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| Foto: Paul J. Richards/AFP

A menos de um mês das eleições nos Estados Unidos, Donald Trump e Hillary Clinton trocaram acusações em um tenso debate presidencial neste domingo (9), ofuscado por um novo escândalo envolvendo o candidato republicano após a divulgação de declarações degradantes sobre mulheres e acusações contra Bill Clinton.

Em uma discussão transmitida ao vivo pelas grandes emissoras de televisão americanas, o milionário e a ex-secretária de Estado voltaram a ficar cara a cara na universidade Washington em Saint Louis, Missouri. Com a tensão no nível máximo, os dois adversários evitaram trocar um aperto de mãos ao entrar no recinto do debate.

Trump repetiu a afirmação de que suas declarações - gravadas em um vídeo de 2005, difundido na sexta-feira (7) - sobre agarrar as mulheres pelos genitais e beijá-las à força - foram “conversa de vestiário”.

“Certamente não estou orgulhoso disto. Mas foi uma conversa de vestiário”, disse Trump, enquanto Hillary afirmou que o conteúdo do diálogo mostra que “este é Donald Trump”, reforçando que o candidato conservador “não está capacitado” para ser presidente.

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Embora tenha pedido desculpas, o magnata disse que aquelas foram apenas palavras, denunciando que o ex-presidente “Bill Clinton foi abusivo com as mulheres”.

Trump chegou para o segundo debate presidencial com sua campanha abalada desde a sexta-feira por causa do vídeo gravado em 2005 no qual o ex-astro da televisão se vangloria, usando palavras e expressões de extrema vulgaridade, de se aproveitar de sua condição de celebridade para abusar fisicamente das mulheres.

“Quando você é uma estrela, elas deixam você fazer. A gente pode fazer o que quiser”, diz Trump na conversa.

Com a corda no pescoço, o candidato republicano lançou um surpreendente contra-ataque momentos antes do debate, ao convocar uma coletiva de imprensa com quatro mulheres, três das quais acusam o ex-presidente Bill Clinton, ex-presidente e marido de Hillary entre as décadas de 1970 e 1990, e a candidata democrata de ajudar seu marido a denegri-las.

Para jogar mais lenha na fogueira, as quatro mulheres e Bill Clinton estavam na plateia do debate.

Faltando apenas quatro semanas para as eleições, os dois candidatos responderam a perguntas de dois moderadores e de um painel formado por eleitores indecisos.

Rússia

A candidata democrata denunciou que a Rússia invadiu sistemas cibernéticos americanos para influenciar as eleições a favor de seu adversário, o magnata Donald Trump.

“Acreditem, eles não estão fazendo isto para que eu seja eleita. Estão fazendo isto para influenciar a eleição a favor de Donald Trump”, disse a ex-secretária de Estado. Em resposta, Trump disse que esta versão era “ridícula” e que Hillary “nem mesmo sabe se foi a Rússia quem invadiu” os sistemas de informática do partido Democrata.

“Talvez nem mesmo tenham existido essas invasões”, afirmou Trump, assegurando que não tem negócios com a Rússia.

Autoridades americanas acusaram formalmente a Rússia por uma série de invasões dos sistemas informáticos dos democratas. O governo russo qualificou estas acusações como falsas.

Em outro momento do debate, a democrata defendeu o estabelecimento de zonas seguras na Síria, bem como esforços para investigar a Rússia por crimes de guerra cometidos em apoio ao presidente sírio, Bashar al-Assad.

Republicanos buscam uma saída

O mais recente escândalo envolvendo Trump, que iniciou sua campanha chamando de “estupradores” os imigrantes ilegais e provocou críticas por ter se referido a uma ex-Miss Universo venezuelana como “porquinha”, caiu como uma bomba para a campanha do milionário.

Neste domingo, em meio a uma onda generalizada de indignação, o próprio presidente Barack Obama condenou as declarações de Trump no vídeo publicado na sexta-feira, as quais considerou “degradantes”.

“Não preciso repetir. Tem crianças na sala... Denegrir as mulheres, degradá-las, mas também as minorias, os imigrantes, as pessoas de outras crenças, zombar dos deficientes... (Trump) Rebaixa os demais para se atribuir importância”, disse Obama em um ato público no estado do Illinois.

Desde a divulgação da gravação, Trump difundiu um vídeo pedindo desculpas, mas o estrago já estava feito.

Figuras proeminentes do partido Republicano se somaram ao clamor geral para que Trump jogue a toalha e desista da campanha em benefício do seu companheiro de chapa, Mike Pence.

Mas o magnata disse que há “zero chance” de que isto ocorra. “Nunca, jamais me dou por vencido”, afirmou.

Entre os republicanos que retiraram seu apoio a Trump destacam-se o senador John McCain e Mitt Romney, ex-candidatos presidenciais em 2008 e 2012 respectivamente, a ex-secretária de Estado Condoleezza Rice e o ator e ex-governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger.

Este contexto tornou o debate deste domingo potencialmente decisivo em uma campanha que no último mês mostrou Hillary e Trump praticamente empatados, com uma vantagem apenas marginal - inferior à margem de erro de cada pesquisa - para a ex-secretária de Estado.

Hillary “presa” rende mais críticas contra Trump

O candidato republicano Donald Trump recebeu um festival de críticas por ter adotado o manual dos aprendizes de ditadores ao ameaçar enviar sua rival à prisão se for eleito presidente dos Estados Unidos. Durante o debate, a tensão aumentou quando Trump advertiu a ex-secretária de Estado que se ele fosse presidente ela “estaria na prisão”.

A ameaça foi feita durante um momento do debate dedicado ao fato de Hillary Clinton ter utilizado um servidor privado de e-mails quando ocupava o cargo de secretária de Estado. O tema, explorado há vários meses pelos republicanos, tem sido um grande peso para a campanha de Clinton. No domingo, Trump tentou ao máximo tirar partido desta questão no debate. O magnata prometeu nomear um promotor especial se for eleito presidente para realizar uma investigação contra a adversária democrata.

“Se vencer, vou dar instruções a meu secretário de Justiça para que nomeie um promotor especial para que investigue a sua situação, porque nunca existiu tanta mentira e tantas coisas escondidas sobre a questão dos e-mails”, afirmou Trump.

Após uma investigação, o FBI recomendou há algumas semanas o arquivamento do caso.

“É muito bom que alguém com o temperamento de Donald Trump não fique responsável pela lei neste país”, afirmou Clinton, ao que Trump contra-atacou: “Porque você estaria na prisão”.

A ameaça rendeu ao magnata e ex-apresentador de reality show uma chuva de críticas dos democratas, mas também de alguns republicanos.

“Os candidatos vencedores não ameaçam enviar para a prisão seus oponentes”, escreveu o ex-porta-voz do presidente George W. Bush, Ari Fleischer, no Twitter. “Um presidente não ameaça um particular com perseguição judicial. Trump se equivoca nisto”, completou.

David Frum, também ligado ao presidente Bush, também se uniu às críticas.

“Quem aceitaria ser o secretário de Justiça de um presidente que pensa que pode influenciar as investigações contra seus adversários políticos?”, questionou.

Do lado democrata, o ex-secretário de Justiça Eric Holder acusou no Twitter o candidato Trump de ser “perigoso/não apto”.

O prêmio Nobel da Economia e colunista do New York Times, Paul Krugman, se uniu à onda de indignação: “Vamos ser claros. Um candidato a presidente prometeu colocar sua oponente na prisão se ele vencer. Todo o restante é secundário”.

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