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"Deus é o fundamento da esperança – não um deus qualquer, mas aquele Deus que possui um rosto humano e que nos amou até ao fim: cada indivíduo e a humanidade."

Trecho da encíclica Spe salvi, de 2007.

Libertar um homem preso em si mesmo e apontar o amor a Deus e aos demais como único meio de desenvolver integralmente o que é próprio da humanidade. Esse seria o objetivo de Bento XVI com as três encíclicas que publicou ao longo do pontificado. Para os especialistas ouvidos pela reportagem, esse estímulo ao abandono do egoísmo estaria presente nas três cartas, ainda que com enfoques diferentes.

De acordo com o padre José Lino Currás Nieto, histo­­riador e escritor, há uma clara correlação entre as encíclicas Deus caritas est (2005), Spe salvi (2007) e Caritas in veritate (2009) que remete à mensagem central do amor nos Evangelhos. "A ideia de fundo dessas encíclicas é que o homem fechado em si não se desenvolve como deveria e deixa de ser ele mesmo", explica.

Para o professor Francisco Bor­­ba, coordenador do Nú­­cleo de Fé e Cultura da PUC-SP, os três documentos se articulam com ramos que partem da primeira encíclica, Deus caritas est, carta que trata das várias formas de amor, desde o amor erótico entre homem e mulher até a caridade prática nas obras sociais da Igreja.

O primeiro desses ramos se refere à cultura. "O papa enfrenta o problema contemporâneo da incapacidade de compreender o que é o amor, e a necessidade que o ser humano tem de se perceber amado por Deus", diz Borba. Essa necessidade teria relação com a esperança cristã, abordada na Spe salvi, que não deixa de ser uma resposta ao desencanto com utopias socialistas e com o mito do progresso positivista e liberal. Nessa mesma encíclica, o pontífice adverte que "nenhuma estrutura positiva do mundo é possível nos lugares onde as almas se brutalizam". Ao discorrer sobre a relação com o transcendente e a esperança, ele cita escritos de Platão, Lutero, Kant, Dostoievski e até Marx.

O segundo ramo, diz Bor­­ba, seria o político-social, no qual o amor é apresentado como fundamento de toda ação pelo bem comum, criando uma sociedade mais participativa e solidária. Esse aspecto é mais desenvolvido na terceira encíclica, Caritas in veritate, que resgata o conteúdo das encíclicas sociais de outros papas, como a Populorum progressio (1967), de Paulo VI, e a Sollicitudo rei socialis (1988), de João Paulo II. Nesse documento, Bento XVI adverte para os riscos de uma caridade que pode cair no sentimentalismo se não tiver raízes na verdade, pois nesse caso "o amor torna-se um invólucro vazio, que se pode encher arbitrariamente". Na última encíclica, o papa também afirma que a Igreja não pretende se envolver na política dos Estados, mas esclarece que a missão da Igreja a serviço da verdade é "irrenunciável".

Confira as "nuvens de palavras" das três encíclicas de Bento XVI"nuvens de palavras"

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