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Estação Espacial Internacional, a uma altitude de 350 km do solo terrestre, deve encerrar suas operações até 2020, segundo Obama | Nasa/AFP
Estação Espacial Internacional, a uma altitude de 350 km do solo terrestre, deve encerrar suas operações até 2020, segundo Obama| Foto: Nasa/AFP

Estelares

Nos bastidores da agência espacial, há quem considere as viagens tripuladas um desperdício de tempo e dinheiro.

Marte

Em entrevista à revista The Economist, Michael Griffin, ex-chefe da Nasa, disse que os ônibus espaciais custavam tanto tempo e dinheiro que atravancaram os trabalhos da agência. Se não fosse por eles, "Marte já seria uma realidade".

Economia

O fim das viagens tripuladas representa uma economia de bilhões de dólares e o desemprego de milhares de profissionais. Houve até uma debandada de astronautas, que deixaram a agência para trabalhar em outros empregos.

Inovações

A Nasa para de investir em viagens tripuladas ao espaço, mas conta com a iniciativa privada para tanto. Empresas que já respondiam pela fabricação de peças, agora devem assumir o processo todo. Há também projetos curiosos, como os que envolvem viagens turísticas ao espaço, ao preço de US$ 200 mil a passagem (R$ 320 mil).

História

O programa de ônibus espacial começou em 1981 (a Columbia decolou em 12 de abril) e serviu para realizar uma série de missões necessárias, mas que podem soar pouco interessantes para o público leigo. Foram 134 missões e 350 tripulantes. Entre as tarefas cumpridas, os astronautas levaram satélites ao espaço, consertaram o telescópio Hubble e abasteceram a Estação Espacial Internacional.

Invenções

Entre as criações da Nasa que acabaram ganhando o dia a dia das pessoas, estão: a espuma que não deforma (travesseiro), um filtro de água mais eficiente, o aparelho ortodôntico invisível e as lentes de óculos resistentes a riscos. Há ainda a ressonância magnética, a tomografia computadorizada e os serviços de telecomunicação.

  • Discovery decola para missão final, no dia 24 de fevereiro passado
  • Atlantis ocupa plataforma do Centro Espacial Kennedy, dentro do Cabo Canaveral, no estado da Flórida, com lançamento previsto para a próxima sexta-feira

Uma era termina na próxima sexta-feira, dia marcado para a decolagem do ônibus espacial Atlantis – se não houver imprevistos – para uma missão de 12 dias, a derradeira do programa que começou em 1981. Um olhar mais frio sobre o fato – como o da revista The Economist – entende que "a fase heroica da exploração espacial, com astronautas corajosos se aventurando em lugares que nenhum homem foi antes, inspirando crianças e defendendo a democracia (ou o socialismo) é, agora, coisa do passado".

Com o fim do programa dos ônibus espaciais, acabam as missões tripuladas sustentadas pelos Estados Unidos e o país deixa de ter meios próprios para mandar homens ao espaço. Eventualmente, astronautas norte-americanos deverão viajar, mas terão de pagar por um lugar na Soyuz, dos russos.

No início, o programa de ônibus espaciais tinha cinco espaçonaves. Duas explodiram deixando 14 astronautas mortos – a Challenger, pouco depois de decolar em 1986, e a Columbia, ao reentrar na atmosfera terrestre em 2003. As três que ainda existem virarão peças de museus nos estados da Califórnia (que fica com a Endeavour), da Flórida (Atlantis) e da Virginia (Discovery). O protótipo Enterprise, usado em treinamentos, vai para Nova York.

A comemoração dos 30 anos dos ônibus espaciais pela Administração do Espaço e da Aeronáutica (Nasa, na sigla em inglês) é um tanto amarga. Os veículos chegam ao fim de sua vida útil pouco depois de o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, enterrar o projeto que levaria homens ao espaço e à Lua mais uma vez, o Constel­­lation, anunciado durante o governo de George W. Bush.

A lógica de Obama fez sentido para uns e não para outros. O presidente acha melhor economizar em viagens espaciais que não são novidade – deixem os norte-americanos pegarem carona com os russos – para poder gastar dinheiro com o que interessa de fato: pisar em solo marciano até a década de 2030. Essa ideia, no entanto, ainda é bastante remota porque não existe tecnologia para tanto.

Para os terráqueos, o fim das viagens tripuladas na Nasa não muda muita coisa. Mesmo sem inspirar mentes e corações como fazia décadas atrás, a agência continuará investindo em pesquisas – são 6,3 mil patentes em 53 anos de existência – e cuidando de um universo de satélites.

Inspiração

Não dá para saber se o fim das viagens tripuladas vai desanimar os cientistas, mas é fato que elas os inspiraram. "Um monte de invenções só aconteceram por meio da indústria aeroespacial", diz Euler de Freitas, professor de Física do Curso Positivo.

A corrida espacial veio do desenvolvimento de tecnologia para mísseis balísticos e impulsionou criações que acabaram fazendo um bocado de diferença na vida cotidiana – e não se trata apenas de travesseiros com espuma que não deforma.

Para ilustrar, as lentes de óculos resistentes a arranhões foram inventadas pela Nasa para o visor dos capacetes dos astronautas. O joystick dos videogames também veio da agência espacial. O aparelho ortodôntico invisível é feito de alumina policristalina translúcida, elaborada para proteger as antenas de mísseis de rastreamento.

A Nasa também criou um tipo de filtro de água mais eficiente, fez o mesmo com palmilhas de tênis, inventou o detector de fumaça (para a primeira estação espacial, Skylab) e as roupas resistentes ao calor, além de ter papel determinante nas telecomunicações – do telefone celular à televisão via satélite.

A lista continua e inclui a medicina: a ressonância magnética e a tomografia computadorizada são possíveis hoje porque um dia a Nasa teve de bolar um jeito de processar melhor as imagens que eram enviadas por naves espaciais.

Há invenções simples na aparência, mas de importância extrema, como as ranhuras de segurança no asfalto, usadas de início para o pouso das espaçonaves.

Emoção

Os ônibus espaciais, em sua rotina funcional, são menos emocionantes do que uma aventura rumo à Lua. "Foram missões mais pragmáticas", diz Freitas. A Atlantis fará o 135.º voo do Sistema de Transporte Espacial (STS) da Nasa, nome técnico dos ônibus. É um número impressionante que sugere certa trivialidade das missões espaciais.

Os astronautas assumiram tarefas como transportar satélites, abastecer a Estação Espacial Internacional (ISS) e consertar as lentes do telescópio Hubble – este, aliás, aparece com frequência como o feito mais importante do programa. Não fosse pelos astronautas que voaram na Atlantis em 2009, o Hubble seria um desperdício obsceno de dinheiro – algo na casa dos US$ 2 bilhões.

Em 2011, o orçamento da Nasa é de US$ 19 bilhões, ou R$ 30 bilhões, três a mais do que o orçamento anual do Paraná. Hoje, entre as correntes que convivem na agência, uma acredita que as missões tripuladas queimam tempo e dinheiro. Robôs compensam mais. Acaba a corrida espacial e começa a era do pé no chão.

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