
Depois de instalar-se na Casa Branca há quase oito anos praticamente sem nenhuma experiência em política externa, o presidente em fim de mandato dos Estados Unidos, George W. Bush, traçou objetivos ambiciosos para si mesmo e para a nação. Estava disposto a disseminar pelo mundo sua visão de democracia e manter um papel digno para a única superpotência do planeta.
Restando pouco mais de dois meses para o fim de seu mandato e com apenas 24% de aprovação popular, segundo pesquisa da CNN, Bush parece destinado a deixar a Casa Branca sem ter conquistado grande parte de seus objetivos globais.
A "guerra contra o terrorismo" continua em andamento, apesar de que deve ser creditado a Bush o alerta aos americanos sobre a gravidade da ameaça. Os atentados de 11 de Setembro de 2001 forneceram uma dose macabra de evidência de que há quem queira acabar com os americanos.
O combate ao terrorismo se fixou como núcleo de sua política externa, e seus sucessores provavelmente terão de dar seqüência a isso. Mas seus objetivos de democratizar o Oriente Médio e conquistar o respeito do mundo para com os EUA são as principais metas não concretizadas de Bush.
O caos político deste ano em Israel dirimiu qualquer esperança de criação de um Estado palestino que conviva em paz e em segurança com seu vizinho. Um novo governo israelense não será formado antes das eleições gerais, antecipadas para o início de 2009.
Ao mesmo tempo, o Irã reivindica o direito de enriquecer urânio ao mesmo tempo que rechaça as ofertas econômicas e políticas destinadas a dissuadir a república islâmica de eventualmente buscar armas nucleares.
Enquanto isso, a Coréia do Norte trilha um caminho sinuoso com relação ao acesso que dará aos inspetores estrangeiros para avaliar seu programa nuclear bélico e é vacilante com relação à promessa de desativar seu principal reator atômico.
O Iraque tornou-se menos perigoso, mas não está nem perto de ser o oásis democrático a partir do qual Bush esperava inspirar o restante do Oriente Médio depois de uma invasão para derrubar Saddam Hussein apesar dos enormes custos humanos e financeiros da guerra.
No Afeganistão, o Taleban (o movimento islâmico derrubado pelos EUA depois dos atentados de 11 de Setembro) voltou a ganhar força. As baixas americanas aumentam no Afeganistão e já se fala em uma tentativa de reconciliação entre o governo pró-americano de Hamid Karzai e os talebans.
O Paquistão transformou-se num aliado incerto, apesar da vultosa assistência econômica americana. E acredita-se que Osama bin Laden e outros líderes da rede extremista Al-Qaeda estejam escondidos na escarpada e remota região de fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão.
A lista de objetivos não alcançados é extensa. E apesar disso, Bush adotou poucas mudanças de estratégia.
Mudar o sistema político da Rússia continua sendo um objetivo cobiçado. Longe de ser uma democracia tradicional, Moscou usa táticas de linha dura para retomar a influência sobre antigas repúblicas soviéticas.
Afro-americanos
Na África, Bush lançou um esforço para combater doença e promover a democracia. Obteve alguns progressos, mas persistem amplas zonas de pobreza e milhões de pessoas continuam sendo submetidas a tratamento desumano. Na região sudanesa de Darfur, 300 mil pessoas morreram, segundo cálculos da ONU, e 2,5 milhões abandonaram suas casas desde que grupos étnicos africanos se rebelaram contra o governo, dominado por árabes, no início de 2003.
No Congo, o Departamento de Estado calcula que a violência tenha deixado dezenas de milhares de refugiados ou desabrigados internos. Os esforços de manutenção de paz fracassaram.
Na Somália, milicianos islâmicos promovem uma campanha de insurgência contra forças do governo e seus aliados etíopes há cerca de dois anos. Os ataques quase diários com morteiros e os confrontos já provocaram a morte de milhares de civis em Mogadiscio, a capital somali.
Na América Latina, uma onda de vitórias de candidatos de esquerda na Venezuela, no Equador, na Bolívia, no Brasil e em outros países da região, desafiando Bush numa região considerada por muitos americanos como o "quintal dos EUA."
Também se considera que a promoção da democracia e do livre comércio por parte do governo Bush tenha fracassado, especialmente no que diz respeito a reduzir o vão entre ricos e pobres.
E em todo o planeta os Estados Unidos são hoje mais impopulares, no geral, apesar de as relações com outros países terem melhorado um pouco nos últimos anos.



