Obsessivo e pragmático, novo presidente é um rico empresário
O centro direitista Sebastián Piñera, 60 anos, tem fama de ser um homem de sucesso nos negócios. É dono de uma das maiores fortunas do Chile, avaliada em US$ 2 bilhões.
Direto do Chile
Onde propina é bom
Célio Martins, enviado especial
Quando se fala em propina no Brasil, logo vem a ideia de corrupção. Paga-se propina para conseguir vantagens nos serviços públicos e privados. A malandragem fez com que o sentido original da palavra fosse corrompido. Nos dicionários de língua portuguesa a definção de propina é clara: gratificação extra por serviço normal prestado a alguém, gorjeta. Aqui no Chile, como nos outros países de língua espanhola, acho que para o bem, a palavra manteve seu significado primeiro. Dá-se propina ao garçom, ao taxista e ao atendente do hotel.
Quando o milionário Sebastián Piñera vestir a faixa presidencial, hoje, em Valparaíso, o Chile encerrará 20 anos de governo da Concertación. A coalizão de centro esquerda comandou o país desde o fim da ditadura militar, em 1990. A mudança de rumo político seria suficiente para preocupar a nova equipe do Palácio de La Moneda, mas a tragédia do terremoto e do tsunami do último dia 27 acrescentou desafios inesperados.
Diante do desastre, Piñera asume com o dilema de atender às necessidades emergenciais, decorrentes do abalo sísmico, e as promesas de campanha. Assessores do presidente admitem que essa será uma das grandes dificuldades do novo governo.
Em pelo menos um ponto muitos analistas concordam: Piñera terá de fazer alterações radicais no seu programa. O professor Cristián Gazmuri, da Faculdade de História e Ciências Políticas da Universidade Católica do Chile, disse à Gazeta do Povo que as alterações no plano de governo são imprescindíveis. Gazmuri, no entanto, avalia que os problemas financeiros do novo governo serão menores do que estão apregoando.
"O preço do cobre no mercado internacional está muito alto. O problema para o presidente será tempo. O inverno está próximo e milhares de pessoas estão sem casa, sem móveis e alimentos", diz o historiador ao acrescentar que sem respostas eficientes o governo pode sofrer um grande desgaste logo no início do mandato.
Independentemente das vantagens do alto preço do cobre, que representa 15% do Produto Interno Bruto (PIB) chileno, o rombo provocado pelo terremoto deverá causar impacto no desempenho das políticas econômicas e sociais do país.
Danos
A nova equipe estima em US$ 30 bilhões o custo da reconstrução. Há ainda previsão de queda das exportações, o que provocará redução nas projeções de crescimento da economía.
Além das dificuldades impostas pela nova realidade após o terremoto, Piñera toma posse na sombra de uma presidente, Michelle Bachelet, que termina o mandato com 84% de aprovação. E terá minoria na Câmara e no Senado.
O presidente eleito tem feito seguidos apelos por um governo de união nacional, mas o apoio da oposição deve durar somente até passar os efeitos trágicos do tremor. Pelo menos é essa a avaliação de políticos e especialistas. "Não dura mais que dois ou três meses", calcula Gazmuri.
Oportunidade
A nova oposição, em que pese a manifestação aparente de apoio, vê uma oportunidade para retomar temas deixados de lado. "Esta é uma oportunidade para fazermos um conjunto de coisas que nós adiamos durante muito tempo, simplesmente porque a urgência era governar, e esta foi uma boa razão", diz o economista democrata-cristão Oscar Landerretche.
O jogo político, entretando, deverá influenciar pouco nas diretrizes tomadas pelo país nos últimos anos. "A Concertación sempre se elegeu com uma plantaforma de esquerda, mas fez governos liberais, de centro direita. Essa prática será mantida por Piñera", aposta o historiador Gazmuri. Para ele, há possibilidade de que alguns programas sociais implementados pela presidente Michelle Bachelet podem sair do rol de prioridades, mas no geral as linhas de governo serão as mesmas.
-
Marco Civil da Internet chega aos 10 anos sob ataque dos Três Poderes
-
STF julga ações que tentam derrubar poder de investigação do Ministério Público
-
O difícil papel da oposição no teatro eleitoral da Venezuela
-
Ratinho e Bolsonaro superam “efeito Kassab” para aliança PSD-PL em Curitiba e mais sete cidades
Deixe sua opinião