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O presidente argentino, Alberto Fernández, e a vice-presidente, Cristina Kirchner, nas sessões do Congresso da Nação, em Buenos Aires, em março de 2022
O presidente argentino, Alberto Fernández, e a vice-presidente, Cristina Kirchner, nas sessões do Congresso da Nação, em Buenos Aires, em março de 2022| Foto: EFE/Juan Ignacio Roncoroni

Mais um desdobramento da crise econômica na Argentina: a dívida do Banco Central do país subiu US$ 36 bilhões (quase R$ 187 bilhões) na gestão de Alberto Fernández. O valor representa 80% do crédito do Fundo Monetário Internacional (FMI) direcionado à Argentina (de quase US$ 45 bilhões ou R$ 233 bilhões).

Há dois anos com uma política monetária expansiva, ou seja, de crescimento da oferta do peso argentino, o governo segue aumentando suas despesas e suas dívidas (os passivos), a ponto de alcançar um descontrole preocupante e as consequências batem à porta: uma inflação que passa dos 64% ao ano e a deterioração das reservas do Banco Central.

De acordo com o economista Fernando Marull, em entrevista ao jornal La Nacion, quando Fernández chegou à Casa Rosada, os estoques de passivos representavam 5% do PIB e hoje chegam a 11%.

“O que estamos vendo são as consequências de ter emitido 11 pontos do PIB em dois anos. Isso não é de graça e aqui você vê as consequências disso”, ressaltou o analista.

O crescimento dessas despesas do Banco Central argentino supera os indicadores de 2018, quando explodiu a corrida cambial no governo de Mauricio Macri.

Poucas saídas na política econômica argentina 

“Diminuir a inflação implica em reduzir a emissão monetária, que é, atualmente, a única fonte de financiamento do governo para responder ao descontentamento social”, disse o economista argentino Juan Luis Bour, diretor da Fundação de Pesquisas Econômicas Latino-Americanas, sediada em Buenos Aires.

Ele ainda indicou que a economia argentina tem “uma margem de manobra reduzida”, já que a emissão monetária (impressão de dinheiro) vai contra os objetivos fiscais assinados pelo acordo com o FMI. O documento prevê, por parte da Argentina, uma redução do déficit orçamentário a 0,9% do PIB em 2024, contra os atuais cerca de 4%.

Além disso, uma política externa frágil aumenta a falta de credibilidade do país, eleva os preços e semeia o pânico nos mercados financeiros. O “dólar blue”, o que circula no mercado informal, chegou a 350 pesos, mais do que o dobro do seu valor na taxa oficial.

Não há dólares para pagar 

De acordo com o advogado e professor da Universidade de Buenos Aires Flavio Gonzalez, o maior problema da Argentina hoje não é o tamanho da dívida externa em comparação com o PIB, mas a falta de dólares para pagar essa dívida. “Existem países com uma dívida proporcionalmente superior, mas aqui não há dólares para cumprir com essas obrigações”, explicou.

A política de altos gastos do Estado é, segundo Gonzalez, o principal erro econômico das gestões kirchneristas. “A condição econômica é estável, o problema é sempre o déficit fiscal”, reforçou.

A escalada do dólar na Argentina está relacionada, principalmente, ao cenário econômico desfavorável, incertezas após a renúncia de Martín Guzmán do cargo de ministro da Economia, além das restrições temporárias ao mercado de câmbio impostas pelo país.

Em momentos de instabilidade econômica, o consumidor e o investidor costumam buscar moedas mais fortes, como o dólar. Com isso, é maior a procura da moeda no mercado paralelo.

Quanto mais “dólar blue” está em circulação em um país, mais o sistema fica fragilizado: mais suscetível a crimes, operações de lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. Além disso, dificulta ainda mais o controle do que entra e sai do país.

Duas semanas atrás, o Banco Central da Argentina ordenou limites à obtenção de dólares por cidadãos e a posse de determinadas ações por empresas que operam no mercado formal de câmbio.

Os argentinos só podem comprar até US$ 200 (cerca de R$ 1.037) por mês em dinheiro. Já as empresas têm acesso apenas a um volume de divisas equivalente ao importado no ano passado mais 5%. Caso seja necessário mais dólares, elas precisarão fazer o levantamento de recursos via crédito. A intenção das medidas impostas pelo governo é frear a elevada fuga de dólares e a perda de reservas da Argentina.

Contexto político desfavorável 

Uma valsa de ministros da Economia tenta mudar os rumos da crise argentina. Em 27 dias, o país teve três pessoas representando a pasta.  

Martín Guzmán renunciou em 2 de julho, pressionado pela vice-presidente Cristina Kirchner, que se opunha aos movimentos do ex-ministro no controle do déficit fiscal. Ele foi o grande responsável pelo acordo com o FMI.

Dois dias depois, Silvina Batakis assumiu o ministério indicada por Kirchner, prometendo “buscar o equilíbrio nas contas públicas”, mas as medidas populistas dela não agradaram e mantiveram a desconfiança no mercado.

Na semana passada, foi anunciada a posse de Sergio Massa, que estava à frente da Câmara dos Deputados e é ex-ministro de Cristina.

Gonzalez aponta que, apesar das questões econômicas que assombram hoje o país, os problemas políticos da Argentina é que fazem com que “não existam soluções”.

Para Gonzalez, independentemente de quem esteja no ministério ou até mesmo na presidência, quem comanda o país é Cristina Kirchner. “Não creio que esse governo possa cumprir com as metas com qualquer ministro porque não está no DNA kirchnerista combater o déficit fiscal”, alertou Gonzalez.

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