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Laurent Fabius (à dir.) recebe o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, para explicações sobre a suposta espionagem cometida pelos norte-americanos contra os franceses | Reuters/Philippe Wojazer
Laurent Fabius (à dir.) recebe o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, para explicações sobre a suposta espionagem cometida pelos norte-americanos contra os franceses| Foto: Reuters/Philippe Wojazer

Além de espionar ligações telefônicas e mensagens de cidadãos da França, a Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, na sigla em inglês) monitorou a embaixada francesa, informou o jornal Le Monde nesta terça-feira (22). Documentos vazados pelo ex-técnico da CIA Edward Snowden mostram que o governo americano vigiou a missão diplomática francesa na ONU, em Nova York e em Washington, de acordo com o diário.

O jornal cita um memorando de duas páginas datado de 10 de setembro de 2010. O documento, classificado de top secret, revela indícios da existência do programa Genie, que prevê a instalação de programas spyware, à distância, para acessar dados de computadores em todo o mundo. A nota menciona o monitoramento da Embaixada da França em Washington, que aparece sob o código "Wabash", e também da representação francesa na ONU, com a nomenclatura de "Blackfoot".

Segundo o Le Monde, um dos documentos mostra que as informações confidenciais monitoradas de embaixadas estrangeiras, incluindo da França, desempenharam papel importante na votação de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, em 9 de junho de 2010, que impunha novas sanções ao Irã pelo não cumprimento de regras sobre seu programa nuclear.

A resolução foi fortemente defendida por Washington, que temia a oposição de países emergentes. Rússia e China apoiaram o texto da ONU, enquanto Brasil e Turquia foram contra, argumentando que ofereceriam em conjunto com Teerã uma alternativa às sanções. Líbano, cujo governo incluiu membros do grupo militante Hezbollah, apoiado pelo Irã, preferiu se abster.

Para tentar entender as motivações da NSA, o jornal cita o momento em que a França poderia ter sido alvo de preocupação dos Estados Unidos, depois de anunciar em 18 de maio de 2010 apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por seus esforços em favor de um acordo com o Irã. O Le Monde pondera, no entanto, que as declarações franceses pareciam motivadas especialmente por acordos comerciais entre os dois países relacionados à venda de caças.

De acordo com o Washington Post, o programa Genie controlaria, à distância , até o final de 2013, 85 mil spywares em computadores de todo o mundo. Parte das técnicas desenvolvidas pela NSA são conhecidas, mas como todos os principais serviços de inteligência do mundo, a agência americana também cria as suas próprias ferramentas que não existem em outros lugares, diz o Le Monde.

As alegações de que a NSA coletou milhões de registros telefônicos de franceses em apenas um mês - de dezembro de 2012 a janeiro de 2013 - fizeram com o que o próprio presidente americano, Barack Obama, ligasse na segunda-feira para seu homólogo François Holande. A Casa Branca garantiu que os EUA começaram a rever os processos de Inteligência para "equilibrar preocupações legítimas de segurança e preocupações de privacidade comuns a todos".

A nova denúncia desta terça-feira pode gerar ainda mais mal-estar entre os dois países, no momento em que o secretário de Estado americano, John Kerry, chega a Paris para o início de uma viagem pela Europa para discutir o conflito sírio.

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