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 | Glenn Greenwald/Guardian
| Foto: Glenn Greenwald/Guardian

O "big brother" de Obama

Espionagem do governo dos EUA vai de empresas telefônicas a ataques cibernéticos.

Ligações

No dia 5, o jornal Guardian publicou uma ordem do Tribunal de Vigilância e Inteligência Externa que exigia que a empresa de telefonia Verizon entregasse à Agência Nacional de Segurança (NSA) os registros de ligações de milhões de clientes.

Internet

No dia seguinte, o Guardian e o Washington Post revelaram a existência do programa secreto de vigilância Prism, que autorizava a NSA e o FBI a acessarem os servidores das nove maiores empresas de internet dos EUA, entre elas Microsoft, Google, Facebook e Apple. Com essa prática, instaurada em 2008, o governo poderia reunir arquivos, chats, áudios, vídeos, e-mails e fotografias de usuários.

Ciberataques

Em 7 de junho, os dois jornais revelaram uma diretriz da Casa Branca pela qual Obama ordenara às agências de inteligência estabelecer uma lista de países que poderiam ser alvos de ataques cibernéticos americanos. Segundo o Washington Post, os EUA tinham começado a colaborar com países vizinhos do Irã diante da ameaça que a nação representaria para a segurança informática americana.

Catálogo

No último sábado, o Guardian informou sobre a existência de outro programa que permite à NSA recopilar dados em função da origem da informação. A prática seria dirigida à ciberespionagem no exterior.

Pressão europeia

Chanceler da Alemanha pedirá esclarecimentos a Barack Obama

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, vai pedir esclarecimentos ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sobre o recém-revelado programa norte-americano de espionagem eletrônica dedicado a, entre outras coisas, coletar dados de estrangeiros engajados em atividades "suspeitas".

Em Bruxelas, autoridades da União Europeia (UE) manifestaram ontem a intenção de aproveitar uma reunião ministerial transatlântica prevista para começar na quinta-feira em Dublin para questionar seus homólogos norte-americanos sobre o impacto do programa Prism sobre a privacidade de cidadãos europeus.

O porta-voz de Merkel, Steffen Seibert, disse a jornalistas ontem que Merkel questionará Obama sobre a atuação da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, na sigla em inglês) quando o norte-americano visitar Berlim na semana que vem.

O escândalo de espionagem tem potencial para atrapalhar uma reunião de cúpula prevista para o dia 18 e por meio da qual os dois líderes pretendem reafirmar os fortes laços entre EUA e Alemanha. Será a primeira visita oficial de Obama a Berlim desde sua chegada à Casa Branca.

Obama tem saído em defesa dos programas secretos de espionagem que recentemente vieram a público como "necessários para defender os EUA do terrorismo".

Os comentários de Obama, no entanto, pouco serviram para aplacar as preocupações da Alemanha e de outros países europeus que rotineiramente recorrem aos serviços de tráfego de voz e dados de sites baseados nos EUA.

As leis europeias de privacidade são mais avançadas que as dos EUA e seus cidadãos costumam defender esse direito com muito mais vigor.

O Ministério de Interior da Alemanha já está em contato com autoridades norte-americanas para determinar se a espionagem infringiu a privacidade de cidadãos alemães.

Em Londres, o secretário de Exterior do Reino Unido, William Hague, negou que o governo britânico teria usado informações fornecidas pelos norte-americanos para contornar as leis britânicas.

Agência Estado

As agências de investigação e inteligência dos Estados Unidos deflagraram ontem uma caçada ao ex-técnico da CIA Edward Snowden, de 29 anos. Como funcionário terceirizado de uma das principais firmas prestadoras de serviços ao Pentágono, ele é o responsável confesso pela exposição de dois programas ultrassecretos de monitoramento e coleta em massa de dados telefônicos e eletrônicos pelo governo americano.

Enquanto o presidente Barack Obama e sua equipe optavam pelo silêncio, segundo informações extraoficiais, o FBI (a polícia federal) fazia operações de busca na casa e no computador de Snowden, no Havaí, e entrevistas com sua namorada, mãe, pai e madrasta em três estados.

A CIA, agência central de inteligência, tentava determinar a localização do ex-funcionário, cujo último paradeiro conhecido é Hong Kong. Snowden deixou os EUA no dia 20 de maio e estava hospedado no Mira Hotel, na região central de Hong Kong, até a manhã de ontem, e não se tem conhecimento do seu destino desde então.

Para levá-lo à Justiça — uma investigação criminal já foi aberta domingo —, o governo americano precisa trazê-lo de volta ao país. E, por isso, começou a pressão de alas políticas por extraditá-lo.

O ex-técnico tanto pode pedir asilo a Hong Kong — com o qual os EUA mantêm um tratado de extradição, o que seria arriscado para ele — como a outro país.

O republicano Peter King, presidente do subcomitê de Segurança Interna da Câmara, pediu urgência ao governo nas medidas para garantir a extradição de Snowden.

Mas, no próprio partido, houve vozes dissidentes. Líder libertário, o ex-candidato a presidente nas primárias de 2012 Ron Paul defendeu que os alvos da ira norte-americana devem ser o governo e seu programa de espionagem dos cidadãos.

"Devemos estar agradecidos a indivíduos como Snowden, que vê injustiça conduzida por seu próprio governo e vem a público, a despeito dos riscos", disse Paul.

As declarações mostram como os EUA amanheceram divididos sobre Snowden. Ativistas de direitos civis o consideram um herói, enquanto atuais e ex-agentes das forças de segurança o tratam como traidor.

A estratégia para buscar Snowden no exterior envolve tanto as delicadas relações com a China quanto com nações aliadas.

Empresas voltam a negar colaboração em programa

Apesar de o jornal The New York Times ter revelado, no último fim de semana, que as empresas de internet negociaram com o governo americano formas de acesso a dados de seus usuários, as companhias voltaram a negar que tenham participado de um programa de vigilância.

Procuradas ontem para comentar a informação do jornal, as empresas disseram que não disponibilizaram ao governo dos Estados Unidos acesso direito a seus servidores. Também não informam se usuários do Brasil, um de seus principais mercados, foram monitorados.

Reportagem do NYT informou que Facebook e Google chegaram a discutir a criação de um portal onde o governo poderia solicitar informações sigilosas, e as empresas os forneceriam. O Twitter teria sido a única companhia a se recusar a colaborar.

Em nota, o Facebook no Brasil afirmou "só fornece informações na medida exigida pela lei".

Para fundador do WikiLeaks, Snowden é herói

Folhapress

O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, disse ontem que Edward Snowden é um herói que expôs um dos casos mais sérios da década.

Segundo Assange, Snowden está agora em uma "posição muito séria". Para o fundador do WikiLeaks, a mesma retórica que foi aplicada contra ele e contra Bradley Manning – soldado americano julgado pelo vazamento de milhares de documentos secretos ao WikiLeaks – será usada contra o Snowden.

Manning começou a ser julgado no dia 3 deste mês. Entre as 22 acusações que enfrenta, a mais grave é de "conluio com o inimigo" por ter transferido ao WikiLeaks informações confidenciais sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão e mais de 250 mil documentos do Departamento de Estado.

Assange, que vive há quase um ano na embaixada do Equador no Reino Unido, afirmou ainda que está em contato com o "pessoal de Snowden", mas se recusou a dar mais detalhes.

Ele descreveu Manning e Snowden como homens "sérios que acreditam em algo e demonstraram grande coragem".

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