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Tacloban, nas Filipinas, onde a passagem do tufão Haiyan deixou 5,2 mil mortos | Erik De Castro/Reuters
Tacloban, nas Filipinas, onde a passagem do tufão Haiyan deixou 5,2 mil mortos| Foto: Erik De Castro/Reuters

Pós-tragédia

Haiti e Japão mostram contrastes no processo de reconstrução

As diferenças também são visíveis no poder de recuperação dos países que sofrem com as catástrofes naturais. Um comparativo entre o Haiti, atingido por um terremoto em 2010, e o Japão, que sofreu com um tsunami em 2011, explicita esse contraste. Com mais recursos, os japoneses conseguiram em alguns meses revitalizar grande parte da infraestrutura danificada no país. Já a população do Haiti sofre até hoje com os efeitos do tremor.

Em março, quando se completaram dois anos do tsunami no Japão, grande parte da população das cidades atingidas ainda não havia regressado para suas casas. Contudo, os danos nas áreas urbanas já não eram mais tão visíveis. O problema maior continua sendo a usina nuclear de Fukushima, que sofre com o vazamento de água radioativa e levará 50 anos até ser completamente desativada.

Preocupação

No Haiti, o quadro é bem mais preocupante. Segundo a ONU, 20% dos escombros gerados pelo terremoto não foram recolhidos e cerca de 350 mil pessoas ainda vivem em campos para desabrigados. Além disso, o país enfrenta uma epidemia de cólera que já causou 8 mil mortes.

Organização

Plano para ocupação do solo é o primeiro passo, afirma especialista

Desastres naturais não podem ser evitados, mas um bom trabalho de prevenção é capaz de fazer a diferença. Para Paulo de Tarso Pires, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pós-doutor em Direito Ambiental e Desastres Naturais, o primeiro passo é ter um bom ordenamento territorial.

"A ferramenta principal para criação de uma política eficiente de prevenção é um bom planejamento de ocupação do solo. Investindo um dólar na prevenção do desastre o governante economiza quatro dólares que gastaria no atendimento as vítimas", afirma.

O Japão, onde a prevenção foi incorporada ao ensino nas escolas, é um exemplo. "Toda a população, quando bem preparada e consciente, desempenha um papel fundamental, sabendo como se comportar antes, durante e depois do desastre".

Governantes

Algumas estatísticas mostram que os desastres naturais podem afetar não apenas a população, mas também os governantes. "Quando políticos falham – por exemplo, deixando muitos morrerem em desastres – eles perdem seus empregos", afirma reportagem da revista Foreign Affairs. Segundo a publicação, 39% das democracias enfrentaram protestos nos dois anos subsequentes a alguma catástrofe. Em 91% dos casos, os governantes foram substituídos após um grande terremoto.

  • Illinois, nos EUA, foi atingido por uma série de tornados que provocou seis mortes

Há duas semanas, um tufão devastou as Filipinas, destruindo cidades inteiras e causando 5,2 mil mortes, segundo as fontes oficiais. Dias depois, uma série de tornados também provocou destruição no meio-oeste dos Estados Unidos. O número de mortes, porém, foi apenas seis.

INFOGRÁFICO: Quatro dos cinco maiores desastres naturais do século 21 aconteceram na Ásia

Uma discrepância gritante quando se observam os maiores desastres naturais do século 21. Seja por questões econômicas, políticas públicas ou preparo da população, os países desenvolvidos conseguem minimizar os efeitos dessas tragédias e recuperar-se mais rapidamente dos estragos.

Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociais em Desastres da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Norma Valencio acredita que o modelo de desenvolvimento de cada país influencia na prevenção e no atendimento às tragédias causadas por fenômenos naturais. Porém, entende que o problema maior não é financeiro, mas político.

"Desastres gerenciados por mãos erradas são uma festa para a corrupção. Ter maior controle social sobre o destino dos recursos é importante. Mas participar da construção das políticas públicas de combate aos processos de vulnerabilização é mais estratégico ainda", afirma Norma.

Estatísticas

Dos cinco desastres com maior quantidade de mortes no século 21, quatro ocorreram em países menos desenvolvidos (veja infográfico). O pior deles foi no Haiti em 2010, quando aproximadamente 300 mil pessoas morreram e outras 300 mil ficaram feridas após um terremoto que destruiu algumas das principais construções da capital Porto Príncipe. O país tem o 25.º menor Produto Interno Bruto (PIB) per capita do mundo, segundo o Fun­do Monetário Internacional (FMI).

Uma região pobre da Ásia também foi duramente afetada em 2004, quando um tsunami varreu cidades banhadas pelo Oceano Índico, matando cerca de 230 mil pessoas. Entre os países mais afetados estavam Indonésia, Sri Lanka e Tailândia, economias de poucos recursos.

Para efeito de comparação, as duas maiores tragédias registradas nos países desenvolvidos ficaram muito aquém no número de óbitos: 15 mil no tsunami do Japão em 2011 e 1,8 mil na passagem do furacão Katrina pelos Estados Unidos em 2005.

Democracias têm melhores estatísticas

Além do paralelo econômico, é possível traçar uma relação entre desastres naturais e democracia. Com base nas estatísticas de mortes em alguns desses episódios, uma reportagem da revista norte-americana Foreign Affairs indica uma tendência de países democráticos sofrerem menos consequências trágicas.

O primeiro comparativo apresentado pela reportagem é entre o terremoto de 2010 no Haiti e outro que sacudiu o Chile um mês depois. Se no Haiti o saldo foi de 300 mil mortes, no país sul-americano foram 800 óbitos, mesmo o tremor sendo de maior magnitude (8,8 contra 7 no Haiti). A diferença maior, de acordo com a revista, foi a agilidade do governo chileno em alertar a população e socorrer as vítimas.

Enquanto o Chile possui um regime democrático, o Haiti estava na época em transição política, após um longo período governado por ditaduras violentas. Tropas da Organização das Nações Unidas (ONU) ajudavam a manter a ordem.

Irã e Paquistão são outros exemplos apresentados pela Foreign Affairs de países com regime fechado que sofreram (e ainda sofrem) graves danos com catástrofes naturais. "A falta de vontade política para enfrentar desastres permeia os regimes não-democráticos, enquanto nos governos democráticos isso não encontra apoio popular", defende a publicação.

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