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Görlitzer Park, no bairro de Kreuzberg, em Berlim: conhecido como ambiente liberal, local se tornou paraíso para traficantes. | Georg Slickers/Wikimedia Commons
Görlitzer Park, no bairro de Kreuzberg, em Berlim: conhecido como ambiente liberal, local se tornou paraíso para traficantes.| Foto: Georg Slickers/Wikimedia Commons

Depois de anos de uma política de tolerância com viciados e traficantes, as autoridades de Berlim resolveram adotar uma linha dura de controle máximo no Parque de Görlitz, no bairro de Kreuzberg. Desde novembro do ano passado, a polícia da capital alemã passou a perseguir os portadores de pequena quantidade de uma droga até então considerada inofensiva, o haxixe, feito da cannabis sativa, a mesma matéria-prima da maconha.

Antes, os policiais prendiam apenas os traficantes das chamadas drogas pesadas, heroína e crack. Mas, depois de diversas ocorrências de homicídios e tentativas de homicídio, a prefeitura deu a ordem de combate radical às drogas no parque mais famoso da Alemanha.

Kreuzberg, bairro que atrai muitos imigrantes, punks, intelectuais e artistas, tornou-se nos últimos anos o centro dos traficantes de Berlim. Mesmo nos dias cinzentos do outono europeu, como agora, os traficantes costumam vender drogas pesadas.

O bairro é também o centro dos viciados. Muitos consumidores de heroína compram a droga e correm para o Fixpunkt, o chamado “bar da heroína”, na Rua Reichenberg, também em Kreuzberg, onde recebem ampolas limpas, de graça. Kreuzberg, já na era da divisão o bairro mais tolerante de Berlim, tornou-se, ao longo dos 25 anos de cidade reunificada com a queda do muro, o bairro dos viciados e traficantes.

Mesmo depois da reunificação com o vizinho, Friedrichshain, da antiga Berlim Oriental, passando a se chamar Friedrichshain-Kreuzberg, o bairro continuou sendo o centro da chamada “cena alternativa”. No “Görlitzer Park”, convivem as diversas realidades da capital do país mais rico da Europa. Nos parquinhos infantis, balanços e escorregadores dividem espaço com ampolas usadas jogadas na areia.

Moradores do bairro dividem-se quanto ao futuro do parque

  • Berlim

Os cerca de 160 mil habitantes de Friedrichshain-Kreuzberg - quase dois terços deles imigrantes – dividem-se sobre o futuro do parque. Os mais jovens e os mais à esquerda são a favor da tolerância. Já os mais velhos defendem ações mais rigorosas da polícia, para que o parque volte a ser um lugar de lazer. A prefeita do distrito de Friedrichshain-Kreuzberg, Monika Hermann, admitiu recentemente que o parque tornou-se um problema para as autoridades.

Hermann é do Partido Verde, tradicionalmente mais tolerante com as drogas. Os verdes querem combater o problema através da criação de projetos alternativos, como a instalação de “coffee shops” para o comércio legal de drogas mais leves. Mas a cannabis continua sendo proibida na Alemanha. Por outro lado, é exatamente o ambiente alternativo que faz de Kreuzberg um lugar atraente para milhões de turistas que visitam Berlim todos os anos. Quanto maior é a ocorrência de batidas da polícia na tentativa de dissolver pequenos grupos de traficantes, maior é também o fluxo de turistas que buscam exatamente essa atmosfera do contraste.

De acordo com Thomas Neuendorf, porta-voz da comissão especial de combate ao tráfico em Kreuzberg, só no ano passado ocorreram 352 batidas. Centenas de traficantes foram detidos, mas nem por isso houve uma redução do tráfico no parque.

“Só com ação policial o problema não pode ser resolvido”, disse Neuendorf.

Já Lorenz Rollhäuser, que há 20 anos vive em uma rua próxima ao parque, afirma que não entende as reações atuais porque Kreuzberg e o parque de Görlitz já eram palco do tráfico e consumo de drogas antes da queda do muro.

“Já antigamente, Kreuzberg não era exatamente um idílio”, diz.

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