O presidente do Equador, Rafael Correa, aparentemente procurou ontem se distanciar mais ainda de Edward Snowden, que recentemente admitiu ter vazado detalhes dos programas de vigilância norte-americanos e pediu asilo político ao país sul-americano numa tentativa de escapar de acusações criminais nos Estados Unidos.
Em rede de televisão, Correa disse ontem que Snowden "terá de assumir suas próprias responsabilidades" por ter revelado os programas da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) norte-americana para a coleta de dados referentes a ligações telefônicas e e-mails.
Os comentários reforçaram uma percepção crescente de que o governo de Correa busca se resguardar de problemas legais e diplomáticos que envolvam Snowden.
Correa, um notório crítico da política exterior dos EUA, reiterou hoje que a atenção da mídia deveria se voltar a exigir respostas do governo norte-americano sobre seus programas de vigilância, e não para a fuga de Snowden. Ele disse ainda que o Equador está sendo atacado injustamente por ter considerado aceitar o pedido de asilo de Snowden.
Jornais como o New York Times e o Washington Post publicaram editoriais contra Correa, destacando o fato de ele ser popular graças a programas sociais e criticando sua postura em relação à mídia, sua "maior inimiga". Não por acaso, Correa conseguiu aprovar uma lei de imprensa que limita a atuação dos meios de comunicação.
Os EUA revogaram o passaporte de Snowden, mas ele supostamente recebeu um documento especial de viagem do consulado equatoriano em Londres. Julian Assange, outro fugitivo da justiça e fundador do WikiLeaks que já conseguiu o asilo no país, no dia 16 de junho do ano passado, confirmou a emissão do documento. Na quinta-feira, no entanto, autoridades equatorianas negaram que o documento tenha alguma validade.
Ao contrário da Venezuela, o maior comprador de petróleo do Equador não são os Estados Unidos, mas a China. Essa "independência" equatoriana em relação aos norte-americanos explica parte dos motivos que levaram Assange a buscar a ajuda de Correa para ajudar Snowden.
A falta de documentos válidos de viagem parece ser um dos principais motivos para Snowden continuar refugiado em um terminal do aeroporto de Moscou desde pelo menos a semana passada.
Imbróglio
Edward Snowden decidiu peitar os Estados Unidos e revelar informações confidenciais sobre programas de espionagem ligados ao governo de Barack Obama.
Largou mulher e uma vida financeiramente confortável no Havaí para se aventurar no território movediço dos fugitivos procurados pela justiça norte-americana. Ao menos por alguns dias, ele parecia ser o homem mais procurado do mundo pelos EUA. Até que o presidente Barack Obama colocou a história toda em perspectiva, na quinta-feira, dizendo que Snowden não vale a dor de cabeça que está causando.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse que daria asilo a Snowden sem pestanejar. O ex-funcionário da CIA, no entanto, continua à espera.
Prenda-o se for capaz
A fuga de Edward Snowden, delator do programa de espionagem dos EUA, começou há mais de um mês
Preparação
No escritório da NSA no Havaí, onde trabalhava, Edward Snowden copia os conjuntos de documentos que pretendia divulgar. Pede afastamento do trabalho por duas semanas
Fuga
O ex-técnico da CIA deixa a casa onde morava com a namorada em Waipahu, no Havaí; se despede dela sem dizer para onde vai
20 de maio
Snowden viaja para Hong Kong para a série de entrevistas com jornalista do Guardian
6 e 7 de junho
Guardian publica matérias mostrando esquema de espionagem do governo americano
9 de junho
De Hong Kong, Snowden decide revelar, por meio do Guardian, sua identidade
18 de junho
Snowden se reúne com advogado em Hong Kong e pede que sejam dadas garantias pelo governo local de que não será preso
21 a 22 de junho
EUA apresentam acusação criminal formal contra Snowden e pedem sua extradição a Hong Kong
23 de junho
Sem a garantia de que não seria preso por Hong Kong, Snowden viaja para Moscou num voo comercial; Equador diz ter recebido pedido de asilo
23 a 24 de junho
Ninguém vê Snowden chegar a Moscou; jornalistas cercam área de trânsito e, com a sua foto nas mãos, perguntam aos demais passageiros se o viram no voo vindo de Hong Kong
No-show
Com check-in feito para um voo Moscou-Havana da companhia russa Aeroflot, Snowden não aparece no balcão da companhia; acredita-se que ele não tenha feito controle de passaporte para imigrar na Rússia. Dezenas de jornalistas embarcam no voo. O assento 17-A, em que estaria Snowden, segue para Havana vazio
Seguro?
Julian Assange diz que ele está "num local seguro", rumo ao Equador
25 de junho
O presidente russo Vladimir Putin admite que Snowden não deixou o aeroporto Sheremetyevo, em Moscou. Ele está na área de trânsito e não pode entrar nem deixar o país porque teve o passaporte revogado pelos EUA. Para Putin, drama envolvendo delator é como "tosquear um porco: muito grito e pouca lã"
27 de junho
Presidente Barack Obama rejeita a possibilidade de usar força militar para capturar Snowden e descarta também as altas negociações diplomáticas
Papel
Assange diz que Snowden tem "documento especial de refugiado" dado pelo Equador que lhe permitiria viajar. Quito não confirma
Prazo
Um passageiro pode ficar na área de trânsito até 24 horas, com passagem comprada (com o fim do prazo, há um posto do consulado onde se pode retirar um visto de trânsito)
Alternativas
Um país pode decidir se aceita ou não uma pessoa sem passaporte. A empresa aérea estatal de um governo que aceite recebê-lo poderia transportá-lo
Fonte: da Redação, com Folhapress, Reuters e Agência Estado.