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Doiglas Parkhust, que salvou crianças de serem atopeladas, escondia um terrível segredo: há 50 anos ele atropelara uma garotinha | Facebook
Doiglas Parkhust, que salvou crianças de serem atopeladas, escondia um terrível segredo: há 50 anos ele atropelara uma garotinha| Foto: Facebook

Os jogadores corriam e os pais gritavam enquanto um carro marrom invadia o campo de beisebol na noite de sexta-feira da semana retrasada. Os espectadores nas arquibancadas do Goodall Park em Sanford (nordeste dos EUA) só puderam observar. O veículo avançava em direção a Douglas Parkhust, de 68 anos, e a um grupo de crianças. Ele, natural de Nova York e veterano da Guerra do Vietnã, conseguiu retirar as crianças da trajetória do carro e tentou fechar um portão, para manter o carro dentro do estádio, quando  foi atingido.

“O homem mais velho empurrou as crianças para fora da trajetória do carro. Ele foi atingido, ao invés das crianças”, disse uma testemunha. Parkhurst morreu a caminho do hospital. Carol Sharrow, a motorista, foi presa, suspeita de homicídio. 

“Nós queremos compartilhar nossa sincera gratidão porque fisicamente todos os jogadores estão bem”, publicou no Facebook a Sanford Maine Little League. “E nossas condolências à família do bravo homem que deu a sua vida para proteger outras”. 

Entretanto a reação foi diferente quando a notícia chegou em Fulton, a 650 km de distância. Lá, cinco anos atrás, Parhurst foi à delegacia para confessar que foi o responsável pela morte de Carolee Ashby, em 1968. A criança de quatro anos foi atropelada quando atravessava uma rua durante o Halloween. Durante décadas, investigadores da polícia tentaram identificar o motorista responsável pela tragédia.

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Mas Parkhurst, que disse em 2013 que estava no carro com seu irmão Lenny após uma noite de bebedeira, somente admitiu o crime após a prescrição. Ele não ficou preso por matar a garotinha. E agora, parecendo um enredo de Hollywood, Parkhurst morreu ao salvar crianças de serem atropeladas por um carro. “O círculo se fechou”, diz Darlene Ashby McCann, irmã de Carolee. “Estou aliviada. A mesma coisa que ocorreu com a minha irmã aconteceu a ele. É hora de seguir adiante”.

O acidente em 1968

Numa noite fria de Haloween em 1968, Carolee Ashby estava cruzando uma rua em Fulton com Darlene, sua irmã mais velha, que completava 15 anos. Elas tinham ido comprar doces para um bolo. Carolee estava tomando um sorvete e atravessava, de mãos dadas com Darlene, a rua. Darlene disse que, repentinamente, sentiu um puxão em seu braço.

“Por um momento, não soube se alguém tinha tirado Carolee de mim”, lembra-se Darlene. “Mas quase que imediatamente percebi que Carolee não estava mais comigo”. Um carro que passava derrubara Carolee e a jogara a 90 metros de distância. 

Um motorista que testemunhou o acidente disse à polícia de Fulton que acreditava que um urso de pelúcia tinha sido atingido e jogado longe. O impacto foi tão grande que as botas da garotinha estavam a seis metros de distância de seu corpo. 

O motorista fugiu do local. Testemunhas se contradiziam em relação à cor e ao tipo do carro. Mas, pouco tempo após o acidente, a polícia de Fulton recebeu uma pista que informava que Douglas Parkhurst, de 18 anos, havia batido seu carro contra um poste e voltara chorando para casa. Ele foi interrogado por duas horas, mas negou estar envolvido no acidente. 

A polícia, entretanto, estava cética em relação à sua história. Os investigadores averiguaram os danos no carro e foram com Parkhurst até o local onde ele disse que havia batido o carro. Mas a polícia falhou ao seguir Parkhurst. O suspeito foi lutar no Vietnã e depois voltou à região. O caso ficou em aberto por anos, mas não foi esquecido.

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“Foi surpreendente ver que a comunidade permaneceu tão angustiada por décadas”, disse Russ Johnson, ex-policial de Fulton. Em 2012, após ele se aposentar, escreveu um post no Facebook sobre o acidente de 1968, que ainda não havia sido resolvido. A nota chamou a atenção de uma mulher da região, que morava na Flórida. Ela afirmou aos investigadores da polícia que os Parkhursts tinham pedido que ela dissesse que esteve com eles no Halloween de 1968. Recusou-se, suspeitando que o pedido estivesse relacionado à tragédia. 

Em março de 2013, os investigadores de polícia de Fulton bateram à porta de Parkhurst. Ele disse não se lembrar sobre a menina morta. Quando lhe mostraram uma foto de seu carro, ele disse não saber se estava dirigindo na ocasião.  A polícia continuou a pressioná-lo. Ele encontrou-se com o promotor local, que lhe explicou que ele não poderia ser processado criminalmente.

Confissão

Quinze dias após a polícia bater à sua porta, Parkhurst apareceu na delegacia de Fulton. Em meio às lágrimas, ele confessou. Em um depoimento por escrito, explicou que tinha bebido com seus irmãos antes de dirigir. Seu irmão Lenny estava desmaiado no banco de trás. “Escutei um barulho”, ele escreveu. “Parecia que tinha atingido um cachorro. Não vi o que tinha atingido. Não parei, não me lembro de ter freado. Não me lembro de ter visto crianças, mas acredito, do fundo do meu coração, que atingi a pequena Carolee com meu carro. Não me lembro tê-la visto”. 

Em sua confissão, Parhurst escreveu que mentiu à polícia sobre os danos em seu carro. “Não sabia por que nunca a polícia me questionou a esse respeito. Gostaria que tivessem feito. Teria dito a verdade”. 

Darlene, a irmã de Carolee, reagiu à notícia da morte de Parkhurst com um misto de emoções. “Sei que minha mãe ficaria grata por ele ter salvo aquelas crianças”, disse. “Algum dia, quem sabe, poderei perdoá-lo, mas não agora”.

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