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Linha do tempo

Igreja Católica registra momentos de modernização e preservação de valores históricos.

Século IV

Invasões a Roma ameaçaram a sobrevivência do cristianismo, adotado parcialmente pelo imperador Constantino em 380. A religião, porém, conseguiu atrair os bárbaros, que foram catequizados.

Idade Média

Por mil anos, até o século XV, a Igreja deteve o monopólio do conhecimento e foi responsável pelo desenvolvimento da ciência. Seus preceitos eram seguidos por todo o Ocidente.

1545-1563

A mais longa reunião da Igreja foi uma resposta às 95 teses de Martinho Lutero, que fundou o protestantismo em 1517. Em vez de reavaliar a interpretação da doutrina católica, o encontro serviu apenas para combater com mais força quem a contestasse.

A partir de 1789 Movimentos não apoiados por Pontífices tentaram convencer os fiéis de que onde houvesse os ideais pregados pela Revolução Francesa haveria o Evangelho. Membros do clero chegaram a fundar um jornal para defender esta abordagem. O Papa Gregório XVI respondeu condenando a liberdade de imprensa.

1869-1870

Concílio Vaticano I. Pio IX usou o encontro para afirmar que a autoridade papal era incontestável, sob pena de excomunhão. A mesma pena deveria ser aplicada a quem negasse que Deus criou todas as coisas ou manifestasse ressalva a qualquer parte da Bíblia, uma ameaça já destacada no Concílio de Trento.

1962-1965

O Concílio Vaticano II foi a mais radical tentativa do Vaticano de se adequar à modernidade. Convocado por João XXIII apenas três meses depois de sua eleição, seus trabalhos se estenderam até o pontificado de Paulo VI. Defendeu o acesso universal à Bíblia, o diálogo da Igreja com a modernidade e o diálogo com outras religiões.

Temas polêmicos

Assuntos que devem estar na lista de tarefas a serem enfrentadas pelo novo papa:

Pedofilia

Um dos piores escândalos aconteceu em 2010, quando padres de Irlanda, Alemanha, Áustria, Bélgica e EUA foram acusados de pedofilia. Bento XVI foi forçado a demitir vários bispos e ordenou a limpeza dos Legionários de Cristo. Em 2006, havia afastado seu fundador, o padre mexicano Marcial Maciel, que abusou de seminaristas, teve filhos com diversas mulheres e morreu em 2008.

Aborto

A posição antiaborto foi reforçada com Bento XVI. Em 2010, ele nomeou o cardeal canadense Marc Ouellet, conhecido pela firmeza contra o aborto, chefe da Congregação para os Bispos. Hoje um dos favoritos a suceder Ratzinger, Ouellet considera o aborto "um crime moral", inclusive em casos de estupro.

Homossexualidade

No início do pontificado, Bento XVI condenou a violência física e verbal contra gays, mas ressaltou que isso não mudaria a opinião da Igreja em relação ao casamento homoafetivo. Em dezembro, o Vaticano insistiu que crianças devem ser criadas por pai e mãe.

A mulher na igreja

Em abril de 2012, Bento XVI reprimiu os "católicos desobedientes" que desafiam a doutrina da Igreja na ordenação de mulheres ou na questão do celibato sacerdotal. Ele salientou que a proibição de ordenar mulheres era "definitiva" e que o embargo fazia parte da "constituição divina" da Igreja.

Uso da camisinha

Bento XVI disse, em 2010, que o uso de camisinhas era aceitável em "certos casos": "Se for um prostituto, usando um preservativo para reduzir o risco de infecção por HIV, pode ser um primeiro passo no sentido da moralização", afirmou.

Pesquisas genéticas

Em 2008, o Vaticano introduziu os sete pecados mortais contemporâneos. Entre eles, "participar de experimentos científicos duvidosos e de manipulação genética".

No ocaso de um pontificado tido como conservador, crescem, nos ouvidos do Colégio de Cardeais, as vozes por um Papa que promova uma renovação da Igreja. Não é uma missão fácil. O Trono de Pedro foi sacudido por poucos. Os últimos — e mais conhecidos — foram João XXIII, que convocou o Concílio do Vaticano II, em 1962, e seu sucessor, Paulo VI, que concluiu o encontro, três anos depois. A partir dali, os padres deixaram de celebrar as missas em latim e de costas para os fiéis. Mas, à exceção desta reunião episcopal, todas as outras tiveram como tarefa maior defender visões antigas do catolicismo, em vez de aproximar-se dos fiéis.

Além de escândalos que se acumulam há poucos anos sob os olhos do público — o clero envolvido com pedofilia, as finanças abaladas por investimentos duvidosos —, outras polêmicas já eram, há tempos, motivo para dor de cabeça de Pontífices: o celibato, o aborto, o uso de anticoncepcionais e o homossexualismo. A reticência com que estas perguntas são tratadas já custou multidões de fiéis ao catolicismo.

"Um papa nunca aprovará o divórcio ou o aborto", afirma o ex-seminarista J. D. Vital, autor do livro "Como se faz um bispo". "Há questões discutíveis, como o celibato. Parece que Paulo VI teve abertura para este assunto, mas foi desestimulado a abordá-lo", acrescenta.

Um dos principais teólogos do século passado, o francês Yves Congar relatou o diálogo entre um embaixador de seu país na Santa Sé e João XXIII. Perguntado sobre o que pretendia com o Vaticano II, o Papa respondeu: "Eu quero espanar a poeira que se acumulou na cátedra de São Pedro desde o imperador Constantino" — o primeiro a adotar, mesmo que parcialmente, o cristianismo.

