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O aspecto é decadente, e o mármore foi todo levado. Mas as mansões e prédios dos cubanos que fugiram da revolução de 1959 um dia certamente serão objeto de uma dura disputa.

Confiantes de que, com o afastamento de Fidel Castro, o fim do regime é iminente, cubanos de Miami já começam a tirar o pó de velhas escrituras imobiliárias.

O problema é que a maioria desses prédios está ocupada por famílias de moradores e precisa urgentemente de reformas. Outros foram reformados pelo Estado e alugados para empresas e embaixadas.

Em Havana, os atuais ocupantes dizem que os ex-proprietários abandonaram seus bens ao fugirem apressadamente de Cuba e que não têm direito de reclamá-los.

- É meu, ninguém pega - disse uma viúva que se identificou como Paquita. Filiada ao Partido Comunista, ela vive numa espaçosa casa com piscina no arborizado bairro de Miramar.

Segundo ela, a casa, já vazia, foi entregue em 1960 ao seu marido, um líder revolucionário. Ela vive ali desde então e aluga quartos para turistas a cem dólares por noite.

A ameaça de que a burguesia exilada voltará para retomar suas propriedades é um fator que reforça o apoio de muitos cubanos ao regime, pois eles temem perder as casas que ocuparam durante décadas.

Muitos exilados que refizeram suas vidas em Miami preferem uma indenização após o fim do comunismo, ao invés da devolução dos bens.

- Muita gente acha que isso vai acontecer amanhã. Não vai. Mas é o começo do fim do comunismo em Cuba - disse Pablo Carreno, radicado em Miami, enquanto examinava as escrituras de cinco casas que pertenceram à família da sua esposa em Havana.

Ele acha que será mais fácil retomar um engenho de açúcar na região central do país do que as casas hoje habitadas.

- Não vamos botar o pessoal na rua - garante.

O engenheiro aposentado Urbano Monasterio construiu um prédio de 17 andares no Malecón, a avenida litorânea de Havana, em 1958. Viveu na cobertura durante dois anos, até fugir para Miami. Agora, sabe que retomar o imóvel pode demorar anos.

- As pessoas começam a pensar em voltar e retomar suas propriedades, mas não podem fazer isso. Além disso, tem gente morando ali, gente que tem de viver em algum lugar. Eles não têm casas em Cuba. O que vão fazer? Chutá-los? Isso é muito ruim - afirmou.

Na cobertura dúplex de Monasterio agora vive a cineasta Laura Vitier, que mora ali desde bebê. Ela não tem como reformar o apartamento, onde há pouca mobília. A piscina está vazia, e o elevador não funciona.

- Não se pode reclamar legalmente uma propriedade abandonada há 40 anos, quando você fugiu do país porque não concordava com o governo - disse ela.

Dois andares abaixo vive a diva do Buena Vista Social Club, a cantora Omara Portuondo, 75 anos, num apartamento de três dormitórios.

- Moro aqui desde 1970, sinto que é a minha casa. Quem tem essa vista para o mar?

A Revolução Cubana expropriou US$ 6 bilhões em bens de cidadãos e empresas americanas, em valores atualizados. Há 5.911 pedidos de devolução tramitando num órgão do governo dos EUA. Já os bens de cubanos expropriados pelo governo superam bastante esse valor.

No Leste Europeu, as disputas de propriedades foram resolvidas de formas diversas após o fim do comunismo. Alguns países restituíram os bens, outros indenizaram os ex-proprietários, e alguns não reconheceram as solicitações.

Alguns emigrantes cubanos estão determinados a retomar os bens que eram das suas famílias.

A médica Clara Rodríguez Iznaga disse ter herdado documentos que atestam a propriedade de 48,5 mil hectares perto da cidade colonial de Trinidad, no centro-sul da ilha. Ali existiriam um casarão, três ou quatro engenhos de cana e casas para 150 colonos.

- Foi uma propriedade ilegalmente confiscada e pertence à família há mais de 500 anos, então por que eu não buscaria [a restituição]? É mais uma coisa romântica do que um interesse financeiro.

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