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Manifestante acorrenta os punhos como uma forma de crítica aos desmandos do presidente Mohamed Mursi, ex-membro da Irmandade Muçulmana, em protesto na Praça Tahrir | Asmaa Waguih/Reuters
Manifestante acorrenta os punhos como uma forma de crítica aos desmandos do presidente Mohamed Mursi, ex-membro da Irmandade Muçulmana, em protesto na Praça Tahrir| Foto: Asmaa Waguih/Reuters

Entenda

Na semana passada, Mursi concedeu a si mesmo poderes quase autocráticos.

Explicação

O presidente egípcio alega que a manobra é necessária para proteger a revolução feita no ano passado, pelo menos até que uma nova constituição seja adotada e que as eleições parlamentares sejam realizadas, o que pode acontecer somente em meados de 2013. A oposição, no entanto, afirma que a manobra neutraliza o Judiciário em um momento em que Mursi já tem poderes executivos e legislativos.

Ligações

Diversas autoridades norte-americanas afirmaram que as ações de Mursi podem não ser tão perigosas quanto parecem, ao citarem as ligações do Judiciário ao governo deposto de Mubarak e seu papel na dissolução do primeiro parlamento eleito livremente no início deste ano.

Constrangimento

O momento escolhido por Mursi colocou a Casa Branca em uma posição constrangedora, já que os decretos foram emitidos no dia seguinte aos elogios de Obama sobre a atuação do egípcio nos conflitos entre Israel e Hamas.

  • Manifestação no Cairo contra Mursi, na última sexta-feira

Os Estados Unidos já passaram por situação semelhante à atual, ou seja, a de elogiar um líder egípcio por comandar os esforços de paz entre Israel e militantes palestinos ao mesmo tempo em que expressa preocupação pelo compromisso com a democracia. Com opções limitadas, no entanto, a administração de Barack Obama está mantendo sua fé no presidente do Egito, Mohamed Mursi.

Nos últimos dias de conflito no Oriente Médio, Mursi emergiu como o principal parceiro dos EUA no trabalho pela paz entre o Estado judeu e os líderes do Hamas na Faixa de Gaza, assumindo um papel de liderança deixado vago desde que o ex-presidente egípcio Hosni Mubarak deixou o cargo há quase dois anos.

Após receber elogios dos EUA e do restante do mundo, Mursi quase que imediatamente resolveu aumentar o seu poder interno. Seus decretos são um lembrete de que os EUA não podem ter certeza sobre como será o relacionamento com o mais populoso dentre os países árabes, que vem de décadas de autocracia. O Egito caminha para um governo mais democrático, mas menos favorável aos EUA do que os anteriores.

Por enquanto, os EUA pretendem separar as manobras políticas de Mursi do seu papel como mediador no Oriente Médio, assim como fez com Mubarak. "Acreditamos que isso precisa ser resolvido internamente como parte de uma transição para a democracia", disse o assessor de imprensa Jay Carney, da Casa Branca, sobre o decreto emitido por Mursi que praticamente o coloca fora do alcance do Judiciário do Egito.

Os Estados Unidos esperavam criar uma aliança mais sustentável com o Egito após a saída de Mubarak, em fevereiro de 2011. Para chegar a isso, tiveram de negociar com uma liderança militar relutante em entregar o poder aos islâmicos eleitos popularmente. Agora, os EUA tentam persuadir Mursi, um ex-membro da Irmandade Muçulmana, a resolver disputas com seus oponentes por meio de negociações.

Pressão

O governo norte-americano, no entanto, não sabe o quanto pressionar, dado o pequeno mas tangível progresso democrático feito por Mursi. "Sempre que você precisar de um país com capacidade de liderança para questões externas, o procedimento é maneirar nas críticas à situação doméstica desse país", disse Andrew Tabler, autoridade do Instituto de Washington para Política no Oriente Médio. "É uma corda bamba de política externa na qual a administração de Obama terá de aprender a andar."

A reação dos EUA é acompanhada de perto internacionalmente, devido ao seu histórico de leves críticas aos abusos de Mubarak contra os direitos humanos no Egito, enquanto o ex-ditador ajudou o governo com força militar no valor de deze­­­nas de bilhões de dólares.

RelaçãoEUA alertam contra julgamento precipitado do presidente egípcio

Autoridades do governo norte-americano insistem que as manobras políticas de Mohamed Mursi não afetaram sua imagem nos EUA. Eles enfatizaram o apoio consistente do presidente egípcio aos acordos de Camp David com Israel, obtidos em 1979, e que continuam fortemente impopulares no Egito. Elas afirmaram também, sob condição de anonimato, que Mursi reforçou, em suas discussões com líderes norte-americanos, que ele quer se concentrar na incerta economia egípcia.

Joel Rubin, ex-autoridade do departamento de Estado que trabalhava com questões do Oriente Médio, alertou contra o julgamento precipitado de Mursi. "A verdadeira estratégia de nosso relacionamento com o Egito é baseada nas relações de segurança com Israel. E, até agora, isso foi mantido", disse.

Não é claro o que os EUA poderiam fazer além de pressionar para que Mursi avance democraticamente, o que ele ainda pode ter a intenção de fazer. Os norte-americanos toleram parceiros imperfeitos como o Afeganistão ou países na África, desde que eles sirvam aos interesses dos EUA. Além disso, a localização do Egito entre a África e a Península Arábica aumenta a sua influência. O país tem sido, há tempos, um apoiador dos esforços dos EUA em conter o avanço do Irã no mundo árabe e em combater grupos extremistas como a Al-Qaeda.

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