Em 380, os bárbaros invadiram Roma e puseram fim a um império que, em seu auge, dominou praticamente toda a Europa, além de boa parte do Oriente Médio. A religião caíra nas graças dos governantes do antigo regime e, agora, precisava seduzir os conquistadores.

"Os bárbaros são catequizados, mas a Igreja se barbariza", avalia o frei Oswaldo Rezende, ex-diretor da Escola Dominicana de Teologia de São Paulo. "Ela teve um papel crucial, mas não impediu a trajetória de sangue, que desencadeou a formação de civilizações."

Entrou-se na Idade Média, na qual, além da fé, a Igreja acumula o poder laico. Tem o monopólio da sabedoria em seus mosteiros, o que a põe no topo da pirâmide social. Um comodismo que só lhe foi tirado em 1517, quando um sacerdote germânico pregou, na porta de um castelo, 95 teses atacando a doutrina católica.

A reforma protestante, concebida por Martinho Lutero, exigia uma resposta. Vinte e oito anos depois de atacado, o catolicismo reagiu no Concílio de Trento.

"Foi um encontro que enrijeceu ainda mais a doutrina católica e reorganizou a Inquisição", diz Rezende. "Nos séculos seguintes, a Igreja viu suas verdades serem contestadas, como a crença de que a Terra estaria no centro do Universo. Houve até uma tentativa de setores do clero de adequar o catolicismo aos ideais da Revolução Francesa, mas o Papa Gregório XVI não gostou e escreveu, em 1831, uma encíclica proibindo a liberdade de imprensa."

E foi este o tom que, quatro décadas depois, regeu o Concílio Vaticano I. Pio IX, seu promotor, afirmou que a autoridade papal prevalecia sobre qualquer assunto ligado à moral e à fé. Quem a contestasse seria excomungado.

A Igreja sobreviveu até os anos 1960 ainda "querendo retornar à Idade Média", nas palavras de Rezende. E foi de um conclave que deu zebra, onde um cardeal idoso — de 77 anos — de quem nada se esperava, que partiu a decisão de renovar o catolicismo. Era João XXIII.

"Três meses depois de eleito, ele anuncia sua decisão de convocar o Concílio Vaticano II", observa Rezende.

Segundo Arnaldo Lemos, que largou a batina durante o movimento juvenil de 1968 e hoje é professor de Ciências Sociais da PUC de Campinas, a igreja está numa encruzilhada. "Há duas correntes: a tradição, que defende a manutenção da ordem mundial e a defesa da moralidade; e a renovação, que pede novos padrões de comportamento e de formas de viver, tanto para padres quanto para leigos", explica.

Demandas sociaisIgreja manterá postura sobre temas polêmicos, dizem especialistas

Agência O Globo

O papa que substituirá Bento XVI só será conhecido nos próximos dias, mas a lista de tarefas que o esperam já é longa. Algumas dizem respeito a questões administrativas da própria Igreja, tidas como urgentes por vaticanistas. Outras surgem de fora da instituição, como demandas não menos importantes de uma sociedade cada vez mais diversa e que busca no próximo Pontífice a abertura que não encontrou com Ratzinger.

Os tópicos incluem temas polêmicos, como aborto, uso de preservativos, casamento homossexual, pesquisas com células-tronco e ordenação de mulheres. Teólogos e especialistas em religião são unânimes em afirmar que a postura da Igreja sobre esses assuntos não mudará seja quem for o novo papa. Eles defendem que reagir de forma mais compreensiva a esses temas já seria uma grande abertura da Igreja.

Entre os 115 cardeais do conclave, afirmam, nenhum dá sinais de que poderia tratar as convicções da Igreja de maneira distinta à de Bento XVI.

"Há algumas variações entre eles, afinal, são mais de cem, mas poucas. O que determinaria a possibilidade de se escolher alguém mais aberto seria a hierarquia da Igreja perceber essa necessidade, mas ela está muito fechada em si mesma", diz Jorge Cláudio Ribeiro, coordenador do Departamento de Teologia da PUC-SP.

Defender a interrupção da gravidez ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo são hipóteses totalmente descartadas pela Igreja, frisa dom Pedro Strighini, bispo da Diocese de Mogi das Cruzes. O celibato, diz ele, é o que teria mais chances de revisão — apesar da condenação de Bento XVI, que no ano passado reprimiu os "católicos desobedientes" que ousassem desafiá-lo.

Ainda assim, dom Strighini pontua que na Igreja a alteração de uma convicção é muito demorada, e ele não acredita que isso ocorra já no próximo papado.

Para Bernardo Kocher, professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF), o pontificado de Bento XVI se preocupou em sustentar a imagem da Igreja como instituição e reafirmar seus dogmas. Caberá ao novo papa fazê-la resistir na vida dos fiéis e lidar com conceitos diversos de família.

"João Paulo II e Bento XVI optaram por manter valores tradicionais. O mais provável é que o próximo papa reafirme esse legado, para só então pensar em reformas", diz.

"A agenda mais urgente diz respeito à reforma do governo central da Igreja. Não são esperadas mudanças substanciais em relação à própria doutrina", diz o teólogo Paulo Fernando Carneiro de Andrade, da PUC-Rio.

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