• Carregando...
 | Ilustração: Felipe Lima
| Foto: Ilustração: Felipe Lima

"O teorema de Pitágoras afirma que em qualquer triângulo reto, o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos. Essas palavras estão gravadas no meu cérebro como uma velha rima infantil de uma canção de Natal: uma frase nostálgica e reconfortante, independentemente do seu significado. A hipotenusa é o lado oposto ao ângulo reto, e o ângulo reto é um quarto de volta de uma circunferência.

O teorema é o grande sucesso da geometria básica, o primeiro conceito matemático realmente instigante que aprendemos da escola."

Trecho do livro Alex no País dos Números – Uma Viagem ao Mundo Maravilhoso da Matemática, de Alex Bellos, traduzido por Berilo Vargas e Claudio Carina.

Pelo jornal The Guardian, da Inglaterra, Alex Bellos veio ao Brasil e trabalhou como correspondente no Rio de Janeiro, ex­­periência que o deixou com um português notável e rendeu um livro, Futebol: o Brasil em Campo (Zahar).

Finda a experiência brasileira, não sabia muito bem o que fazer. Pensou em trabalhar com importação de frutas tropicais entre outras ideias esdrúxulas, até que o insight veio, fulminante: escrever sobre matemática, um interesse antigo.

Desse impulso, surgiu outro livro, que acaba de sair no país, Alex no País dos Números (Com­­panhia das Letras), em que o au­­tor escreve sobre as experiências e entrevistas que fez em viagens para Alemanha, Índia, Japão, França e Estados Unidos, além de ter se comunicado com fontes via e-mail na África, na América do Sul e na Oceania.

Bellos é também graduado em Matemática e Filosofia. Ao escolher jornalismo como profissão, acabou enveredando para o segundo campo. Até descobrir que o primeiro poderia render histórias fascinantes.

"No fundo, a matemática é uma brincadeira, uma coisa lúdica. Os problemas são quebra-cabeças gostosos de solucionar", diz Bellos em entrevista por e-mail à Gazeta do Povo, co­­mentando o seu interesse na ciência dos números.

O desafio que assumiu não foi simples. No livro, ele queria falar com os leitores não especializados sem alienar os especialistas e mostrar o quanto a matemática sabe ser sedutora nas his­­tórias que a envolvem e nas descobertas que abriga. Ele queria, enfim, tratar de uma matemática que não se ensina na sala de aula.

"Na escola, não se ensina o contexto, a relevância ou a história da matemática. Talvez as crianças não tenham interesse nesses assuntos, mas acho que, quando ficarem adultas, essas serão as coisas que gostarão de saber", disse Bellos.

O maior problema de um livro de matemática que se pretende acessível a um público am­­plo tem a ver com as equações. "Acho que foi o Stephen Hawking [físico e cosmólogo britânico, autor de O Universo numa Casca de Noz (Ediouro)] que falou que quando inclui uma equação num livro, o número de leitores cai pela metade", disse Bellos. "Acho que ele está certo. Então tentei incluir o mínimo de equações possível. Mas, é claro, quando o assunto é álgebra, a ciência das equações, tem de incluir. Acho que escrever sobre álgebra foi o mais difícil. Não é a parte em que a matemática é mais complicada, mas é a parte onde você tem que batalhar mais para manter o leitor." O jornalista conta que procurou escrever sobre matemática como se fosse um correspondente vivendo em território estrangeiro. E esse lugar estranho é "o país dos números" que está no título, uma referência à Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll.

Alex no País dos Números é organizado em 12 capítulos independentes, numerados de zero a 11 – o zero é uma das descobertas fantásticas abordadas por ele, feita pelos indianos e explicada no texto –, em que áreas específicas da matemática recebem atenção. Da álgebra até a geometria, passando por aritmética e todo o resto, o caminho de Bellos passa pelo de figuras importantes como o lógico Raymond Amullyan e o enigmista Ivan Moscovich.

Entre os temas do livro, o britânico escreve com elegância sobre questões trabalhosas – como a citada álgebra – e parece se divertir muito quando tem chance de explicar curiosidades como o Cubo de Rubik (objeto enigmático que encerra várias questões matemáticas e acabou virando um brinquedo cultuado), falando das competições criadas em torno do objeto.

Em uma das disputas mais bizarras com o Rubik, os jogadores têm 60 minutos para memorizar o cubo embaralhado e depois, de memória, precisam dizer quantos movimentos são necessários para montar os la­­dos de modo uniforme, cada la­­do de uma cor. Quanto menor o número de movimentos, me­­lhor. O recorde mundial é de 2009, feito do belga Jimmy Coll, que tascou 22 movimentos.

Ao longo da escrita do livro e das viagens que fez antes dela, Bellos conta que acabou descobrindo várias coisas que desconhecia. "Fiquei surpreso por ver como a invenção dos números é recente e como nossos cérebros têm dificuldade de lidar com eles", diz. "Não sabia que existem muitos povos que ainda não têm números e não sabia que há chimpanzés que entendem al­­garismos."

Serviço:

Alex no País dos Números, de Alex Bellos. Tradução de Berilo Vargas e Claudio Carina. Companhia das Letras, 512 págs., R$ 44.

Na internet: www.alexbellos.com e www.favouritenumber.net

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]