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Depois do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva cabalar votos, a Comissão de Relações Exteriores do Senado (CRE) deve aprovar na quinta-feira (29), com folga de votos, o ingresso da Venezuela no Mercosul, tal como estabelece o Protocolo de Adesão, assinado no dia 4 de julho de 2006 em Caracas.

Em vez de reabrir negociação para que o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) pudesse rever seu parecer contrário à entrada da Venezuela no bloco, a base governista decidiu derrotar a oposição no voto.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), apresentará seu voto em separado, favorável à inclusão da Venezuela, com a assinatura de apoio de 13 integrantes da comissão, oito deles titulares. A oposição terá, no máximo, seis votos do PSDB e do DEM.

Apesar da previsão tranquila de dois votos favoráveis para cada manifestação de veto da oposição que combate o governo venezuelano do presidente Hugo Chávez na CRE, o presidente Lula entrou pessoalmente na caça aos votos, como o do senador Fernando Collor (PTB-AL).

Foi assim também com o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), que antes de assinar o voto em separado de Jucá, recebeu um telefonema do presidente, preocupado em certificar-se do apoio do socialista.

Collor, que avançara em sua posição contrária ao ingresso da Venezuela, defendendo publicamente seu ponto de vista, vai facilitar a vida do governo na comissão, ausentando-se da votação. Quem votará em seu lugar será o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), que quer ampliar o Mercosul, embora esteja de acordo com todas as ressalvas feitas por Jereissati, como a falta de democracia, de imprensa livre e de regras estáveis no País vizinho.

"Não se pode afirmar que a Venezuela vive sob um regime que não admite oposição e contestação", diz Jucá em seu parecer. Para ele, a Venezuela tem uma imprensa "bastante atuante que faz oposição ferrenha ao governo Chávez, o que assegura a divulgação livre de informações própria dos regimes democráticos". O problema, a seu ver, está na "guerra midiática entre governo e oposição".

Quanto às violações de direitos humanos denunciadas em relatórios de alguns organismos internacionais, Jucá argumenta que essas organizações nem sempre são neutras e que, portanto, os relatórios não podem ser vistos como uma descrição perfeita da realidade, uma vez passíveis de motivações políticas.

O senador acrescenta ainda que o próprio Brasil não pode ser encarado como um modelo, no que tange ao respeito aos direitos humanos, admitindo que, "infelizmente, ainda há tortura contra presos comuns, trabalho em condições de escravidão, discriminação de gênero e raça, entre outros problemas". O voto em separado do líder também chama a atenção para o "excelente relacionamento" entre os dois países no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a quem o presidente Chávez chamava de "mi maestro".

Jucá recorda que a relação com a Venezuela foi consideravelmente ampliada ao longo dos dois governos de Fernando Henrique Cardoso, que fez cinco visitas ao presidente Chávez e, segundo o líder, além de ter condenado o golpe contra o venezuelano, foi o primeiro presidente brasileiro a falar na participação do país vizinho no Mercosul.

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