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Cidade do México – Prestes a completar 60 anos no mês que vem, o mexicano Héctor Aguilar Camín é o que se pode chamar de um intelectual polivalente, pelo brilhantismo que demonstra em suas diversas análises. Na edição brasileira de seu livro México – a Cinza e a Semente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso diz simplesmente que a obra "é um ensaio, na melhor tradição latino-americana de Octavio Paz e Sérgio Buarque de Holanda".

Doutor em História, Aguilar Camín é co-autor de À Sombra da Revolução Mexicana e um reconhecido ficcionista. Expõe suas idéias num programa semanal de debate político, o Zo a Aberta, no canal 2, da Televisa.

Com o candidato esquerdista Andrés Manuel López Obrador pouco à frente do conservador Felipe Calderón nas pesquisas sobre a corrida pela sucessão do presidente Vicente Fox, Camín faz uma avaliação inusitada: diz que o problema não é Obrador perder em 2 de julho, mas sim não aceitar a derrota.

Agência Estado – Enrique Krauze (historiador mexicano) diz que as eleições deste ano são as mais importantes em 100 anos. O sr. concorda?

Héctor Aguilar Camín – As eleições de 2000 foram muito mais importantes. O que aconteceu no México entre 1988 e 2000 foi uma transição concluída com a prova de fogo das democracias: a alternância pacífica do poder, decidida pelos votos dos cidadãos. Isso ainda não havia acontecido no México.

Calderón é o candidato de Washington e López Obrador, do populismo latino-americano?

Não são descrições exatas, mas dizem algo sobre os dois candidatos. Calderón quer uma economia de mercado, onde o Estado seja um facilitador do investimento privado. López Obrador quer uma economia mista, onde o Estado tenha um peso decisivo e seja um protagonista do crescimento e do emprego.

Quais os principais desafios do México?

São quatro, efetivamente. O primeiro é a segurança pública, patrimonial, jurídica. A ilegalidade dos costumes é o problema número um da vida política do México. Não há segurança pública, não há segurança nos direitos de propriedade, não há segurança no cumprimento das regras jurídicas que valem para todos. O segundo problema são as finanças públicas. O governo mexicano tem responsabilidades de Estado rico, mas receitas de Estado pobre.

E os demais?

O terceiro é o crescimento econômico. O México precisa criar 1 milhão de empregos por ano para ocupar as pessoas que batem às portas do mercado de trabalho. Além disso, o México é um país de desigualdade abismal (o quarto problema). Precisará reduzir drasticamente suas diferenças de renda e educação.

Quem tem mais condições de resolver esses problemas?

Só poderá começar a resolver os problemas do México quem criar as condições para um desenvolvimento sustentado. Um crescimento econômico sustentado de 5% durante 20 anos vale mais que 10% num ano, -5% no ano seguinte. Parece-me que o caminho de Calderón é mais seguro, embora seja menos atraente como oferta política.

No México, não há segundo turno...

O perigo é que López Obrador perca e, aliado ao PRI, não aceite o resultado. Os dois partidos têm seguidores suficientes para impugnar a eleição violentamente com bloqueios de estradas, manifestações que paralisem as cidades, ocupação de instalações públicas. Isto não provocará uma crise de governo, mas lançará uma nuvem de suspeita e litígio sobre o sistema eleitoral. Caso Calderón perca, não fará nada disso, porque seu partido, o PAN, é o único entre os três principais que tem uma tradição democrática.

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