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Três sobreviventes foram resgatados ontem de dentro do Costa Concordia, cujo naufrágio no litoral da Itália matou ao menos cinco pessoas: 15 passageiros continuavam desaparecidos na noite de ontem | Filippo Monteforte/AFP
Três sobreviventes foram resgatados ontem de dentro do Costa Concordia, cujo naufrágio no litoral da Itália matou ao menos cinco pessoas: 15 passageiros continuavam desaparecidos na noite de ontem| Foto: Filippo Monteforte/AFP

Gigante do mar

Um palácio flutuante

O navio de cruzeiro Costa Concordia era um símbolo da empresa italiana Costa Crociere, que fez deste palácio flutuante, com o comprimento de três campos de futebol, um templo dedicado à diversão e ao bem-estar. Como o Titanic em sua época, o Concordia reunia todos os superlativos. Navio-almirante da frota Costa desde seu lançamento em 2006, esse exemplo de força forjado no estaleiro naval italiano Fincantieri era o maior navio já construído na Itália: 290 metros de comprimento por 38 de largura. O gigante dos mares, de 114.500 toneladas, contava com dezessete andares, dos quais quatorze abertos aos passageiros, com 1.068 tripulantes, o que fazia dele uma cidade flutuante, podendo acolher até 3.780 viajantes, que se alojavam em 1.500 cabines.

Para alimentar este pequeno mundo, estavam à disposição cinco restaurantes e treze bares temáticos. Mas era antes de tudo por seus serviços que o Concordia se distinguia: cinco jacuzzis, quatro piscinas, campo de esporte para múltiplas atividades, trilha para jogging ao ar livre.

Maldito

No entanto, nos meios frequentemente supersticiosos dos marinhos italianos, este palácio flutuante tinha a reputação de ser "maldito". Seu batismo foi realizado em 2006 numa atmosfera de mau augúrio: a garrafa de champagne lançada em direção a seu casco não quebrou. O Concordia, além disso, registrou um primeiro acidente em 2008 em Palermo. Ao entrar no porto, durante uma tempestade, ele foi impedido por ondas enormes. O choque provocou uma fenda na proa e em seu flanco direito, o que não teve, no entanto, nenhuma consequência para os passageiros e a tripulação.

AFP

Como foi

Saiba o que aconteceu com o navio da última parada até o momento do naufrágio próximo à ilha de Giglio:

Colisão

Navio parte de Civitavecchia e segue para Savona. No meio do percurso, às 21h40 da sexta-feira, colide com uma rocha. Sente-se um solavanco durante o jantar e as mesas chacoalham. Pelo sistema de som, tripulação orienta que todos mantenham-se sentados e a informação é de que houve um problema elétrico.

Manobra

Segundo a operadora do navio, o comandante faz uma manobra de emergência para retirar o navio do encalhe, mas a embarcação começa a adernar. Ocorre um apagão de aproximadamente um minuto.

Pânico

Tripulação veste coletes salva-vidas e encaminha passageiros para escapar em botes. Na saída, alguns ficam presos, o pânico aumenta e algumas pessoas se atiram ao mar.

Demora

O resgate demorou cerca de uma hora e meia para começar. As pessoas foram encaminhadas para a ilha de Giglio. A hotelaria do local não comportou todas as vítimas e muitas seguem para igrejas e casas particulares.

  • O comandante Schettino foi detido na noite de sábado pela polícia italiana
  • Um grupo de brasileiros que estava a bordo do navio retornou ontem ao país

A empresa Costa Cruzeiros, proprietária do navio Costa Concordia, que naufragou na noite de sexta-feira matando ao menos cinco pessoas, admitiu que o comandante Francesco Schettino "cometeu erros de julgamento" e "não observou os procedimentos" para situações de emergência. "Parece que o comandante cometeu erros de julgamento que tiveram graves consequências" e que "suas decisões na gestão da emergência ignoraram os procedimentos da Costa Cruzeiros, que seguem as normas internacionais", informou a empresa. A justiça italiana determinou a prisão de Schettino na noite de sábado. Ele foi acusado de homicídio culposo e abandono da embarcação.

O Costa Concordia levava 4.229 pessoas a bordo (sendo 3.209 mil turistas de 62 nacionalidades e 1 mil tripulantes) e afundou próximo à costa da Toscana depois de bater em uma rocha junto à ilha italiana de Giglio.

