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Tegucigalpa - Quase quatro meses após o golpe militar que depôs o presidente Manuel Zelaya, os hondurenhos sentem o tormento da crise política que prejudicou uma economia já anteriormente frágil e aumentou a fome em um dos países mais pobres do mundo.

Honduras já não estava bem economicamente antes do golpe de 28 de junho. A recessão global diminuiu as exportações e as transferências de recursos enviadas do exterior e das quais muitas famílias hondurenhas dependem. Mas o caos político com protestos, toques de recolher, ruas bloqueadas e isolamento internacional tornou as coisas ainda mais difíceis para a população do pobre país centro-americano.

Os turistas estão afastados das praias, das ruínas maias e das florestas do país, resultado, em parte, de um alerta do Departamento de Estado norte-americano para que seus cidadãos evitem viagens não essenciais ao país. Na ilha de Roatan, o turismo caiu 85% desde o golpe, segundo Mario Pi, presidente do Centro de Informações Turísticas da ilha.

Em Tegucigalpa, os consumidores têm-se mantido longe das lojas por causa da ansiedade econômica ou temores sobre as manifestações e os congestionamentos que elas podem causar.

Governos de vários países exigem que Zelaya receba permissão para voltar ao cargo e encerrar seu mandato, que termina formalmente em janeiro, com uma coalizão de governo. Muitos desses países cortaram a ajuda que enviavam a Honduras para isolar o governo interino. Os Estados Unidos suspenderam cerca de US$ 40 milhões em ajuda não-humanitária, enquanto a União Europeia cortou US$ 90 milhões. Agências multilaterais de crédito também bloquearam o acesso de Honduras a seus recursos.

Essas medidas tiveram efeitos que se espalharam pela economia do país, onde mais de 70% da população de cerca de 7,7 milhões de pessoas é considerada pobre e mais de 1,5 mi­­lhão vive com US$ 1 ou menos por dia.

Augusto Reyes, que gerencia uma loja que vende artigos de vidro e cerâmica para cozinha no bairro de Palmira, também em Tegucigalpa, estima que as vendas caíram 90% desde que Zelaya voltou ao país no mês passado e se refugiou na Embaixada do Brasil, que fica nas proximidades da loja.

O bairro comercial de ruas inclinadas, antes bastante movimentado, tornou-se uma zona militar com ruas bloqueadas e manifestações, que fizeram com que ele cobrisse as vitrines e a porta da loja com compensado de madeira. "No meu caso, se não há vendas, não há comissões", explica o pai de três filhos. "Se a crise continuar, vai ser muito difícil para nós". lamenta Reyes.

Miguel Alvarez, gerente de uma loja de equipamentos eletrônicos e de áudio, disse que as vendas caíram 60% e que ele teve de demitir dois de seus 16 empregados. Se as vendas não melhorarem, a loja terá de mudar de endereço ou fechar.

"O que nós queremos é que a situação seja resolvida da forma mais pacífica possível", disse Alvarez. "Não podemos trabalhar nessas condições."

Barrados

Enquanto as duas facções rivais negociam o controle do país, a elite mantém-se confortável atrás de suas casas muradas, embora os Estados Unidos tenham cancelado os vistos de alguns dos empresários e líderes políticos mais importantes do país.

Os Estados Unidos não di­­vulgam os nomes dos afetados pela medida, alegando regras de privacidade. Mas Adolfo Facusse, empresário do setor têxtil e presidente de uma associação empresarial, diz estar entre eles e afirma ter sido obrigado a voltar para casa depois de chegar a Miami com seu filho de 11 anos.

"Teria sido infinitamente pior com Zelaya aqui", acredita Facusse, que diz ter sido obrigado a dispensar 800 funcionários no início deste ano por causa da recessão nos Estados Unidos.

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