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O governo egípcio decidiu neste sábado (23) expulsar o embaixador turco no Cairo e Ancara declarou persona non grata o representante egípcio, em uma forte deterioração das relações bilaterais, já muito prejudicadas após o golpe de Estado no Egito.

Após meses de tensão e acusações cruzadas, Turquia e Egito rebaixaram o nível de representação diplomática a encarregados de negócios, aprofundando a lacuna entre os dois países.

O primeiro passo foi dado pelas autoridades do Cairo, que anunciaram que o embaixador turco, Hüseyin Avni Botsali, era persona non grata e solicitaram que abandonasse o país.

Posicionamento

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Egito, Badr Abdel Ati, informou em entrevista coletiva que a decisão é uma resposta às "posições inaceitáveis" da Turquia que pretendem "predispor à comunidade internacional contra o Egito".

Também acusou as autoridades turcas, defensoras do presidente egípcio deposto Mohammed Mursi, de respaldar reuniões de "organizações que procuram desestabilizar" o Egito, em alusão a grupos islamitas que apóiam a Irmandade Muçulmana.

Sobre o embaixador egípcio em Ancara, Abdel Rahman Salah, que foi retirado em agosto em outro pico da crise bilateral, o porta-voz explicou que foi decidida sua mudança definitiva à sede do Ministério no Cairo.

Pós-golpe

Ancara qualificou em várias ocasiões de "ilegítimas" as autoridades surgidas após o golpe militar de 3 de julho no Egito, e condenou a repressão policial aos islamitas que se seguiu ao golpe.

Os países chamaram seus embaixadores para consultas após o violento despejo policial dos acampamentos dos seguidores de Mursi em agosto, que deixou centenas de mortos no Cairo.

No início de setembro a Turquia decidiu que o embaixador Botsali voltaria ao Cairo, mas as autoridades egípcias disseram que seu representante não voltaria à Turquia até cessar a ingerência turca nos assuntos internos do Egito.

Interesses

O porta-voz egípcio lamentou hoje que a Turquia sobrepôs seus "interesses partidários e ideológicos" e qualificou de "mentiras e desafio à vontade do povo egípcio" as últimas declarações do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan.

Há dois dias, Erdogan insistiu em condenar o desmantelamento dos acampamentos da Irmandade Muçulmana e a pedir a libertação de Mursi, preso e processado pelo novo governo egípcio por instigar a morte de manifestantes.

Pouco depois do Egito anunciar a expulsão do embaixador turco, Ancara convocou o encarregado de negócios do Egito para anunciar que o embaixador do país árabe é persona non grata.

Persona non grata

O Ministério turco de Assuntos das Relações Exteriores confirmou o rebaixamento do nível de representação diplomática entre os países a encarregados de negócios.

Apesar optar pelo princípio de reciprocidade diplomática, a Turquia não pôde expulsar o embaixador egípcio já que ele se encontra no Cairo desde que foi convocado em agosto.

Antes desta medida, o presidente turco, Abdullah Gül, expressou sua esperança de que a decisão do Egito de reduzir o nível de relações diplomáticas fosse "temporário" e de que "as coisas melhorem".

O governo islamita moderado de Erdogan foi um firme aliado de Mursi e se após sua destituição se levantou como uma das vozes mais críticas em nível internacional contra as novas autoridades egípcias.

Mas a Turquia não é o único país que vê seus laços com o Egito deteriorados. Muito suscetíveis a qualquer crítica a sua política de luta contra os islamitas ou aos juízos abertos contra os dirigentes da Irmandade Muçulmana, os atuais governantes egípcios esticaram a corda com outros países, como Catar e inclusive Estados Unidos.

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