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Tradicionalmente mais reservada em relação à vida privada de seus governantes, a mídia francesa se lançou em uma ampla cobertura do suposto caso do presidente François Hollande com a atriz francesa Julie Gayet, revelado pela revista de celebridades Closer, e a consequente hospitalização da primeira-dama Valérie Trierweiler. Não o bastante, no entanto, para a imprensa estrangeira, principalmente anglo-saxã, que acusou seus colegas franceses de agirem com demasiada moderação no questionamento do chefe da nação durante a entrevista coletiva concedida após o caso ter emergido.

Para François Jost, especialista em Ciências da Informação e da Comu­­nicação na Universidade Sorbonne, houve uma mudança da atitude da mídia na França, levando-se em conta, argumenta, que "todos os presidentes, de De Gaulle em diante", se envolveram em histórias similares sem provocar a reação da imprensa. E cita o caso do presidente Valéry Giscard d’Estaing, que numa madrugada de setembro de 1974 teria atingido com uma Ferrari emprestada pelo cineasta Roger Vadim um caminhão de leite que debutava sua ronda de entregas. Ao lado dele, segundo versões, estaria a célebre atriz Marlène Jobert.

"Naquela época, não se ousava publicar este tipo de informação. A novidade hoje não é o presidente ter uma ou duas amantes, mas sim o fato de ele ser perseguido como num reality show. O affair Hollande foi acompanhado como se o presidente fosse uma vedete do Big Brother", diz o analista.

Segundo Jost, a diferença é ainda mais profunda, pois "se foi levado a pensar que a vida privada dos governantes tem uma influência na vida política", numa virada de enfoque da concepção da História.

"Sabia-se que Luís XIV tinha amantes, mas a história não era explicada dessa forma, ao contrário do que se faz hoje em programas de tevê na França, em que a vida secreta de Maria Antonieta se tornou determinante na compreensão da História. É uma inversão em relação a uma abordagem concebida por grandes historiadores como Fernand Braudel ou Jacques Le Goff", disse.

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