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O mês de setembro, há dez anos, passou a ter importância histórica para as relações internacionais. Em 11 de setembro de 2001, o maior ataque ao território continental dos Estados Unidos foi realizado com sucesso, fato que levou a uma grande alteração na política mundial. Tais mudanças podem ser vistas a partir de três eixos interconectados:

O primeiro é o da política externa estadunidense. Os ataques de 11/09 possibilitaram aos neoconservadores do Partido Republicano implementar suas políticas unilaterais e intervencionistas, baseadas na visão de que os Estados Unidos são um país de exceção, que têm o direito de intervir no exterior para "civilizar povos menos evoluídos", implementando seu modelo político-econômico. Tais medidas beneficiariam não só esses povos, mas também os EUA, pois aumentariam sua segurança, já que democracias não entram em guerra entre si. O 11/09 foi um grande facilitador da implementação dessa visão distorcida do papel dos EUA no mundo, pois possibilitou que a opinião pública daquele país aceitasse os altos custos desse padrão de inserção internacional, deixando o governo Bush com total liberdade para intervir no Afeganistão e no Iraque. A resposta, porém, foi mal formulada e não percebeu as exigências da luta contra um novo tipo de inimigo, que promove táticas contra as quais os investimentos já bilionários no aparato militar estadunidense não têm sentido.

O segundo aspecto importante é que essa mudança de rumo da política externa dos EUA, potencializada pela dissipação do medo na população do país, pode ser relacionada à atual crise da economia mundial. Os Estados Unidos são o fiel da balança da economia mundial. Se eles prosperam, o consumo internacional e a produção mundial crescem. Quando os estadunidenses estão com suas carteiras recheadas, aquecem toda a economia mundial. O déficit cada vez maior, decorrente de um aumento grandioso dos investimentos militares dos EUA, faz com que o país conviva com um orçamento desequilibrado. Os EUA não têm mais os fundos de que precisariam para reequilibrar suas contas e reerguer a economia mundial. Os mercados estão em uma corda bamba e a crise, antes somente econômica, agora também é política, tal o nível de divisão partidária em Washington.

Por fim, outro ponto importante a ser observado a partir do ataque às Torres é uma grande descrença nas instituições multilaterais, como o Conselho de Segurança das Nações Unidas. Bush passou por cima dessas instituições, que, cada vez mais, precisam de uma grande reforma legitimadora (que não creio que acontecerá), que conceba uma estrutura mais adequada ao novo equilíbrio de poder mundial.

Em resumo, parece-me que, apesar de termos observado avanços em diversas áreas na última década, o mundo passou por um retrocesso. A ascensão do unilateralismo estadunidense desestabilizou a economia do país e do resto do mundo. O ódio e o antiamericanismo aumentaram. Assim mesmo, o sistema internacional está em constante evolução e há esperança de dias melhores.

*Professor licenciado de Relações Internacionais do Unicuritiba e professor visitante na University of Delaware, EUA.

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