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Ollanta Humala, presidente recém-eleito do Peru, veio ao Brasil e visitou Lula | Nelson Almeida/AFP
Ollanta Humala, presidente recém-eleito do Peru, veio ao Brasil e visitou Lula| Foto: Nelson Almeida/AFP

Poucos dias depois de ser eleito presidente do Peru, Ollanta Hu­­mala viajou ao Brasil para aprender mais a respeito do sucesso do país na última década, e também para visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que inspirou o próprio Humala em sua trajetória da esquerda radical para o centro do espectro político.

A vitória eleitoral de Humala foi mais um sinal da propagação internacional da receita adotada por Lula, que mistura políticas de mercado e programas sociais, e que é vista como responsável por transformar o Brasil em uma potência econômica. É o chamado Consenso de Brasília, ou simplesmente lulismo.

O ex-sindicalista estabeleceu uma invejável fórmula eleitoral ao conseguir avanços no combate à pobreza sem desagradar os banqueiros de Wall Street, e elevando o Brasil e seu grande mercado à mesma estatura de potências emergentes como China e Índia.

Em 2009, o esquerdista Mau­­ricio Funes conquistou a presidência de El Salvador ao convencer suficientes eleitores de classe média de que ele se inspirava mais em Lula do que no venezuelano Hugo Chávez. Na América do Sul, vários líderes trilharam o caminho do lulismo. O caso mais notável é o de José "Pepe" Mujica, ex-guerrilheiro eleito em 2009 para a Presidência do Uruguai.

Hoje em dia, citar Lula como modelo é uma manobra política inteligente para qualquer candidato esquerdista latino-americano desejoso de afastar uma imagem de radical junto ao eleitorado. Mas copiar a fórmula lulista pode ser mais fácil na teoria do que na prática. Os dois mandatos de Lula foram construídos com base em uma transição do PT até o centro do espectro político, de um "boom" no preço global das commodities e do carisma pessoal do próprio Lula.

Lulismo ou chavismo?

Há uma clara e tradicional divisão entre o chavismo, com seu estilo radical, e o lulismo, mais moderado. E, ultimamente, este vem se sobrepondo àquele. Nos países chavistas, a economia tem enfrentado dificuldades. A Vene­­zuela tem sido incapaz de domar sua inflação e seu crescimento econômico é oscilante. Chávez também vem perdendo o apoio entre cidadãos comuns da Amé­­rica Latina nos últimos anos por causa de políticas agressivas, segundo Yehude Simon, um ex-esquerdista que atuou como primeiro-ministro no governo do conservador Alan García, atual presidente do Peru.

No Peru, Humala aproveitou-se repetidamente de táticas eleitorais de Lula, chegando inclusive a contratar dois experientes quadros do PT – Luis Favre e Valdemir Garreta – para ajudar na sua campanha. Eles aconselharam Humala – derrotado por uma estreita margem na eleição de 2006 – a apresentar uma "carta ao povo peruano" em que se comprometia a combater a inflação e manter o equilíbrio fiscal. Foi a mesma coisa que Lula fizera em 2002 na sua "Carta ao Povo Brasileiro".

Influência chinesa

O futuro presidente peruano propôs taxar os lucros das grandes mi­­neradoras para financiar um fundo que ajude os po­­bres, que são um terço da população. Críticos di­­zem, no entanto, que esse modelo só irá funcionar en­­quanto o pre­­ço das matérias-primas continuar elevado. E, afinal de contas, pode ser a China comunista – já a principal parceira co­­mercial do Brasil, e segunda maior do Peru – que irá determinar o sucesso do lulismo dentro e fora do Brasil. "Se a economia da China so­­frer uma desaceleração, será um problema para Hu­­mala", disse Si­­mon. "Grande parte da América La­­tina depende dela."

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