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      Tropas hostis cercam o prédio, a água é limitada e os mantimentos são escassos, mas o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, parece decidido a permanecer no seu refúgio temporário na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa.

      O edifício de dois andares está no centro de um impasse político desde que Zelaya ali buscou abrigo, nesta semana, depois de voltar clandestinamente ao país, quase três meses depois do golpe militar que o mandou para o exílio. O governo provisório promete prendê-lo se ele deixar o local.

      Zelaya, sua esposa e um filho compartilham quatro cômodos com cerca de 40 ex-funcionários do seu governo e seguidores, que se revezam dormindo no chão e em dois sofás.

      O presidente deposto ainda goza do relativo luxo de um colchão inflável verde, segundo testemunhas.

      "Ele está resistindo, assim como outras pessoas estão resistindo," disse Zoe, filha de Zelaya, que esperava em frente à embaixada num jipe carregado com água, alimentos, remédios e roupas - material que ela esperava conseguir entregar.

      Policiais e soldados armados com rifles M-16 bloqueiam o acesso à embaixada, vedando o acesso à rua estreita que leva ao pequeno edifício, a poucos metros de uma avenida movimentada.

      A deposição de Zelaya, aliado do presidente venezuelano, Hugo Chávez, mergulhou Honduras na pior crise centro-americana dos últimos anos. Ele irritou as elites do país com seus planos para alterar a Constituição de modo a poder disputar um segundo mandato.

      Depois do golpe, o presidente foi levado para o exílio na Nicarágua, mas na segunda-feira conseguiu se infiltrar em Honduras, apesar da ameaça de prisão.

      Agora, Zelaya dedica seus dias a fazer telefonemas e a conversar com a imprensa de dentro da embaixada. Os seus seguidores dormem, lavam as únicas roupas que possuem e assistem a noticiários pela internet em um computador da embaixada.

      Um fotógrafo da Reuters mostrou Zelaya sentado dentro do edifício, usando um casaco e o seu tradicional chapéu de boiadeiro, com as botas sobre uma cadeira, enquanto falava ao telefone.

      O abastecimento de água é intermitente, segundo um fotógrafo da Reuters dentro do local. Quando existe, todos correm aos banheiros. Um grupo humanitário entregou refeições típicas - arroz, feijão e tortilhas. A filha de Zelaya tenta levar leite, açúcar e tabletes para purificação de água.

      "Eu entreguei comida, entreguei roupas, para que saibam que estamos aqui por eles," disse o brasileiro Sérgio Guimarães, representante do Unicef (agência da ONU para a infância), que levou mantimentos para dois funcionários do país que permanecem na embaixada. "A ordem é que ninguém pode entrar."

      Cerco

      Os soldados que montam cerco à embaixada reforçaram a segurança. Autoridades usaram um caminhão com alto-falante para bombardear a embaixada com sons incômodos, e na noite de quarta-feira soldados passaram em frente ao prédio golpeando seus escudos com cassetetes, segundo testemunhas.

      Os vizinhos também têm sofrido. Na quinta-feira, um volumoso policial de jeans e capuz verde de esquiador guiava uma moradora de volta para sua casa, do outro lado do cordão de isolamento.

      À noite, espalham-se rumores sobre iminentes invasões policiais ou sobre frascos de gás lacrimogêneo nos encanamentos.

      "Há preocupação. Eles não podem entrar porque não podem violar o território brasileiro," disse por telefone de dentro da embaixada Hugo Suazo, que foi vice-ministro no governo de Zelaya.

      O presidente deposto afirma que o governo interino planeja matá-lo, e afirmou ao jornal Miami Herald que mercenários estão tentando envenená-lo com radiação e gases.

      O presidente interino, Roberto Micheletti, diz que Zelaya pode permanecer na embaixada por "cinco a dez anos" se desejar, mas que deve enfrentar a Justiça do país.

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