Arce, atiraram cadeiras uns nos outros e trocaram golpes com pedaços de madeira e outras agressões durante a eleição dos novos líderes da Confederação Sindical Única dos Trabalhadores Rurais da Bolívia, na cidade de El Alto. O Ministério da Saúde informou que cerca de 450 pessoas ficaram feridas no tumulto, no qual policiais intervieram.

O conflito dentro da legenda governista Movimento ao Socialismo (MAS) ocorre porque Morales, presidente do partido, pretende ser novamente candidato na eleição presidencial de 2025, enquanto Arce planeja um segundo mandato.

Na semana passada, Gerardo García, vice-presidente do MAS, indicou que o partido está com Morales. “Ele [Arce] terá que encontrar a sua própria estrutura política, fazer o seu próprio partido”, afirmou, em entrevista coletiva na qual acusou Morales de uma “alta traição”: um processo de um integrante do seu governo contra Morales.

O ex-presidente já vinha protagonizando uma disputa política com Arce, ao acusar o governo do atual presidente de corrupção e de proteger o narcotráfico (Morales também foi acusado de corrupção durante seu mandato e adquiriu proeminência como líder cocaleiro), e a gota d’água foi uma acusação contra o ministro da Justiça, Iván Lima.

Segundo Morales, um escritório de advocacia de Lima “defende ou assessora uma empresa que está processando o Estado em US$ 35 milhões”. O ministro afirmou que seria aberto um processo por difamação contra Morales, o que aumentou a temperatura da briga entre Arce e seu ex-padrinho político às vésperas do congresso do MAS, que será realizado no início de outubro.

“Quando um líder indígena denuncia a corrupção em defesa do Estado, o ministro conhecido por antecipar sentenças do Tribunal Constitucional rapidamente arma um julgamento com condenação anunciada”, respondeu Morales no X, novo nome do Twitter.

Numa ação que foi percebida pelos aliados do ex-presidente como uma tentativa de causar constrangimento, o ministro do Governo, Fernando del Castillo, ordenou recentemente a destruição de 26 fábricas de drogas em apenas três dias na província do Chapare, em Cochabamba, perto da casa de Morales e seu grande reduto político, com o objetivo de associá-lo ao narcotráfico.

Em entrevista à agência ANF, o deputado Gualberto Arispe, aliado de Morales, disse que essa ação teve unicamente fins políticos.

“Várias operações foram realizadas, mas nem um jochi [paca, animal comum na região] foi apreendido. Já dissemos que, em todos os laboratórios onde intervieram, os itens apreendidos foram os mesmos. Sabemos que estas operações são montadas para desacreditar a região de Cochabamba”, afirmou.

Ao longo desta semana, integrantes da Confederação Sindical Única dos Trabalhadores Rurais da Bolívia ligados a Morales informaram que vão bloquear estradas em todo o país a partir de 4 de setembro se o governo boliviano não cumprir uma série de exigências, como pedir “perdão de joelhos” pela ação da polícia durante a briga em El Alto, detalhar a dívida externa boliviana e demitir Lima e Castillo.

Enquanto a esquerda boliviana troca acusações entre si, um levantamento divulgado no final de junho pela organização Sociedade das Américas/Conselho das Américas (AS/COA, na sigla em inglês) colocou a Bolívia em 14º lugar entre 15 países no seu ranking de capacidade de combate à corrupção na América Latina, à frente apenas da Venezuela.

A AS/COA destacou a falta de recursos para a imprensa independente investigar casos de corrupção na Bolívia e as restrições do governo a ONGs, ao mesmo tempo em que manifestou preocupação com a politização da Justiça boliviana, com a condenação da ex-presidente Jeanine Áñez a dez anos de prisão e a prisão do governador oposicionista de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]