Economia
População associa candidato aos anos de bonança
As manifestações populares ocorridas nos últimos meses custaram um pouco da popularidade de Vladimir Putin, mas não o suficiente para que o grosso da população russa deixe de identificá-lo com a retomada do crescimento econômico no país, a queda do desemprego e a diminuição da pobreza.
"Os números são realmente incríveis. A Rússia cresceu por nove anos seguidos e o Produto Interno Bruto (PIB) nominal aumentou seis vezes nos dois mandatos de Putin. Houve uma redução de aproximadamente 50% no número de pessoas abaixo da linha de pobreza", afirma Fabiano Mielniczuk, professor de relações internacionais da PUC-Rio e coordenador de pesquisa do BRICS Policy Center.
Ele lembra que os anos 1990, sob comando de Boris Yeltsin, foram de depressão econômica na Rússia. A transformação do socialismo para o capitalismo foi acompanhada de uma queda do PIB praticamente todos os anos até 1998. "O fundo do poço foi justamente naquele ano, quando houve a crise financeira na Rússia. Quando Putin entrou, em 1999, a economia voltou a crescer. Então as pessoas associaram Putin a uma melhoria econômica muito substancieal. Essa é a base da legitimidade dele até aqui", complementa o historiador Ângelo Segrillo, da USP.
Depois de ser primeiro-ministro de Yeltsin, Putin elegeu-se presidente em 2000 e reelegeu-se em 2004, governando até 2008. Nos oito anos como chefe de Estado russo, o PIB do país cresceu quase sempre acima de 5% ao ano, US$ 1,67 trilhão em 2008. O desemprego caiu de mais de 10% para 6%. O índice de russos vivendo na pobreza caiu de 29% para 14%, segundo dados do governo e do Banco Mundial.
O atual primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, é o favorito para sair vitorioso hoje da eleição para a Presidência do país. Mas a diminuição da maioria governista no Parlamento russo nas eleições legislativas do fim do ano passado deve levar a um aprofundamento do embate político na sociedade russa.
Às vésperas da votação, todas as pesquisas disponíveis mostravam Putin com mais de 50% das intenções de voto, patamar mínimo para vencer no primeiro turno na Rússia. Mais de 109 milhões de pessoas estão aptas a votar nas eleições deste domingo.
Protestos
A eleição ocorre exatamente três meses após os pleitos legislativos, quando manifestantes saíram às ruas de Moscou, São Petersburgo e outras cidades russas em protesto contra uma série de temas, desde a corrupção administrativa e governamental até o resultado da votação, apesar da dramática redução da bancada governista na Duma (câmara baixa do Parlamento russo).
Em resposta às manifestações, a justiça eleitoral russa adotou uma série de medidas, como a facilitação do monitoramento do pleito e a instalação de câmeras em todos os 90 mil postos de votação para evitar roubo, substituição ou preenchimento indevido das urnas.
Os protestos aparentemente tiveram pouco impacto sobre Putin, especialmente pelo fato de terem sido protagonizados pela classe média, um setor da sociedade russa em franca ascensão nos últimos anos, mas ainda muito inferior à maioria dos eleitores. A grande massa atribui a Putin o sucesso da economia e teme a possibilidade de a Rússia voltar a uma depressão econômica como a que derivou da abertura subsequente à dissolução da União Soviética.
Candidatos
Diante do atual cenário político da Rússia, o professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) Fabiano Mielniczuk apontou Mikhail Prokhorov como o único candidato a apresentar alguma inovação, apesar de sua queda nas pesquisas de intenção de voto nos dias que antecedem a votação. "A principal aposta de inovação é Prokhorov, mas acredito que ele esteja participando desse pleito com objetivo de iniciar sua campanha para 2018", diz Mielniczuk, que também é coordenador de pesquisa do BRICS Policy Center, uma iniciativa da PUC-Rio e da prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.
"Os outros dois candidatos tradicionais em eleições russas, o comunista Gennady Zyuganov e o liberal-democrata Vladimir Zhirinovsky, devem receber de 5% a 15%, algo que não foge muito dos patamares históricos desses dois candidatos em eleições presidenciais russas no passado", constata Mielniczuk. "Já Sergei Mironov, do partido Rússia Justa, ficou famoso ao afirmar durante a campanha presidencial de 2004, quando recebeu em torno de 1% dos votos, que todos queriam Putin presidente."
O historiador Ângelo Segrillo, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), considera que Putin encontrará um cenário bastante diferente em comparação com seus dois mandatos anteriores como presidente. "Nos dois primeiros mandatos, Putin tinha praticamente uma maioria constitucional. O partido que o apoia, o Rússia Unida, e seus aliados tinham mais de dois terços dos votos, então podiam mudar a constituição se quisessem sem precisar de outros partidos. Essa vantagem ele perdeu. O Rússia Unida tem maioria agora, pouco mais de metade do Parlamento, mas já não se trata de uma maioria constitucional", diz o historiador.
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