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Nunca as eleições gerais mexicanas haviam despertado tanta expectativa como as de 2 de julho próximo. Pela primeira vez, o resultado é tão incerto que o único prognóstico confiável é o que diz que o novo presidente não sairá do Partido Revolucionário Institucional (PRI), uma referência na política mexicana por 70 anos.

A 17 dias da votação, Andrés Manuel López Obrador, candidato da esquerda à Presidência, mantém uma acirrada disputa com o candidato do governo, Felipe Calderón, segundo a pesquisa do jornal "Reforma" divulgada ontem. López Obrador, do Partido da Revolução Democrática (PRD), tem 37%, contra 35% de Calderón, do Partido Ação Nacional (PAN) - que seis anos atrás acabou com a hegemonia do PRI. A diferença é pequena, o que assinala um empate técnico.

O PRI sobrevive em terceiro lugar, sem que transpareça qualquer possibilidade de vitória. Seu candidato, Roberto Madrazo, tem apenas 23% das intenções de voto.

A pesquisa foi feita após o segundo e último debate, no dia 6, em que López Obrador denunciou que empresas de um cunhado de Calderón teriam beneficiado-se de contratos milionários quando este era ministro de Energia - o que pode ter causado a queda do candidato, que já esteve em primeiro lugar nas pesquisas.

Esquerda e direita protagonizam um novo capítulo. López Obrador, ex-prefeito da Cidade do México, e Calderón falam em nome de dois mundos contrapostos, representam dois modelos antagônicos e desenham dois países distintos.

Como um vendaval que começou a soprar na Cidade do México, o candidato do PRD se converteu na esperança das massas pobres. Seu modelo, baseado em subsídios a setores com menos recursos, o converteu no candidato mais popular - populista, segundo detratores. "Pelo bem de todos, primeiro os pobres" é o lema central da campanha que penetrou em todos os rincões do México.

López Obrador tem um sério adversário que ganhou solidez num piscar de olhos. Pela natureza ideológica de seu partido, Felipe Calderón é considerado o candidato da direita. Conservador, o candidato do PAN defende que empregos sejam gerados por investimentos, pela sociedade. Afirma que se se parte da premissa que o emprego é gerado pelo governo, chega-se a políticas de endividamento insustentáveis.

O México tem recursos. Tem gás, cobre, ouro, petróleo e praias que fazem a delícia dos turistas. Isso não impede que a cada ano meio milhão de cidadãos emigrem ilegalmente aos EUA.

Entre as opções políticas que representam López Obrador e Calderón, o PRI busca um lugar mais velho que nunca e condenado, se não ocorrer um milagre, a diluir-se nos dois pilares do novo bipartidarismo que toma o México. A verdade é que muitos de seus partidários estão passando às fileiras do PRD e do PAN.

- Estão se formando dois grupos, como sempre foi na história do México - diz López Obrador. - Independentes versus realistas, liberais contra conservadores. Agora são direitistas contra progressistas.

É cedo para concluir até onde pode chegar o desmoronamento do PRI e se é irreversível. A controvertida figura de Roberto Madrazo não ajuda a fechar as divisões do partido.

"Se militasse num partido menos distanciado da sociedade, a eleição fraudulenta que o levou ao governo de Tabasco em 1994 teria sido o túmulo de sua carreira", escreveu o romancista Enrique Serna na revista "Letras Livres".

Manuel Camacho Solís, o principal assessor de López Obrador, destaca que o confronto político põe em risco o México. Para ele, é preciso buscar acordos que permitam superar a extrema polarização atual e garantir a governabilidade. Ele prega uma nova coalizão política e social semelhante à Concertação chilena:

- Ganhe quem ganhar, o próximo presidente terá que convencer parte da sociedade que é necessário participar de um esforço comum.

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