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Multidão participa de evento às margens do Rio Osun, na Nigéria: disputas políticas intermináveis depois da redemocratização | Jeremy Weate/Creative Commons
Multidão participa de evento às margens do Rio Osun, na Nigéria: disputas políticas intermináveis depois da redemocratização| Foto: Jeremy Weate/Creative Commons

Conflitos

Confira alguns dos episódios violentos que deixaram mais de 700 mortos na Nigéria somente neste ano:

6 de janeiro

Um conflito entre duas etnias rivais resulta na morte de 30 pessoas na cidade de Jos, na região central, área de encontro entre a maioria muçulmana do norte e a maioria cristã que habita o sul do país.

9 de janeiro

Tropas nigerianas matam 39 militantes islâmicos na cidade de Damboa, em Borno. Um soldado também acabou morto durante o confronto, que se iniciou com o ataque de homens armados do Boko Haram a um campo militar no extremo nordeste.

27 de janeiro

Dois atentados acontecem nos estados de Borno e Adamawa, no nordeste nigeriano, matando ao menos 62 pessoas. Insurgentes muçulmanos atacaram igrejas, queimaram casas e fizeram famílias reféns por quatro horas.

1.º de fevereiro

O sheik Adam Albani – que havia abertamente criticado o Boko Haram – é assassinado em seu próprio carro, enquanto voltava de uma mesquita em Zaria, no estado de Kaduna. A esposa e o filho de Albani também estavam no carro e foram mortos.

19 de fevereiro

Atiradores ligados ao Boko Haram invadem a cidade de Bama, no estado de Borno, e matam 98 pessoas após incendiarem uma escola e destruírem o palácio de um governante.

25 de fevereiro

59 alunos de uma escola próxima a Damaturu, no estado de Yobe, são mortos em um atentado realizado por homens armados pertencentes ao Boko Haram.

2 de março

Ataques realizados pelo Boko Haram resultam na morte de 85 pessoas nas proximidades da cidade de Maiduguri, no estado de Borno.

16 de março

Atiradores matam mais de 100 pessoas em Ugwar Sankwai, Ungwan Gata e Chenshyi, no estado de Kaduna.

Petróleo

A Nigéria possui a décima maior reserva de petróleo do mundo e está na quinta posição entre os maiores exportadores do produto para os Estados Unidos. Apesar disso, a contribuição do setor petrolífero para o PIB nacional representa cerca de 40% do total. Mais de 80% dos bens e serviços necessários para projetos são importados de países estrangeiros.

  • Goodluck Jonathan, presidente nigeriano

"Unidade e fé, paz e progresso". Esse é o lema da Ni­gé­ria, o oitavo país mais populoso do mundo e uma das principais economias da África. Quatro palavras que nos dias atuais representam exatamente o oposto da realidade: um país dividido, afetado por conflitos religiosos, consumido pela violência e com grande parte da população vivendo na pobreza absoluta.

INFOGRÁFICO: Veja o mapa de violênica da Nigéria

Os números da violência na Nigéria são dignos de países em guerra civil. Somente em 2014 já foram contabilizadas mais de 700 mortes. O Nigerian Security Tracker, projeto americano que estuda a segurança na região, afirma que desde 2011 foram registradas aproximadamente 15 mil mortes violentas no país. Grande parte delas foi efetuada pelo grupo extremista Boko Haram, que defende a criação de um estado islâmico no norte da Nigéria.

A divisão étnica e religiosa é um dos principais focos de tensão em território nigeriano. Ataques e conflitos são mais frequentes no norte, região predominantemente muçulmana, enquanto o sul tem a maior parte de sua população católica. Com apenas 54 anos de independência, o país tem um extenso histórico de violência motivado pela divisão sectária. Guerra civil, golpes de estado e um presidente assassinado estão entre os episódios motivados por disputas entre grupos rivais.

Para Daiana Seabra Ve­nâncio, professora da Univer­sidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e especialista em conflitos africanos, essa situação se deve não apenas à divisão. "São diversos fatores que geram a violência crônica que afeta a Nigéria, tais como as hostilidades étnicas e religiosas entre as diversas etnias que vivem no país, bem como as intermináveis disputas políticas vividas após a redemocratização", explica.

Toda essa turbulência não tem sido suficiente para despertar a atenção da comunidade internacional. "O que acontece na África e na Ásia muitas vezes passa despercebido até que interesses relevantes dos países desenvolvidos sejam afetados", justifica Daiana.

País é tido como um dos mais corruptos

Uma curta, mas conturbada história política torna a situação da Nigéria ainda mais complexa. Após golpes de estado e uma ditadura militar, o país vive desde 1999 sob regime democrático, o que não impediu que as últimas eleições fossem marcadas pela violência e os governos mergulhados em denúncias de corrupção.

"A Nigéria é conhecida como um dos países com maior corrupção não só na África, mas em todo o mundo. A corrupção nas arenas públicas e privadas dificulta o desenvolvimento econômico, pois afeta tanto o custo investimento no país como a sua imagem internacional", afirma Daiana Venâncio, da UERJ. No maior escândalo do atual presidente, Goodluck Jonathan (cujo primeiro nome une as palavras em inglês "boa sorte"), mais de 5 milhões de euros em subvenções estatais teriam ido parar nos bolsos de políticos e homens de negócios.

A colônia da Nigéria foi formada em 1914, tornando-se independente em 1960. Seis anos depois, dois golpes sucessivos deixaram o país sob uma ditadura militar, que durou até 1979. Nesse período um presidente, Murtala Ramat Mohammed, foi assassinado por opositores. Os militares retornaram ao poder em 1983, permanecendo até 1999, quando foram realizadas eleições diretas.

Radicais

Grupo fundamentalista Boko Haram luta para criar estado islâmico

No final de fevereiro, homens armados invadiram uma escola em Damaturu, no norte da Nigéria, e mataram 59 alunos. Parte foi alvejada e outros morreram consumidos pelo fogo nos dormitórios. O ataque foi creditado ao Boko Haram, grupo radical islâmico que iniciou suas atividades em 2002, mas intensificou as ações violentas a partir de 2009.

O nome Boko Haram quer dizer "a educação não islâmica é pecado". Seus militantes lutam pela implantação de um estado islâmico no norte da Nigéria e, para isso, usam atos violentos contra forças de segurança e contra a população cristã. Para tentar conter a ação do grupo, o governo nigeriano decretou em maio do ano passado estado de emergência em três estados do norte.

"O crescimento do Boko Haram acontece porque eles se aproveitam da frustração causada pela pobreza generalizada, a corrupção governamental, os conflitos étnico-religiosos e os abusos cometidos pelas forças de segurança nigerianas", explica Daiana Seabra Venâncio, professora da UERJ.

O crescimento do Boko Haram deu origem a outro grupo fundamentalista, o Ansaru. Ligada à rede terrorista Al-Qaeda, a facção também atua no norte nigeriano e é responsável por uma série de ataques com mortes iniciada em 2009.

Colaborou Matheus Chequim

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