Vítimas

Ontem, mais dois homens – um italiano e um espanhol – foram encontrados mortos dentro do navio. As duas vítimas foram encontradas por mergulhadores da Guarda Litorânea na parte traseira da embarcação. Eles estavam na cabine quando o navio bateu numa rocha. No sábado, já haviam sido achados três corpos – de dois turistas franceses e um tripulante peruano. Segundo o jornal Corriere della Sera, ontem à noite ainda havia 15 desaparecidos. À tarde, três sobreviventes foram resgatados de dentro da embarcação: um casal sul-coreano e o comissário-chefe do cruzeiro.

Abandono

O promotor da região de Grosseto (onde fica a ilha de Giglio), Francesco Verusio, confirmou neste domingo que o comandante Schettino abandonou o barco "muito antes de que todos os passageiros fossem retirados", e acrescentou que "a trajetória seguida pelo navio de cruzeiro não era boa". De acordo com a imprensa italiana, o comandante foi encontrado em terra às 23h40 (20h40 de Brasília), e os últimos passageiros só foram retirados por volta das 6 horas da manhã de sábado (3h de Brasília).

Várias testemunhas e homens da Guarda Costeira disseram que o Costa Concordia navegava perto demais da costa da ilha de Giglio. O navio estava a 150 metros do litoral, quando deveria manter uma distância de 6 a 8 quilômetros. Segundo alguns, o navio estava fazendo uma manobra chamada "l’inchino", "reverência" em italiano, para saudar os 800 moradores do vilarejo.

Três minutos

O promotor Verusio afirmou que o comandante se aproximou de forma imprudente da ilha de Giglio e o navio se chocou contra uma rocha que destruiu boa parte de seu lado esquerdo, fazendo a embarcação adernar e receber uma enorme quantidade de água em dois ou três minutos.

11 brasileiros que estavam no desastre chegam ao país

Um grupo de 11 brasileiros que sobreviveu ao naufrágio na Itália chegou ao Brasil ontem pela manhã. Todos são membros da mesma família e vivem em Porto Alegre (RS). Em entrevista à rede de televisão gaúcha RBS TV, a advogada Lúcia de Mattos Leon Machado, de 28 anos, e o noivo dela, o professor universitário Luiz Augusto Stump Luz, elogiaram a atuação das autoridades italianas. "O governo italiano foi superatencioso. Nos deram doações de roupas e alimentos. Agora vamos esperar a empresa entrar em contato conosco", disse Lúcia enquanto era recebida por familiares e amigos.

Na manhã de ontem, o cônsul geral-adjunto em Milão, Antônio Luz, informou que 26 brasileiros que perderam os documentos procuraram a representação diplomática do Brasil na Itália. De acordo com o Itamaraty, havia 53 brasileiros no navio, (47 passageiros e seis tripulantes) entre as mais de 4,2 mil pessoas a bordo da embarcação. Todos foram resgatados e passam bem, garantiu o órgão, baseado em informações dos consulados brasileiros em Roma e Milão.

Acidente teve briga por coletes e botes

Testemunhas do naufrágio do Costa Concordia na sexta-feira, diante da Ilha de Giglio, na Itália, descreveram cenas apocalípticas, com disputa dos coletes salva-vidas e a brigas para entrar nos botes. "Quebramos uma vidraça no corredor e pegamos coletes salva-vidas. Como não havia muitos, as pessoas os tiravam umas das outras", contou a italiana Antonietta Simboli. O pânico começou quando o transatlântico bateu na rocha, a eletricidade foi cortada e a embarcação começou a adernar. "Nessa hora, fomos projetados para frente, para trás e muitos ficaram feridos", comentou Yuri Selvaggi. Várias pessoas se atiraram ao mar e alguns tripulantes saltaram na água para tentar salvar os que não sabiam nadar. "Quando conseguimos finalmente subir num bote, rompeu a corda que o prendia ao navio. Nos apoiávamos na borda firmemente até chegarmos bruscamente à água", disse.

O casal de mexicanos Jorge Iñiguez e Olga Velarde disse que "a tripulação não sabia nem usar o rádio para se comunicar". "Nós estávamos confusos, fazia muito frio e saímos sem sequer poder agarrar uma jaqueta, passaporte, dinheiro, nada", concluiu Iñiguez.

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