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A presença de Manuel Ze­­­­laya, presidente hondurenho de­­posto por golpe militar, na Em­­baixada brasileira em Te­­guci­­galpa, coloca a diplo­­ma­­cia brasileira em uma posi­­ção de risco e no foco do no­­ti­­ciário in­­ternacional. A pri­­meira questão relevante é que, ao menos oficialmente, nos­­so país não participou da or­­ganização do retorno do pre­­sidente deposto a Honduras. De acordo com o presidente Lula e Celso Amo­­rim, Zelaya regressou "por meios pró­­prios e pacíficos".

A participação do Brasil no retorno, que foi aven­­tada por críticos, poderia ser considerada uma ingerência na política de outro Estado, o que contraria nossa Constituição e o próprio Direito Internacional. O recebimento de um presidente estrangeiro, reconhecido por todos os demais Estados e instituições internacionais, em nos­­sa Embaixada, ao contrário, é uma decisão legítima e soberana do governo brasileiro.

Além da discussão em relação à legitimidade e à correção da decisão de receber Zelaya, cabe analisar as possíveis consequências.

A mais grave e prejudicial aos interesses nacionais é o possível aumento da violência no país, o que já vem sendo ob­­servado. O erro do governo brasileiro, nesse contexto, é permitir que Zelaya dê declarações inflamadas e conclame o povo às ruas de dentro da Em­­baixada.

O Brasil deve, agora, fazer todos os esforços no sentido de impedir tal resultado, pois, se ocorrer uma invasão ou depredação da sede de nosso governo no país pela população local, pro­­vavelmente precisaremos responder por meio da força, o que significa uma mudança ra­­dical na forma de fazermos política na região.

A situação é grave e a decisão brasileira de participar de modo mais direto do contexto hondurenho (condizente com a posição que o Brasil tem assumido de líder regional) significa, de um lado, que teremos de ter bastante sabedoria ao in­­centivar a reativação das negociações e, de ou­­tro, que temos de estar prontos para um possível acirramento dos conflitos.

Enfim, o Brasil deu uma cartada forte. Resta-nos saber se es­­tamos prontos para bancar a aposta e seus possíveis custos, que podem ser extremamente elevados.

Juliano Cortinhas é professor deRelações Internacionais na Universidade Católica da Brasília.

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