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Na Rússia, assassinatos e guerra; no Brasil, um escândalo de corrupção que pode degringolar a economia; na Turquia, o líder do país anda atacando o presidente do banco central.

Os mercados emergentes parecem ter ganhado uma qualidade tóxica nos últimos tempos; suas políticas desastrosas e economias hesitantes estão forçando alguns investidores a reavaliarem seus movimentos.

Pioram a situação o dólar em alta e a aceitação cada vez mais definitiva de que a Reserva Federal em breve aumentará as taxas de juros, pois a economia dos EUA já supera a do resto do mundo.

As moedas desses países estão sofrendo as consequências. A lira turca e o real brasileiro atingiram os valores mais baixos em vários anos, enquanto o rublo russo permanece volátil depois de despencar 65 por cento. Mesmo o dinheiro de economias consideradas melhores, como o peso mexicano e a rúpia indiana, estão sob pressão.

“Estamos vendo acontecer a esses países todas as coisas ruins que originalmente lhes renderam notas de subinvestimento”, diz Daniel Tenengauzer, especialista em mercados emergentes do Royal Bank of Canada.

Para ele, o Brasil é o grande culpado. As alegações de pagamentos de propina na Petrobrás, maior companhia do setor energético do país, ameaça levar de roldão muitos

negócios e a elite econômica.

A verdade, porém, é que a perspectiva não está nada melhor na Rússia, onde a guerra com a Ucrânia e o comportamento errático do presidente Vladimir V. Putin assustaram os investidores.

Além desses problemas superficiais há vulnerabilidades mais profundas que, segundo os analistas, se tornarão mais pronunciadas conforme o dólar continuar a se fortalecer. Em um relatório recente, Tenengauzer destacou como, com um banco central mais permissivo, os mercados emergentes assumiram mais dívidas enquanto os já desenvolvidos fizeram exatamente o contrário.

As empresas que precisavam de capital fizeram empréstimos altos em dólares e, no processo, ganharam com os investidores que procuravam títulos públicos de alta lucratividade. Assim, a dívida chinesa de curto prazo explodiu de US$101 bilhões, em 2008, para US$850 bilhões; no Brasil, o salto foi de US$47 bilhões para US$112 bilhões e a turca pulou de US$56 bilhões para US$95 bilhões.

Quando suas moedas estavam fortes e o dólar, fraco, essa estratégia até fazia sentido, mas agora que a situação se reverteu, o investidor estrangeiro passou a levar seu dinheiro para outro lugar e esses débitos se tornaram mais difíceis de saldar.

Mas nem todos os mercados emergentes estão sofrendo: as ações e títulos na Índia dispararam sob o novo governo; Indonésia, Taiwan e Filipinas também atraíram o interesse do investidor por causa de suas políticas econômicas bem-sucedidas.

Além da moeda volátil, o capital dos mercados emergentes não alcança o nível de um ano atrás. De acordo com o Instituto de Finanças Internacionais, grupo que representa os 200 maiores bancos privados, o dinheiro que neles entrou em fevereiro foi quase a metade: de US$23 bilhões caiu para US$12 bilhões, saindo do Brasil, Ucrânia e Tailândia e indo para a Indonésia e Índia.

Desde o início do ano, os investidores do fundo norte-americano Oppenheimer retiraram apenas US$400 milhões. Mesmo assim, os especialistas dizem que o dólar valorizado e as taxas de juros mais altas nos EUA atrairão o investidor mais guloso, que passou a preterir Brasil e Turquia.

O apelo norte-americano é reforçado pelas decisões questionáveis de alguns líderes dos países em desenvolvimento. Na Turquia, por exemplo, o presidente Recep Tayyip Erdogan vem pressionando o banco central, nominalmente independente, para diminuir as taxas de juros mesmo com a inflação alta e a lira instável.

Brasil e Turquia tomaram medidas para tranquilizar os investidores, mas enquanto o tumulto e os escândalos persistirem, tais atitudes, embora úteis, correm o risco de terem acontecido um pouco tarde demais.

Tenengauzer, o especialista em emergentes, disse que não para de receber telefonemas de investidores querendo saber mais sobre o caos desses mercados.

E diz: “A classe de ativos está sendo severamente afetada”.

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