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Moradores da região de West Point, em Monróvia, na Libéria, estão em quarentena | 2Tango/Reuters
Moradores da região de West Point, em Monróvia, na Libéria, estão em quarentena| Foto: 2Tango/Reuters

Opinião

Cooperação entre países não é benevolência

Jaqueline Ganzert Afonso, professora do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba — Unicuritiba

A cooperação internacional aparece como uma resposta iminente de controle da nova onda epidemiológica do vírus Ebola na África. A ajuda humanitária foi a primeira forma de cooperação para controlar o surto. Tem como característica o auxílio emergencial a curto prazo em situações de risco e conflito, ou seja, em situações de guerras, desastres naturais e epidemias. Mais precisamente, o Ebola evidenciou a atuação de grupos como os Médicos Sem Fronteiras (MSF) e a Cruz Vermelha.

A pesquisa para a criação de uma vacina — e até mesmo de medicamentos para o tratamento dos doentes — avançou em países como o Japão e os Estados Unidos, que jamais trataram de surtos de Ebola em seus territórios. Assim, tais drogas são experimentais e acessíveis aos pacientes por meio de organizações e governos através da cooperação internacional.

Contrários ao uso de tais medicamentos, parte dos cientistas alega que esses fármacos transformariam o cenário do Ebola em um laboratório com cobaias humanas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) se reuniu em julho de 2014 com países da África Ocidental para discutir e pedir informações aos países que já tiveram de lidar com o Ebola no passado, mas não se descartou o uso das novas drogas.

Sempre que há surtos de doenças e há grande circulação de viajantes no mundo, como também nos casos da gripe H1N1 no passado, levantam-se hipóteses de controles quanto à biossegurança. Porém, a demora da comunidade internacional em agir com relação ao Ebola fez aumentar as críticas à cooperação e ao interesse dos demais países.

Quando projetos de cooperação científica ganham atenção, algo benéfico para a comunidade científica é alcançado. No caso do surto do Ebola, é inegável que o debate ético das novas drogas que estão sendo testadas tenha alguma influência nas decisões políticas e possam interferir nos caminhos da cooperação. Em termos de auxílio internacional, há sempre uma relação de "ganha-ganha", na qual todas as partes envolvidas buscam um objetivo, seja livrar-se da epidemia, seja desenvolver estudos e medicamentos. A cooperação não é benevolência e, no sistema internacional, o risco é que as decisões políticas definam o encaminhamento dos projetos.

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O Senegal se tornou ontem o quinto país no oeste da África atingido pelo pior surto de Ebola da história, e tumultos irromperam em áreas remotas do sudeste da vizinha Guiné, onde o nível de infecção está aumentando rapidamente.

No sinal mais recente de que a epidemia do vírus, que já matou pelo menos 1.550 pessoas, está saindo de controle, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que os casos de Ebola aumentaram na semana passada no ritmo mais rápido desde seu surgimento em março na Guiné.

A epidemia vem desafiando os esforços de contenção dos governos, o que levou os Médicos Sem Fronteiras, ONG que encabeça o combate à doença, a pedir que o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) assuma o trabalho de detê-la.

Incluindo as mortes, mais de 3 mil pessoas foram infectadas na Guiné, Libéria e em Serra Leoa, e o surto também chegou à Nigéria, onde seis pessoas morreram. O primeiro caso do Senegal é um estudante da Guiné.

A ministra senegalesa da Saúde, Awa Marie Coll Seck, relatou que o homem buscou tratamento em um hospital da capital, Dacar, na terça-feira, ocultando o fato de que teve contato próximo com vítimas no país de origem. Exames no Instituto Pasteur de Dacar revelaram que ele tem a febre hemorrágica. "Ele estava sob vigilância das autoridades de saúde da Guiné por causa do contato com vítimas do Ebola, mas fugiu para o Senegal", disse Seck. Moradores de Dacar reagiram com raiva e preocupação.

"Quando você está doente, por que sai do país para exportar a doença para outro?", indagou um radialista. Em uma tentativa de evitar a disseminação do vírus, na semana passada o Senegal proibiu voos de e para três dos países afetados e fechou a fronteira com a Guiné.

O Senegal, que é um epicentro de agências da ONU e entidades de assistência, também recusou a liberação de voos de ajuda da ONU para nações contaminadas com o Ebola, o que as equipes humanitárias afirmam estar restringindo sua capacidade de reagir à epidemia.

20 mil pessoas deverão ser infectadas pelo Ebola, segundo estimativa da OMS baseada em dados das últimas epidemias.

O plano para conter o vírus deve custar cerca de US$ 500 milhões (R$ 1,1 bilhão). Até o dia 26, morreram 1.552 pessoas e 3.069 foram contaminadas na Guiné, Libéria, Serra Leoa e Nigéria.

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