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Uma empresa americana de Massachusetts disse na quarta-feira ter desenvolvido uma forma de produzir células-tronco embrionárias humanas sem danificar o embrião original, numa descoberta que poderia eliminar as objeções éticas a esse tipo promissor de pesquisa.

- É possível gerar células-tronco sem destruir o embrião e sem destruir seu potencial para a vida - disse Roberto Lanza, cientista-chefe da Advanced Cell Technology, em Massachusetts.

No mês passado, o presidente dos EUA, George W. Bush, vetou a ampliação do financiamento federal para as pesquisas com células-tronco embrionárias, afirmando que os contribuintes que são contra esse tipo de pesquisa não deveriam pagar por ela.

- No mínimo [a descoberta] elimina a última desculpa do presidente para se opor à pesquisa - disse Lanza numa entrevista por telefone.

Os cientistas querem estudar as células-tronco para descobrir que elementos permitem que elas se transformem em todo tipo de tecido, para então reproduzir o processo e desenvolver tratamentos específicos para doenças como câncer, diabete e mal de Parkinson.

A equipe de Lanza já vinha afirmando ter uma alternativa aceitável para a destruição dos embriões, e na quarta-feira publicou sua pesquisa na revista Nature.

Os cientistas utilizaram um método que já é empregado em tratamentos de reprodução humana para retirar uma célula de um embrião humano sem prejudicá-lo. Então eles cultivaram células-tronco a partir dessa célula isolada.

Embora os embriões que forneceram as células não tenham sido implantados numa mulher, os cientistas da Advanced Cell disseram que eles poderiam ter sido, com o potencial de se desenvolver normalmente.

A equipe utilizou embriões de clínicas de reprodução assistida. Normalmente essas clínicas estimulam a mulher para que produza vários óvulos, que então são fertilizados in vitro pelos espermatozóides, dando origem a vários embriões. Alguns são implantados no útero da mulher para que ela engravide, e os remanescentes são congelados e alguns acabam sendo descartados.

A equipe de Lanza deixou que os embriões crescessem até o estágio de 8 ou 10 células. Nesse ponto, cerca de três dias depois da fertilização, os embriões não são mais capazes de se dividir para formar gêmeos idênticos, mas as células ainda podem formar qualquer tipo de célula ou tecido do corpo.

Normalmente, especialistas retiram uma das células desses embriões para determinar se eles têm doenças genéticas como fibrose cística, no chamado diagnóstico genético pré-gestacional. Depois os embriões são implantados e podem gerar uma gravidez normal. Segundo Lanza, as estatísticas indicam que até 1.500 crianças saudáveis nasçam todos os anos dessa maneira.

A equipe de Lanza obteve duas linhagens de células-tronco.

"Essas linhagens eram geneticamente normais e retiveram seu potencial para formar todo tipo de células no corpo humano, incluindo células nervosas, hepáticas, sangüíneas, vasculares e de retina, que potencialmente poderiam ser usadas para tratar uma série de doenças humanas", escreveram os pesquisadores.

Ronald M. Green, professor de ética da Universidade de Dartmouth que revisou o experimento, disse não ter certeza de que aqueles que se opõem a esse tipo de pesquisa vão aceitá-la imediatamente, mas afirmou acreditar que eles acabem aceitando-a.

- As pessoas estão despreparadas para revoluções científicas que solucionem essas questões éticas.

Para Kathy Hudson, diretora do Centro de Genética e Política Pública da Universidade Johns Hopkins, ainda há dúvidas quanto ao efeito do procedimento no embrião original e à saúde das crianças resultantes.

Lanza afirmou que o método não deve ser usado imediatamente em seres humanos, mas que vale a pena estudá-lo. Ele disse que sua empresa vai disponibilizar as células-tronco de graça para os cientistas.

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