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Curitiba – Se compararmos as economias chilena e brasileira levando em conta o crescimento da renda, demanda e consumo, o Brasil teria de crescer 7% ao ano e não apenas 2,5%, como no ano passado, para acompanhar o país vizinho. Enquanto no Chile existe o "efeito renda", com demanda, consumo e preços crescentes, no Brasil se vê o "efeito pobreza" em que a economia não cresce em meio a uma demanda reprimida, de alta de preços e queda no consumo. Quem explica este cenário é Másimo Della Justina, economista pela London School of Economics (LSE) e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Paraná.

Analisando o estudo do Banco Mundial sobre consumo domiciliar em 2005, divulgado ontem, o que se vê são preços mais baixos nos itens café e restaurantes no Brasil. "É resultado do que a natureza oferece ao país, uma vez que produzimos mais café e alimentos do que os vizinhos", diz Másimo. Mas o consumo domiciliar no Brasil se apresenta praticamente 10% abaixo da média da região. "No caso chileno, temos crescimento de renda e produção que atende à demanda interna, mantendo o padrão de consumo."

O que os dois países têm em comum? Preços subindo e a demanda crescente. "Mas como o PIB chileno cresce mais rápido do que o brasileiro, o consumo segue em alta no Chile, situação diferente da nossa." Másimo considera que de nada adianta as políticas de distribuição de renda se os preços seguem subindo.

O objetivo do Banco Mundial com este estudo é comparar os níveis de preços por regiões, diz Hugo Eduardo Meza Pinto, especialista em macroeconomia do Centro Universitário Positivo (Unicenp). Os dados sobre a Argentina são de 2005 e já podem ter mudado este ano por conta da alta de inflação no país.

"Apesar de o Brasil ter um dos maiores PIB per capita da região, isso não reflete na renda da população. Ou seja, o consumo doméstico é baixo. Por isso, o Brasil está em 6.º lugar no ranking de consumo", diz Meza Pinto.

Na Argentina, a renda teve uma melhora significativa nos últimos quatro anos de recuperação econômica, mas no bojo da inflação, aponta. O alto consumo explica também os menores preços na Argentina no caso da indústria editorial. "É uma questão de mercado e demanda interna, já que os argentinos lêem bastante."

Paraguai e Bolívia ocupam as últimas posições por conta de problemas políticos e econômicos que têm enfrentado. "Nos últimos dez anos, a renda não mudou muito nos países mais estagnados. Não houve crescimento regional significativo para melhorar o padrão de consumo."

Para Reinaldo Gonçalves, especialista em economia internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o estudo mostra o grau de subdesenvolvimento do Brasil e sua fragilidade institucional para evitar práticas abusivas de preços. "O que não ocorre em países com institucionalidade mais robusta como Argentina, Uruguai e Chile." Isso fica explícito, diz Gonçalves, ao se comparar os custos no setor de saúde no Brasil que são duas vezes maiores em relação a Argentina, a educação 3 vezes mais e a energia elétrica 2,5 vezes mais cara do que no vizinho.

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