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Em março, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a Resolução 1973, que definia que todas as medidas necessárias para proteger os civis deveriam ser tomadas na Líbia, com exceção da ocupação militar. Em entrevista à jornalista Joana Neitsch, o professor Rui Dissenha não se surpreende com a atitude que França, Itália e Inglaterra tiveram, nesta semana, ao anunciar que vão enviar militares para assessorar e treinar os rebeldes líbios.

As decisões desses países de treinar os rebeldes não extrapolam a resolução da ONU?

Eu acho que eles extrapolam a medida, mas não é nada de novo. Os países usam as resoluções da ONU para justificar ocupação militar, como Estados Unidos e Inglaterra fizeram no caso do Iraque. Dentro do Direito Internacional só é possível tomar uma medida dessa ordem se for em defesa própria ou com autorização do Conselho de Segurança. E eles vão forçar uma interpretação da própria resolução para intervir efetivamente na Líbia.

Na sua opinião, o que impulsionou os países a adotarem tais medidas?

Acredito que, principalmente, questões econômicas. A Itália, por exemplo, sofre com a entrada de imigrantes vindos da Líbia e tem interesse que um determinado grupo entre no poder e mantenha uma política repressiva com as pessoas que saem da lá. A França tem uma relação muito próxima com toda a região do Magreb, tanto pelo interesse histórico, como pelo econômico. Da mesma maneira, a Inglaterra se interessa, já que a Líbia é um grande produtor de petróleo. Todos eles têm seus motivos declarados e motivos econômicos que não vão revelar.

A presença desses militares europeus não interfere no acordo que as Nações Unidas fez com Kadafi para levar ajuda humanitária à Líbia?

A construção dos corredores humanitários sempre é necessária em qualquer país em conflito. Mas a ajuda humanitária é uma desculpa que os países usam para justificar as invasões. Na realidade, eles não têm a menor preocupação com isso. As forças da França, Inglaterra e Itália querem evitar que Kadafi estabeleça qualquer trégua, querem derrubá-lo. Eles vão treinar os rebeldes para ter a garantia de que, quando o ditador sair do poder, quem assumir atenda todos os interesses desse países.

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