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As eleições presidenciais egípcias viveram neste domingo (17) sua última jornada de votação em um ambiente polarizado, com acusações cruzadas de irregularidades e tentativas de desmoralização por parte das campanhas de ambos candidatos.

Tanto o islamita Mohammed Mursi, aspirante da Irmandade Muçulmana, como o militar aposentado Ahmed Shafiq, se consideram os vencedores deste histórico pleito, que ocorre envolto por uma grande incerteza, causada pela falta de Parlamento e de uma Constituição no país.

Os partidários de Mursi voltaram a insistir que votar em Shafiq significa o retorno do antigo regime de Hosni Mubarak, de quem este foi o último primeiro-ministro.

Por sua parte, os seguidores de Shafiq lembram a possibilidade da transformação do Egito em um Estado religioso, em caso de vitória de Mursi.

"Estamos muito seguros que Ahmed Shafiq será o novo presidente do Egito, acredito que com uma boa margem de dois ou três milhões de votos", disse à Agência Efe o chefe de imprensa do ex-general, Ahmed Sarhan, destacando a necessidade de "proteger a natureza civil do Egito".

Sarhan, que transmitiu o tempo todo confiança na vitória de seu candidato, assinalou que "a revolução pedia liberdade e justiça social, e não um Estado islamita".

Enquanto isso, um dos representantes de Mursi, Ahmed Deif, insistiu que seu candidato é "favorito" e pôs em dúvida a validade do pleito caso Shafiq vença, perante as tentativas dos remanescentes do antigo regime de "jogar sujo".

Em declarações aos jornalistas na sede da campanha, Deif denunciou uma estratégia de difamação contra a Irmandade Muçulmana para marcá-los com o estigma das irregularidades, como as que antes cometia o dissolvido partido de Mubarak.

A campanha de Shafiq denunciou que chegaram da imprensa cédulas eleitorais já marcadas com o nome de Mursi, esquema no qual a Irmandade Muçulmana rejeitou ter qualquer responsabilidade.

Além disso, ambos oponentes se acusaram de continuar com a campanha eleitoral na frente dos centros de votação e de tentar influenciar as pessoas indecisas ou analfabetas, irregularidades confirmadas pelo presidente da Comissão Eleitoral, Farouk Sultan.

Sultan informou em entrevista coletiva que foram detidos três funcionários de colégios eleitorais por marcar cédulas a favor de um candidato, assim como alguns representantes dos concorrentes por instigar o voto de outras pessoas.

Também foram detidos três homens no Cairo que faziam campanha por um dos candidatos e que levavam material informático com informação sobre os eleitores da área e vídeos de treinamentos militares em países estrangeiros.

A Irmandade Muçulmana emitiu pouco depois um comunicado no qual desmentia taxativamente sua vinculação com os detidos.

No meio desta tensão, os egípcios foram às urnas em um ambiente de normalidade e em menor número que na primeira jornada do segundo turno.

Apesar da pouca afluência, a Comissão Eleitoral decidiu prorrogar a votação em duas horas, até as 22h locais (17h de Brasília), devido às altas temperaturas registradas durante o dia e com o objetivo que um maior número de pessoas deposite seu voto.

Mohammed Ibrahim, juiz de mesa em um colégio eleitoral do bairro de Zamalek, disse à Efe que, embora a participação tenha sido menor, os eleitores se mostraram otimistas porque é "sua oportunidade de escolher pela primeira vez seu líder".

Não compartilhava essa opinião a estudante universitária Engy el Odi, de 19 anos, que afirmou que não confia nas eleições porque "o que ocorre atualmente é um jogo e não é realmente democrático".

"A Junta Militar (principal autoridade do Egito) está brincando com as cabeças dos egípcios, mas sinto que tenho que votar caso (a votação) seja real", acrescentou.

Engy assinalou que seu voto foi para Shafiq, porque, apesar de acreditar que este "não é um democrata", a Irmandade Muçulmana lhe provoca desconfiança.

À incerteza dos resultados se somam os temores de que possa haver uma contestação nas ruas se Shafiq for eleito, uma possibilidade sobre a qual seu chefe de imprensa diminuiu a importância.

Em sua opinião, "o povo estará feliz" se vencer o ex-primeiro-ministro e não se concentrará em grande número na Praça Tahrir, epicentro da revolução que acabou com o regime de Mubarak e das manifestações durante a convulsa transição.

No entanto, perante esta possível situação, Sarhan aproveitou para desacreditar de antemão os manifestantes: "Se protestam farão isso contra a maioria dos eleitores e não contra o candidato eleito", ressaltou.

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