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Milhares de birmaneses saíram às ruas para lutar contra a ditadura militar, mas é o fator econômico que motiva a maioria deles a arriscar as próprias vidas. O estopim da crise em Mianmar (ex-Birmânia) é principalmente econômico e não político.

A crise que atingiu a Tailândia e a Indonésia há 10 anos, fruto de um desastre no setor bancário e desvalorizações no mercado financeiro, teve pouco impacto em Mianmar na época devido à economia fechada do país. Entretanto, a globalização ganhou força e mais destaque.

O isolamento que os gestores militares impuseram não pôde mais ser mantido, por não terem mais poder para manter o país "protegido" como gostariam. A antiga Birmânia não foi capaz de crescer com velocidade suficiente para atender as aspirações crescentes da população. Produtos-chave que são importados, como a energia elétrica, tiveram aumento dramático de preço. O país tem uma dependência voraz de diesel importado e o governo de Mianmar mantinha os preços aceitáveis por meio de subsídios. O corte destes subsídios forçou um aumento imediato nas tarifas de ônibus e outros meios de transporte.

O preço do botijão de gás usado na maioria das residências birmanesas simplesmente disparou. Apesar dos bloqueios e sanções para obter empréstimos junto ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e ao Banco Mundial, as duas instituições recomendaram no ano passado que o governo cessasse os subsídios, pois estava contraindo um enorme déficit no orçamento no intuito de segurar os preços dos combustíveis.

A solução não muito inteligente adotada pelo governo foi o aumento da impressão de moeda, o que resultou em um aumento de 20% na inflação em 2006. Em agosto deste ano o governo de Mianmar finalmente decidiu "provar o remédio" do FMI, o que causou inadvertidamente a crise atual.

Os generais do Exército investiram muito menos em educação e saúde do que os outros países da Ásia. Apenas 0,9% do PIB foi destinado a educação durante o final da década de 90, valor baixíssimo se comparado com o restante da Ásia oriental, 2,7%.

No caso da saúde pública, o cenário é ainda mais grave. Foi investido apenas 0,3% do PIB, sendo que o restante da Ásia oriental destinou em média 1,7%. Estima-se que 43% das crianças com menos de cinco anos apresentam quadros de desnutrição, em contraste com apenas 20% no resto da região.

Mianmar possui um bom potencial econômico, com ricas jazidas minerais, recursos hídricos e muita terra para o cultivo. O país também costumava ter uma população com um bom nível educacional e a posição geográfica entre a China e a Índia pode ainda ser explorada como uma vantagem econômica.

Infelizmente, as sanções e os bloqueios econômicos, apesar de constantemente violados no que se refere ao setor energético, tem privado violentamente Mianmar de investimentos externos. A chamada "via birmanesa para o socialismo", defendida pela primeira junta militar nos anos 60, foi abandonada no fim da década de 80. Hoje, pelo menos três quartos da produção interna provém do setor privado.

As sanções ainda, aliadas às pálidas políticas econômicas, impossibilitaram o "boom" da indústria de calçados e vestuário que outros países de baixa renda da Ásia tiveram a oportunidade de vivenciar.

Tradução: Thiago Ferreira.

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